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09 de Maio de 2008 às 13:59

“Este país não é para novos” (1)

Eu até digo, se fosse jovem com espírito de risco, abalava por aí fora, só para escapar aos miasmas. Agora, com a idade que tenho e conformista bem instalado, resta-me comprar uns terrenos na Andaluzia, junto à fronteira, pois, quando o País afundar (mesm

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Alguém julga que, como estão as coisas, vamos a algum lado?

Eu até digo, se fosse jovem com espírito de risco, abalava por aí fora, só para escapar aos miasmas. Agora, com a idade que tenho e conformista bem instalado, resta-me comprar uns terrenos na Andaluzia, junto à fronteira, pois, quando o País afundar (mesmo sem aquecimento global), ganho uma bela propriedade ultravalorizada com vista para o mar (“copyright”: Lex Luthor, em Super-Homem 1).

O País está formatado à esquerda e isso é como amarrar uma pedra na perna do nadador: pode não se afogar, mas não avança.

Noutros tempos e lugares, ao contrário, impõe-se um receita de esquerda, quando oligarquias possidentes ofendem o sentido de decência e atrasam o progresso económico e social, na obstrução ao aparecimento de classes médias. Então, até um mau governo, como o de Lula, preservando pragmaticamente a fluidez dos mecanismos económicos, se torna benfazejo.

Cá, os mecanismos da mudança estão atolados no pântano do estatismo e emperrados em esquemas intelectuais de matriz esquerdista, com a comunicação social, em geral, como arauto (muitas vezes inconsciente, creio). Em algum país do mundo desenvolvido se conceberia a uma notícia de Telejornal, focando o falecimento de um qualquer nefelibata, completamente desconhecido, cujo feito consistiu em ter sido o fundador do primeiro partido marxista-leninista em Portugal, lá pelos anos 20, depois de abandonar o PC? Senti-me, por um instante, na Coreia do Norte, ouvindo hinos ao Querido Líder, como música de fundo. E não há “cromos” de esquerda, bombos de festa são só Jardim, Santana, Menezes, etc.?

Cá, o Estado é obsessivo, não directamente, como se fora a saudosa URSS, mas porque controla, condiciona e torna dependentes as pessoas, as empresas e as instituições. Pode tanto ser a dança dos gestores públicos, erigidos em classe social predominante; como a Mota-Engil precisar de Jorge Coelho para CEO ( não consultor ou administrador não executivo); ou temer-se, numa OPA, que o Estado desencadeie poderes de uma “golden share” ou ponha a CGD a votar de uma certa forma; ou, ainda, observar suplicantes accionistas do maior banco privado a olhar para os “Varas” como saídas para a crise.

Cá, o desenvolvimento é com betão estatista, com a zona de Lisboa, capital de um país pobre e periférico, a deter a maior rede de auto-estradas da União Europeia, “per capita”; com as famosas SCUT, que, sem qualquer demonstração, é suposto pôr pessoas a ir para o interior (porque não antes facilitar a saída? Tudo o que dá para entrar dá para sair). Mas vamos melhorar com o “fantabuloso” TGV – quero dizer na quantidade de despesa, modelo estádio de futebol, porque no socialismo os recursos nunca são escassos, alguém há-de pagar.

Cá, a Constituição é a mesma que até há pouco tempo determinava que Portugal era “uma república rumo ao socialismo”, (o resto do texto o que há-de reflectir?). Daqui pode-se esperar obstrução ou incentivo para os tempos competitivos e globalizantes em que vivemos, com crescimentos globais médios de 5% ao ano para os míseros 2% de Portugal? Não foi a China que meteu o socialismo na gaveta e abraçou o capitalismo (eufemisticamente chamada “socialismo de mercado”) e passou a crescer 10 % ao ano?

Cá, o espírito que emana para a juventude é procurar a protecção, não a ousadia, como aquele miúdo de escola que, perguntado, respondeu que “quando fosse grande queria ser funcionário público reformado”. Como não? São eles afinal que pagam a reforma da geração acima e aguentam a precariedade, para que a economia ainda fique minimamente competitiva, apesar dos famosos “direitos adquiridos”, de protecção constitucional.

Cá, a palavra “liberalismo “, usada com voz de assustar criancinhas por Jerónimo de Sousa (2), mas com idêntico ar apocalíptico pelo esquerda moderada, ganhou foros de pandemia a evitar.

Porém, o País necessita de uma urgente injecção de tal produto, não para implantar um sistema assim delineado, pelo menos tão cedo (como seria possível, num país onde não há liberais?), mas para erradicar o abraço asfixiante do socialismo estatista que não permite que o relvado se torne verde.

Isto não é em nome de ideologia ou convicções pessoais, antes por mero pragmatismo de quem olha para a História e para a evidência empírica: terão passado completamente despercebidos as lições dos anos 90, com a receita liberal aplicada a pequenos países que se tornaram gigantes do crescimento e do progresso, como Irlanda, Nova Zelândia, Chile, estados Bálticos, Eslovénia, Eslováquia, sem incompatibilidade com o estado social, como o demonstram a Finlândia, o Canadá e a Dinamarca?

Pelo contrário, onde medra (3) o estatismo qual é o resultado?

(1) Para efeitos deste filme, o papel de Javier Bar-dem vai para o ministro Santos Silva, só que não ganha o Óscar.
(2) Em qualquer outro sítio, se um PC ortodoxo, que gosta de Cuba e da Coreia do Norte, diz que uma política é má, então é porque é boa, não?
(3) Não há gralha, apesar da tentação.

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