Ao contrário do que pretenderia, o sr. Bettencourt não se transformou no sensato dr. Watson do Sporting. O romantismo não vence jogos e, muito menos, conquista campeonatos. O sr, Bettencourt também não é o sr. Sherlock Holmes de Alvalade. Nem utiliza a lógica dedutiva nem é auxiliado pelo método científico que ajudavam o célebre detective britânico.

O sr. Bettencourt conseguiu, ao fim de alguns meses, desbaratar o capital político e técnico que o levaram aos ombros até à presidência leonina. Ao primeiro revés, deixou-se levar pela emoção e permitiu a queda do departamento de futebol e do treinador a quem jurara fidelidade. O sr. Bettencourt entrou aos pulos ao lado dos jogadores, prometendo entrega e energia sem limites. Os resultados desportivos mostraram que a sua presidência está a caminhar ao pé-coxinho. Acontece a todos, só que o Sporting não é um clube qualquer.

Ferido, o sr. Bettencourt pediu amparo aos deuses do crédito. Foi assim que, de um momento para o outro, surgiram 15 milhões de euros para reforços. Não é muito nem pouco: é o suficiente para o sr. Bettencourt não ser guilhotinado antes do fim do campeonato. Este ano o Sporting não luta pelo título: passeia, diletantemente, longe dele. E, claro, sem reforços não há equipa que saia da letargia que nem o sr. Carvalhal consegue animar. E por isso o sr. Bettencourt, com o sr. Sá Pinto que tem o patético cargo de chefe do futebol que não manda nada, foi, como se diz, ao mercado. Gastou três milhões no raçudo sr. João Pereira. Gastou cerca de cinco milhões na incógnita que é o sr. Sinama-Pongolle. Contratou o sr. Mexer. Resta-lhe ainda uns sete milhões para torrar. Se o sr. Ruben Micael ficar pelos cinco milhões (e ele pode ser o reforço que o Sporting precisa), ainda sobram uns dois milhões para uns fogachos criativos.

O sr. Bettencout está dependente destes 15 milhões de reforços como um náufrago está da sua bóia. Sabe que os tubarões o cercam cada vez mais perto. Mas, claro, contribuiu decisivamente para isso ao alienar os amigos que tinha no departamento de futebol em troca de incógnitas. O futebol poderá ser o General Inverno do sr. Bettencourt.

Não é difícil perceber porquê: dificilmente o Sporting ganhará o campeonato. E, face a isso, o sr. Bettencourt só pode esperar ficar nos quatro primeiros. Senão o seu primeiro ano de mandato terá um fim tão glorioso como o da famosa carga da brigada ligeira. O desânimo está instalado em Alvalade. Os reforços poderão ser uma descarga eléctrica positiva. No fim se verá quem ficará electrocutado. Afinal, na sombra, o sr. Rogério Alves espera a sua vez.