Opinião
Dólar continuará a valorizar em 2017, em especial face ao Euro
O dólar está no nível mais elevado em 14 anos e esperamos que continue a valorizar face aos principais pares, e em particular face ao euro.
Se os mercados falassem, diriam que 2016 foi um ano cheio de grandes "surpresas". O que lhes reserva 2017?
O ano de 2016 foi um ano repleto de surpresas políticas e económicas. Os mercados financeiros receberam o primeiro grande impacto com o resultado inesperado do referendo no Reino Unido, em junho, quando os cidadãos britânicos votaram a favor da saída da União Europeia, o que causou a depreciação mais acentuada da libra face ao dólar desde 1985, muito embora aquela moeda tenha vindo a estabilizar nos últimos meses. Estamos em crer que os mercados estão a descontar o pior cenário possível para as negociações sobre o "Brexit", pelo que será lógico esperar uma ligeira recuperação da Libra, sobretudo tendo em conta que o risco de um "hard Brexit" vai diminuindo com o tempo.
Apenas cinco meses depois da realização do referendo no Reino Unido, o republicano Donald Trump surpreendia tanto a democrata Hillary Clinton como as sondagens, ao ganhar a corrida eleitoral à Casa Branca. A vitória de Trump foi, uma vez mais, um resultado inesperado para os mercados, que reagiram imediatamente com perdas tanto para o Dólar como para os ativos de risco. No entanto, poucas horas depois, o dólar conseguiu inverter e tem mantido uma tendência crescente desde então, recuperando face a quase todas as principais moedas.
Sem dúvida que aquilo que tem dado força ao dólar são as expectativas dos investidores quanto à possível aplicação de determinadas políticas pela Administração de Trump, como o aumento da despesa pública e a redução de impostos nos Estados Unidos, a que se junta a subida das taxas de juro pela Reserva Federal durante 2017.
Em relação ao cabaz de moedas ponderado pelos seus parceiros comerciais, o dólar norte-americano está a cotar no seu nível mais elevado dos últimos 14 anos e esperamos que continue a valorizar face aos seus principais pares, em particular face ao euro. Esta perspetiva é reforçada pela divergência entre as políticas monetárias dos dois principais bancos centrais do mundo - a Reserva Federal nos EUA e o Banco Central Europeu (BCE) na Zona Euro. O BCE intensificou os esforços no sentido de impulsionar o crescimento e a inflação. Em dezembro, antes de terminar o ano, reviu o programa de estímulos monetários, prolongando o prazo de compra de ativos até dezembro de 2017, em vez de março que era a data de termo prevista. Esta extensão do prazo foi maior do que o mercado tinha descontado inicialmente.
As declarações do Presidente Mario Draghi, a seguir à última reunião de 2016, assumiram um tom pessimista e serviram para recalibrar o mercado cambial. Desde então, a moeda única caiu para o seu nível mais baixo face ao Dólar desde 2002. O prolongamento do programa é mau sinal para a evolução do Euro no próximo ano e, assim sendo, esperamos que a paridade com o Dólar seja atingida durante o primeiro trimestre de 2017.
Na posição oposta, a Reserva Federal aumentou a taxa de juro de referência nos Estados Unidos, em dezembro, pela segunda vez desde a crise financeira. A subida decidida pela Fed foi de 25 pontos base, de 0,5% para 0,75%, depois de ter mantido a taxa inalterada durante um ano inteiro.
O gráfico "dot plot" do Comité FOMC, que representa as expectativas de futuros aumentos das taxas dos vários membros do Comité, divulgado após a subida das taxas em dezembro de 2015, projetava duas subidas de taxas para 2017; todavia, com a segunda e última subida em dezembro de 2016, as expectativas foram revistas em alta para uma média de três subidas esperadas em 2017. A posição atual da Fed, relativamente mais agressiva do que em ocasiões anteriores, obriga-nos a manter a previsão de uma apreciação continuada do dólar norte-americano face aos seus principais pares, de maneira gradual, à medida que a Fed aumenta as taxas de juro nos Estados Unidos ao longo de 2017.
Quanto às moedas dos mercados emergentes, podemos dizer que 2016 foi um ano relativamente positivo, salvo algumas exceções de relevo. As designadas moedas exóticas beneficiaram do impulso dado pela subida dos preços das matérias primas registada desde o início do ano, com especial destaque para o aumento do preço do petróleo. Mesmo após a forte depreciação sofrida em reação à vitória de Trump nos Estados Unidos, a maior parte destas moedas parece destinada a terminar o ano a ganhar face ao dólar.
Na frente política, a Itália votou de forma categórica contra as reformas constitucionais propostas no referendo realizado em dezembro. Consideramos que a eleição de Trump e o voto a favor do "Brexit" aumentaram as probabilidades de os partidos populistas poderem ascender ao poder na Europa durante o próximo ano, cujo calendário inclui uma série de eleições gerais e presidenciais importantes. Em 2017, França, Alemanha, Países Baixos e, possivelmente, Itália vão às urnas. Cada um destes acontecimentos poderá criar ambientes de incerteza e de volatilidade semelhantes aos vividos em 2016.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.
O ano de 2016 foi um ano repleto de surpresas políticas e económicas. Os mercados financeiros receberam o primeiro grande impacto com o resultado inesperado do referendo no Reino Unido, em junho, quando os cidadãos britânicos votaram a favor da saída da União Europeia, o que causou a depreciação mais acentuada da libra face ao dólar desde 1985, muito embora aquela moeda tenha vindo a estabilizar nos últimos meses. Estamos em crer que os mercados estão a descontar o pior cenário possível para as negociações sobre o "Brexit", pelo que será lógico esperar uma ligeira recuperação da Libra, sobretudo tendo em conta que o risco de um "hard Brexit" vai diminuindo com o tempo.
Sem dúvida que aquilo que tem dado força ao dólar são as expectativas dos investidores quanto à possível aplicação de determinadas políticas pela Administração de Trump, como o aumento da despesa pública e a redução de impostos nos Estados Unidos, a que se junta a subida das taxas de juro pela Reserva Federal durante 2017.
Em relação ao cabaz de moedas ponderado pelos seus parceiros comerciais, o dólar norte-americano está a cotar no seu nível mais elevado dos últimos 14 anos e esperamos que continue a valorizar face aos seus principais pares, em particular face ao euro. Esta perspetiva é reforçada pela divergência entre as políticas monetárias dos dois principais bancos centrais do mundo - a Reserva Federal nos EUA e o Banco Central Europeu (BCE) na Zona Euro. O BCE intensificou os esforços no sentido de impulsionar o crescimento e a inflação. Em dezembro, antes de terminar o ano, reviu o programa de estímulos monetários, prolongando o prazo de compra de ativos até dezembro de 2017, em vez de março que era a data de termo prevista. Esta extensão do prazo foi maior do que o mercado tinha descontado inicialmente.
As declarações do Presidente Mario Draghi, a seguir à última reunião de 2016, assumiram um tom pessimista e serviram para recalibrar o mercado cambial. Desde então, a moeda única caiu para o seu nível mais baixo face ao Dólar desde 2002. O prolongamento do programa é mau sinal para a evolução do Euro no próximo ano e, assim sendo, esperamos que a paridade com o Dólar seja atingida durante o primeiro trimestre de 2017.
Na posição oposta, a Reserva Federal aumentou a taxa de juro de referência nos Estados Unidos, em dezembro, pela segunda vez desde a crise financeira. A subida decidida pela Fed foi de 25 pontos base, de 0,5% para 0,75%, depois de ter mantido a taxa inalterada durante um ano inteiro.
O gráfico "dot plot" do Comité FOMC, que representa as expectativas de futuros aumentos das taxas dos vários membros do Comité, divulgado após a subida das taxas em dezembro de 2015, projetava duas subidas de taxas para 2017; todavia, com a segunda e última subida em dezembro de 2016, as expectativas foram revistas em alta para uma média de três subidas esperadas em 2017. A posição atual da Fed, relativamente mais agressiva do que em ocasiões anteriores, obriga-nos a manter a previsão de uma apreciação continuada do dólar norte-americano face aos seus principais pares, de maneira gradual, à medida que a Fed aumenta as taxas de juro nos Estados Unidos ao longo de 2017.
Quanto às moedas dos mercados emergentes, podemos dizer que 2016 foi um ano relativamente positivo, salvo algumas exceções de relevo. As designadas moedas exóticas beneficiaram do impulso dado pela subida dos preços das matérias primas registada desde o início do ano, com especial destaque para o aumento do preço do petróleo. Mesmo após a forte depreciação sofrida em reação à vitória de Trump nos Estados Unidos, a maior parte destas moedas parece destinada a terminar o ano a ganhar face ao dólar.
Na frente política, a Itália votou de forma categórica contra as reformas constitucionais propostas no referendo realizado em dezembro. Consideramos que a eleição de Trump e o voto a favor do "Brexit" aumentaram as probabilidades de os partidos populistas poderem ascender ao poder na Europa durante o próximo ano, cujo calendário inclui uma série de eleições gerais e presidenciais importantes. Em 2017, França, Alemanha, Países Baixos e, possivelmente, Itália vão às urnas. Cada um destes acontecimentos poderá criar ambientes de incerteza e de volatilidade semelhantes aos vividos em 2016.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.