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08 de Agosto de 2006 às 13:59

Ditadores

Eu odeio Pinochet. Tenho-lhe verdadeiro horror e não aceito que comecem com um «mas» quando desfilam os progressos económicos do Chile durante a ditadura - e de que o povo chileno beneficia até hoje.

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Há um documentário sobre a estrada de ferro trans-siberiana, construída, basicamente, por presos políticos soviéticos, em que um sobrevivente daquele inferno gelado conta que aqueles homens, que, por imposição de Stalin, sofriam todas as privações que se possa imaginar, choraram - choraram! - quando, reunidos pela guarda, receberam a notícia da morte do ditador.

Guardadas as devidas proporções, algo de semelhante acontecerá quando for anunciada a morte de Fidel Castro. E não só em Cuba, onde a maioria da população nasceu quando Fidel já lá estava há muito tempo. Pelo mundo afora haverá uma legião de órfãos de Fidel - e com certeza alguns deles terão sofrido nas mãos do ditador. É impossível desvincular a imagem de Fidel Castro (ou a de Che Guevara, apesar de tudo o que se vem sabendo sobre a maneira como o médico argentino administrava o «paredon» cubano) do romantismo altruísta encarnado na revolução castrista.

Eu odeio Pinochet. Tenho-lhe verdadeiro horror e não aceito que comecem com um «mas» quando desfilam os progressos económicos do Chile durante a ditadura - e de que o povo chileno beneficia até hoje. Por que então aceitar o «mas» quando se refere aos avanços sociais de Fidel em Cuba - que se vão perdendo, um a um, enquanto a ditadura se arrasta?

A diferença fundamental talvez esteja nos fotógrafos. A iconografia da revolução cubana é um primor. A do Chile pinochetista, um horror.

PS: Algo de muito grave estará a acontecer quando ditaduras como a castrista ou a pinochetista parecem coisas perfeitamente banais, brincadeiras de criança, comparadas com o que se passa hoje pelo mundo. E parecem.

PPS: Ainda mais banal parece a minha preocupação com os carros estacionados em cima dos passeios de Oeiras. Mas não é.

PPPS: O cartoon aí de cima foi publicado na «New Yorker» e reproduzido no sergiodavila.blog.uol.com.br. É um avesso engraçadíssimo que não quis deixar de vos mostrar.

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