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Desejos para 2007

Portugal que tanto se queixa de lhe faltar um rumo ou grande projecto mobilizador e que tanto tempo perde em queixumes e polémicas irrelevantes, não se dá provavelmente conta de que o mundo vai mudando a cada ano que passa e que até esta "nossa" Europa já

Esta semana entraram dois novos países e outros mais estão na calha.

Apesar da genérica mediocridade da classe política, dos egoísmos e sabotagens, a Europa lá se vai consolidando como o espaço político, social, cultural e económico mais interessante do planeta. Um espaço múltiplo, nas línguas e culturas, onde se mantém, contra os sinistros ventos do zeitgeist, o primado da liberdade individual, do direito e da dignidade humana. Não é pouco como se sabe. E é motivo de orgulho.

Por isso gostaria que neste ano de 2007 os portugueses dessem mais importância à Europa. O discurso do Portugal à deriva, esta permanente lamúria da identidade perdida, estes constantes apelos nacionalistas à esquerda e à direita, só nos podem afastar ainda mais daquilo que é o nosso destino civilizacional. Fazer parte da Europa é o grande projecto político das nossas vidas e a única coisa que nos garante um futuro possível. Pensar o contrário é contribuir para o atraso e uma pura perda de tempo. E o tempo também aqui é muito precioso. Lá para os lados do Leste outros, mais pragmáticos, vão empurrando o centro europeu para mais longe, tal jangada geográfica e política que nos devia dar muito que pensar. Perdidos nas muito religiosas e obsoletas polémicas do aborto e noutras questões menores os portugueses vão ficando para trás na cena europeia. Por culpa própria, por falta de visão e lucidez, por excessiva auto-comiseração, por impotência.

Assim, no topo da lista dos meus desejos para o novo ano gostaria de ver os portugueses ganharem uma maior consciência do seu destino europeu. E tomarem efectiva posse da Europa, como coisa sua, quando até agora só a pensaram como indulgente tia rica.

Não menos importante para o futuro do país é compreender o papel decisivo da inovação neste mundo global. Temos, pela primeira vez na nossa história recente, um governo que aposta seriamente na inovação científica e tecnológica como motor das economias e das mentalidades. Nunca como hoje se investiram tantos recursos na inteligência e na vontade de realizar. Nunca se abriram tantas oportunidades para os mais ousados e criativos. Não é aliás um acaso que o recente Prémio Pessoa tenha sido, muito merecidamente, dado a um "novo empresário", António Câmara da Ydreams, que criou uma empresa extremamente inovadora e criativa, não só a nível da sua produção como na própria maneira, livre e mesmo bastante libertária, de funcionar. Portugal precisa, diria desesperadamente, de mais bons exemplos destes. E no fundo não é tão difícil assim.

Nunca é demais repetir que em matéria de inovação estamos todos no mesmo barco. Neste domínio são as ideias, e não os poderes materiais, que realmente contam. Hoje o professor do MIT e o jovem estudante de uma qualquer universidade portuguesa trabalham com as mesmas ferramentas e têm acesso à mesmo informação. Está toda na Internet. Incluindo os cursos desse mesmo professor do MIT.

Inovar é aliás a grande actividade reservada aos humanos no futuro. As máquinas logo tratarão de arrumar a casa e plantar as batatas.

Por isso gostaria que em 2007 os portugueses fossem mais exigentes nas suas capacidades e mais ousados nas suas realizações.

Por fim não se pode inovar sem cultura. E não só aquela cultura no sentido tradicional do termo, peças de teatro, exposições, literatura e cinema. Todas as expressões artísticas são importantes e desejáveis, mas a cultura é uma coisa muito mais vasta e complexa. Cultura é aquilo que nos destaca do nosso destino genético. É por excelência o fruto da inteligência humana, esse mundo artificial criado por em cima e tantas vezes contra o mundo natural de onde viemos. Cultura é a libertação do homem pelo homem.

Por isso gostaria de ver crescer entre nós uma verdadeira cultura do conhecimento, com maior destaque para as ideias, a racionalidade, a inteligência e menos atenção para as crenças, os misticismos, as ilusórias espiritualidades que só podem embrutecer as mentes e empestar a convivência social. Portugal preciso de dar um salto racionalista que só uma cultura do conhecimento pode garantir.

Mais Europa, mais inovação e mais cultura é o que desejo para os portugueses em 2007.

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