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09 de Janeiro de 2008 às 13:59

Depois de Hillary perder

Hillary Clinton perdeu o estatuto de candidata favorita à Casa Branca e resta-lhe agora tentar quebrar o ímpeto ganho por Barack Obama como o homem da mudança que galvaniza o voto de jovens e mulheres entre o eleitorado democrata, agregando, ainda, um cre

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Durante todo o ano de 2007 Hillary impôs-se nas sondagens como a predilecta dos eleitores democratas, apesar de Barack a igualar na angariação de fundos (cerca de 100 milhões de dólares), até a primeira derrota no caucus do Iowa abalar a marcha triunfal da senadora de Nova Iorque.

Um sinal muito significativo da viragem nas intenções de voto surgiu, posteriormente, nas sondagens de fim-de-semana entre os eleitores democratas de New Hampshire.

Os inquiridos que em Dezembro, antes da desfeita de 3 de Janeiro no Iowa, davam Hillary como a candidata melhor colocada para bater um republicano na eleição presidencial mudaram de opinião e passaram a considerar Barack como o democrata mais qualificado para conquistar a Casa Branca.

Duas derrotas e uma campanha acrimoniosa

Duas derrotas consecutivas não representam o fim das ambições de Hillary, mas obrigam-na a enveredar por uma campanha acrimoniosa, arriscada e eventualmente contraproducente, contra Barack.

Nas próximas primárias dos democratas com direito a eleição de delegados à Convenção Nacional de Agosto Hillary terá de ganhar em Nevada no dia 19 (presentemente a senadora vai à frente nas sondagens) e, uma semana depois, na Carolina do Sul, onde a parada é mais complexa dado o peso do eleitorado negro e a influência de John Edwards, nascido neste estado e antigo senador pela Carolina do Norte.

Contra ela, além das expectativas defraudadas e do ímpeto ganho por Barack, joga também a campanha populista de John Edwards – candidato à vice-presidência na falhada investida de John Kerry contra George W. Bush e Dick Cheney em 2004 – que, apesar de não ter hipóteses de conseguir a nomeação, vinca ainda mais a retórica de ataque ao status quo e o peso da ala esquerda do partido democrata.

Mesmo que fracasse nessas votações Hillary Clinton conta com a sua máquina a nível nacional para se impor nas primárias de 5 de Fevereiro.

Dos 22 estados que votarão nessa terça-feira, Nova Iorque e a Califórnia eram dados como ganhos por Hillary até à votação no New Hampshire, e se o eleitorado hispânico mantiver as reticências que tem manifestado em relação a Obama a senadora ainda tem boas possibilidades de conseguir a nomeação.

Mas Hillary, por mais fundadas que sejam as suas críticas à inexperiência e contradições da alegada “retórica poética” de Obama (nada de estranho nestas matérias, por sinal, já que ela própria fez campanha em 1992 ao lado do marido, o candidato nascido em Hope, Arkansas, que dizia “acreditar num lugar chamado Esperança”), viu escapar-lhe o tom triunfal, a dinâmica imparável de vitória com um programa centrista e confronta-se com um avolumar de críticas ao seu estilo frio e alegada veia manipuladora.

Esta pecha política de jogar na imponderável “triangulação” ao estilo Bill Clinton – dizendo-se acima das opções entre a esquerda e direita do espectro político – e a imagem de marca crispada que tanto agastam o eleitorado independente e exasperam em absoluto os mais moderados dos republicanos irão prejudicar necessariamente Hillary no caso de eleitores, políticos e financiadores democratas se depararem com a alternativa de outra candidatura não menos equívoca, mas potencialmente ganhadora como a arrancada de Barack Obama começa a aventar.

Se Hillary Clinton não conseguir anular a dinâmica de expectativas de mudança trazida por Barack Obama mesmo que consiga arrebatar a nomeação democrata terá pela frente a difícil escolha de um candidato à vice-presidência que consiga na Convenção de Denver, no final de Agosto, cumprir dois desígnios fundamentais: assegurar os equilíbrios que mantenham a unidade do partido e alargar o apelo eleitoral do ticket democrático à Casa Branca.    

O futuro candidato à derrota

Frente a Hillary ou a Obama será ingrata a sorte do opositor republicano.

As tendências de fundo apontam para uma vitória democrática nas presidenciais e largas maiorias anti-republicanas na votação para a Câmara de Representantes, na eleição de 35 dos 100 mandatos de senadores em disputa e em 11 dos estados cujos governadores vão a escrutínio a 4 de Novembro.

Mitt Romney, o ex-governador do Massachusetts, averbou no New Hampshire a segunda derrota – apesar de ter arrebatado, entretanto, 8 dos 12 delegados em disputa no caucus republicano do Wyoming no passado sábado – sem que Mike Huckabee ou John McCain tenham assegurado qualquer viabilidade para as suas candidaturas.

Rudolph Giuliani, o principal rival do milionário mórmon à nomeação republicana, só entrará na contenda dia 29 na primária da Florida, aposta nas votações de 5 de Fevereiro, e até lá tudo continua em aberto.

O antigo presidente da câmara de Nova Iorque arriscou apostar apenas nas primárias dos grandes estados e é ainda o mais presidenciável entre os republicanos.

O problema de Giuliani resume-se nisto: o gabarito nacional do homem que evoca 11 de Setembro ad nauseam é certo, mas a nomeação é mais equívoca. 

Quer Romney, quer Giuliani (católico, três vezes casado e demasiado liberal para largas faixas do eleitorado republicano) estão longe de fazer consenso no partido que fez eleger George W. Bush e fazem desesperar a militância evangélica das causas fracturantes das guerras da cultura e costumes da América.

A Convenção Nacional Republicana de Setembro em St. Paul, no Minnesota, será, muito provavelmente, ainda mais agreste que o conclave democrático.

No meio de tudo isto, George W. Bush, ignoto e desesperante para os candidatos do partido republicano, partiu com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma para o Médio Oriente.

É outra imagem forte desta campanha presidencial.

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