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14 de Janeiro de 2010 às 12:07

Crise? Qual crise?

Num dos seus raros momentos de inspiração, o grupo Supertramp cantou para quem os conseguia escutar: "Crisis? What Crisis"? Os tempos não eram famosos. Estávamos em 1975 e a crise petrolífera tinha deixado o seu rasto de destruição e insegurança. A capa...

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Num dos seus raros momentos de inspiração, o grupo Supertramp cantou para quem os conseguia escutar: "Crisis? What Crisis"? Os tempos não eram famosos. Estávamos em 1975 e a crise petrolífera tinha deixado o seu rasto de destruição e insegurança. A capa do disco explicava tudo: no meio do lixo, alguém apanhava banhos de sol e bebia um refrigerante. A crise actual assemelha-se um pouco a esta hedonista forma de olhar para o rasto de destruição à volta. A classe política vê o Sol a brilhar, as bolsas saltitam de energia, mas os números que o Banco de Portugal mostrou na sua bola de cristal são tudo menos luminosos. Qualquer Governo que esteja em S. Bento nos próximos anos parecerá um trapezista sem rede por baixo: como equilibrar o corte do défice com o crescimento da economia? Entre entreter as agências de "rating" internacionais e saber como lidar com o desemprego crescente se os gastos do Estado tiverem de minguar, qual será o melhor caminho para o Governo? O harakiri ou a cicuta? O futuro é tão brilhante que teremos de usar óculos escuros, segundo as recomendações do BdP. O crescimento económico será semelhante à velocidade das carroças, o desemprego aumentará, as taxas de juro subirão e liquidarão o pequeno fôlego de quem tem emprego em Portugal e o rendimento das famílias vai diminuir. Crise? Qual crise? O País precisa de investimento que crie riqueza, algo que nem sempre tem sido uma palavra de ordem de sucessivos governos. De outra forma, só alguns de nós ficarão a beber refrigerantes e a apanhar sol no meio da lixeira.
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