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Coisas para fechar e já

O futebol português originou mais um daqueles momentos de delírio colectivo em que aliás é tão fértil. A matéria, o chamado caso Mateus, é bastante esotérica, mas talvez por isso mesmo a enxurrada de palavras parece inesgotável.

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Toda a gente fala e comenta. Dos vários dirigentes desportivos, e são muitos, ao Professor Marcelo que tudo explica nas suas cada vez mais frenéticas intervenções mediáticas. Dos comentadores televisivos, e são igualmente muitos, ao Doutor Prado Coelho que anda cada vez mais irritado sem que se perceba porquê. Contudo, apesar de todo esse esforço comunicativo ninguém consegue chegar aos calcanhares do Major que, entre tanta diatribe, a semana passada conseguiu ocupar um telejornal inteiro para dizer coisa nenhuma. Nessa hora, no mundo, não se passou rigorosamente mais nada. O que por si só é absolutamente extraordinário. Fosse o Major comentador residente da televisão e não existiriam guerras nem outras chatices que só desanimam. E toda a gente andaria sempre a rir tanto é o disparate e o reconhecido talento cómico.

Não sendo contudo apreciador da modalidade, ainda menos das suas tramóias assíduas, e não me tendo dado ao trabalho de tentar perceber a transcendente polémica e o assunto, no que respeita a esta crónica, ficaria por aqui. Não fosse uma singela frase proferida pelo Presidente do Benfica que me ficou na cabeça. Em plena Festa do Avante, lugar bastante exótico diga-se de passagem, o homem afirmou que este e outros problemas se resolveriam simplesmente fechando a Liga. Gostei da ideia. Muito. Por uma vez alguém do futebol disse alguma coisa com sentido. Pois o que este país precisa mesmo é de fechar muita coisa.

Não me atrevendo a sugerir fechar o futebol de vez, coisa infelizmente demasiado avançada para a época em que me foi dado viver, gostaria pelo menos de pegar na ideia de Filipe Vieira e propor fechar já duas ou três outras coisas mais à mão de semear. A lusa dificuldade em resolver muitas das questões que tanto afectam a nossa sociedade, reside na manutenção de aparelhos, organismos, cargos e pessoas que mais do que ajudar às soluções são de facto o cerne dos problemas.

No domínio do conjuntural não compreendo por exemplo porque não se fecharam já as Oficinas de São José, essa verdadeira escola de delinquentes que de forma tão gráfica, como dizem os americanos, mostra bem a inabilidade da Igreja Católica em prosseguir uma pretensa missão de solidariedade social. Está claro, para quem quer ver, que estes sítios medievais não ajudam ninguém e só existem por inércia e conveniência dos poderes públicos que para aí descarregam a miséria, social e humana, a quem caberia dar um outro tratamento mais civilizado e moderno. Estamos a falar de lugares dirigidos por gente incompetente, alheada do tempo e que inculcam nos pobres coitados que por lá vegetam as piores ideias e destinos. São verdadeiras Madrassas do abandono e da frustração que só podem gerar horrores, como se viu no caso Gisberta.

Contudo embora a culpa imediata seja de padres e beatos objectivamente impreparados para a tarefa, a responsabilidade vai mais longe. O Instituto de Segurança Social, organismo do Estado pago com o dinheiro dos contribuintes, é a quem cabe a gestão dos infortunados e a quem os cidadãos devem pedir contas. Ora o historial deste organismo é vasto e tenebroso. Desde a cumplicidade nos casos da Casa Pia, às crianças que morrem por incúria, aos jovens que matam por estupidez, o ISS revela ser um poço de incompetentes e mais do que solução parte gravosa do problema. Feche-se.

Ainda num plano similar também a Câmara da Amadora devia ser fechada. Nunca se viu uma tão flagrante falta de sensibilidade social como a que se assistiu, ou não se assistiu por via de uma censura salazarenta, nas demolições na Azinhaga dos Besouros. Aliás deve dizer-se em abono da verdade que caso se tratasse de uma Câmara de direita o país, de esquerda, por estas horas ainda estaria em polvorosa. E o próprio parlamento já teria tremido com o vozeirão. Efectivamente, como se diz no futebol, não se pode primeiro deitar abaixo as barracas e só depois pensar o que fazer com as pessoas que lá estavam dentro. Não é razoável, não é humano, não é digno. No mínimo, e caso as pessoas afectadas fossem imigrantes ilegais havia que cumprir a lei, mesmo se nem todos concordamos com ela, ou seja repatriar ou o que fosse. Mas tratando-se de pessoas legalizadas com vida e emprego então a acção é claramente criminosa. É trazer a faixa de Gaza e o Líbano para os arredores de Lisboa. Simplesmente não se pode aceitar.

Mas mais do que estes dois exemplos da ordem do dia a lista de encerramentos desejáveis é vasta. Organismos públicos que não servem para nada, serviços governamentais e municipais sem sentido, empresas que não têm o mínimo de condições de laboração, fábricas poluentes, comércios imundos, urbanizações degradantes, recantos lúgubres, escolas, tribunais, hospitais e prisões decrépitas. Dos Ministérios fecharia de imediato o da economia, agricultura e cultura. São tudo áreas em que devia dominar em absoluto a livre iniciativa e onde a intervenção do estado só distorce regras e concorrência. Dos cargos fecharia já hoje os de Governador Civil. São um resquício obsoleto do centralismo autoritário. Das mais de trezentas Câmaras Municipais deviam fechar-se pelo menos umas cem. Não têm gente nem assunto nem futuro. Por uma questão de decência fecharia também o Dr Alberto João Jardim. E já agora o Manuel Alegre a quem o país paga há trinta anos para dizer frases ocas e chacinar animais indefesos.

Enfim, Portugal para além da Liga devia fechar muita coisa. O país ficaria muito mais aliviado.

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