Eu apoio a actual estratégia do líder do PSD, porque detesto o tédio e amo o suspense. O que já me parece criticável é a pressão a que ele tem estado sujeito.

Como se não bastasse a dramatização do PS, temos, agora, a pressão insuportável dos notáveis do PSD - a lei da rolha só funcionou enquanto não agitaram a garrafa.

Na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa, só não se pôs de joelhos porque; a quem já foi uma espécie de enviado de Deus; não fica bem. Se eu fosse o Pedro Passos Coelho, dizia - OK. Tudo bem, Professor Marcelo. Eu aprovo o Orçamento. Mas tu, que dormes pouco, levantas-te ainda mais cedo e às seis e meia estás em Massamá para ires levar as minhas filhas à escola.

As pressões têm várias formas e tamanhos - desde Marques Mendes - que acredita que o sentido de Estado do partido vai viabilizar o Orçamento do Estado - até Cavaco Silva, que apela ao patriotismo e que, juntamente com Manuela Ferreira Leite, defende, em último caso, o recurso a uma cigana e à ameaça de uma maldição sobre o pobre Pedro - Se não viabilizares o Orçamento, vai cair-te o cabelo todo e vão crescer-te cactos dentro dos ouvidos. Com tanta pressão dos barões do PSD, só falta vir Duarte Lima fazer chantagem e ameaçar matar uma velhinha se o Orçamento não for aprovado. É, claramente, uma estratégia errada. Não me parece que o actual líder do PSD seja um homem que se deixa influenciar pelas pressões externas. Por que não tentar a outra via? Em vez da chantagem, a oferta.

O povo juntava-se numa operação Nacional para fazer uma grande pirâmide de ofertas aos deputados laranja; se o PSD não chumbar o orçamento. Cabazes com frutas tropicais, presuntos e garrafas de Porto velho, embrulhados em papel laranja transparente, como contrapartida da credibilidade do País. Por que não um Preço Certo em Euros, com ex-presidentes do PSD como concorrentes, com o valor do prémio a reverter para o Passos se ele passar o Orçamento? A ideia é boa, mas quero deixar claro que não tenciono oferecer nada.

No abstracto, que é onde eu moro, não acho que o PSD tenha a obrigação patriótica de aprovar o orçamento. Eles são a Oposição. É suposto oporem-se, mesmo quando não têm uma ideia diferente. É de uma enorme irresponsabilidade chegar ao ponto em que tudo depende de uma oposição responsável.

Como escrevi no início, este suspense agrada-me e espero que; o suspense; se estenda aos mercados. Eu já decidi, e vou apostar na aprovação. Mas se o PSD chumbar o Orçamento, eu quero ver esse momento; e a cara do ministro das Finanças; várias vezes, em "replay".


Jogar à moeda
Está um campeonato Mundial do Jogo da Moeda a decorrer mesmo nas nossas barbas (Odete Santos, isto também é para si) e não está a ser transmitido em nenhum canal cabo. O primeiro-ministro chinês esteve, recentemente, na Grécia e mostrou interesse em comprar dívida grega: a dívida grega é pintada à mão e os chineses apreciam artesanato. Não é por acaso que os chineses estão tão interessados em adquirir dívida grega em vez de comprarem garrafas de Ozo. Com esta suposta acção de beneficência, os chineses matam dois gatos com uma cajadada. Fazem subir o Euro (e limitam ao mínimo a "exigida" valorização do Yuan) e adquirem o berço da Democracia. TROCADILHO - já não os podem acusar de falta de berço em termos democráticos. Tudo indica que, a seguir, os chineses apontem o seu ímpeto consumista para a dívida feita em renda de bilros. Não sei se esta última metáfora foi apropriada. Em termos de artesanato, vejo mais a nossa dívida como uma Dívida das Caldas®.