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Avaliação precisa-se

Quem se deixa representar por sindicatos como a Fenprof e a FNE, quem se deixa representar por uma figura do antigamente como Paulo Sucena, mais não pode esperar do que grandes dissabores e arrisca-se a perder toda a credibilidade.

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Certas pessoas e organizações têm um particular talento para transformar qualquer assunto numa enorme trapalhada. Na classe política isso parece ter atingido o nível genético, pois como se sabe são raros os políticos que conseguem responder a uma pergunta directa e concreta, para além de invariavelmente se assistir, na disputa parlamentar e partidária, a um sistemático desvio do essencial para o acessório e do racional para o emocional.

Mas os políticos "credenciados" (pois afinal numa democracia com liberdade de expressão somos todos políticos), não são os únicos. No Portugal de hoje qualquer coisa que se faça, ou que se proponha fazer, logo parece ser invadido por uma enorme confusão que muito dificulta o esclarecimento público. O mais recente caso, tal tsunami ou tornado, atingiu os professores. Com força.

A questão que está na mesa é bem simples. Trata-se de criar um mecanismo de avaliação que permita racionalizar a progressão da carreira dos professores. A sua modalidade pode ser discutível, e ainda bem que o é, mas o princípio é da maior evidência, pois não é possível continuar com um sistema de simples progressão administrativa onde o mérito, o talento e o esforço não contam. A progressão por mera passagem dos anos é um método claramente injusto e ineficaz, já que promove tanto os bons quanto os maus, tanto os empenhados quanto os sornas.

Acontece que os sindicatos, não podendo contestar o princípio, resolveram concentrar-se numa das componentes, entre várias, da proposta. Ao que dizem e repetem à exaustão os pais não têm capacidade para avaliar os professores. O que, diga-se de passagem, é um argumento notável. Já Salazar também achava que a democracia não era viável porque os portugueses não tinham capacidade para avaliar os governantes.

Ora por muito que custe a estes professores, numa sociedade livre toda a gente é avaliada por toda a gente. E se qualquer pai ou mãe têm capacidade para escolher um governo, muito maior capacidade terão para saber distinguir um bom de um mau professor.

Esta rejeição da avaliação, e portanto da essência da democracia, deriva não só de uma concepção retrógrada e classista da vida colectiva, onde os senhores doutores são intocáveis, mas acima de tudo de uma inadaptação à liberdade de uma sociedade pluralista. O que tem as suas raízes. Como diz um amigo meu, é sempre bom recordar que muitos dos democratas de hoje andaram na escola do fascismo. Foi-se o regime ficaram os tiques anti-democráticos.

Os dois maiores sindicatos da classe, a Fenprof e a FNE, são um péssimo exemplo disso mesmo. Paulo Sucena é Presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) desde 1989 e secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof) desde 1994. Por sua vez Manuela Teixeira esteve 22 anos (!) à frente da FNE e só recentemente abandonou o cargo, não porque tenha sido derrotada em eleições, mas por iniciativa própria e designando, como numa monarquia, o seu sucessor, João Dias da Silva, que se apresentou em lista única.

Há pois algo de muito doentio e nada transparente na vida sindical. O debate interno é nulo, as alternativas não aparecem e os mandatos eternizam-se. Sendo evidente a perda de influência dos sindicatos com a consequente fragilização da defesa dos interesses dos seus associados, seria de esperar a emergência de nova gente e novas ideias.

Ora isto não acontece porque os sindicatos se tornaram estruturas fechadas em torno de pequenas castas dirigentes, animadas acima de tudo pela conservação dos seus pequenos poderes e regalias.

Aliás, estes sindicatos já não reivindicam nada e há muito que deixaram de ser um factor de modernização da sociedade, como historicamente o foram. Hoje são forças conservadoras que resistem a qualquer mudança e tudo fazem para manter realidades e condições de todo desfasadas do mundo contemporâneo. Manter e resistir parecem ser as únicas palavras de ordem do sindicalismo de hoje. É pouco,é conservador e é altamente prejudicial para os próprios trabalhadores.

O que coloca uma outra questão. É certo que muitos professores ficam ofendidos quando acusados de imobilismo e incompetência. E pedem mais respeito. Mas na verdade são os próprios a não se dar ao respeito. Quem se deixa representar por sindicatos como a Fenprof e a FNE, quem se deixa representar por uma figura do antigamente como Paulo Sucena, mais não pode esperar do que grandes dissabores e arrisca-se a perder toda a credibilidade.

Se os professores não são capazes de gerar alternativas de representação e sistematicamente reconduzem nos cargos, em eleições ao estilo de Ceausescu, as mesmas pessoas e as mesmas ideias gastas, não se podem queixar da péssima imagem que hoje têm. E neste caso, estão mesmo precisados de uma avaliação externa, já que está demonstrado que a interna não têm capacidade para a fazer.

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