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Opinião
18 de Abril de 2008 às 13:59

Autoavaliação e competitividade

O problema da competitividade das empresas portuguesas torna-se um objectivo ainda mais importante e fundamental num momento de crise, em que a guerra pela conquista ou manutenção de quotas de mercado se agudiza em consequência do abrandamento significati

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Aliás, com a ascensão das “novas” economias, o problema da competitividade, com maior ou menor crescimento da economia global, só tenderá a agravar-se no futuro.

A construção da competitividade das empresas (e da economia) é mais do que uma consequência do “Inglês nas escolas”, do “Simplex”, das “Empresas na Hora”, da “Internet nas escolas”, da “disseminação das novas tecnologias”, das “comunicações de alto débito” ou do “Plano Tecnológico”. Embora necessários, estes factores não são suficientes.

Os fundamentos da competitividade empresarial assentam nas características culturais da sociedade e no modo como estas se transmitem, isto é, na capacidade do sistema da sua reprodução em, constantemente, adaptar o “conteúdo transmitido” à evolução do meio envolvente.

A competitividade, na essência, de um problema de “atitude”. Exige capacidade para comparar, constantemente, o “realizado” com o “pretendido” e para receber e interpretar, permanentemente, informação do que está a “acontecer lá fora”. Por outras palavras, trata-se de “olhar para fora” e ser “olhado de fora”.

Assim, uma sociedade aberta ao debate e à crítica, olhando constantemente para fora, comparando as suas realizações com as dos vizinhos e parceiros, constitui a base sobre a qual é possível construir uma economia competitiva e inovadora.

O sistema educativo, que é um actor fundamental na reprodução (e na alteração) dos modelos culturais, é, portanto, um factor estratégico na construção da capacidade competitiva das economias.

Neste contexto, o acordo entre os sindicatos dos professores e o Ministério da Educação relativamente à “avaliação dos professores”, anunciado recentemente, apelidado eufemisticamente de «base de entendimento», é uma má notícia para todos os que defendem e procuram promover os factores de competitividade da economia portuguesa.

Com efeito, um modelo de avaliação que assenta, exclusivamente na “auto-avaliação” sem qualquer consideração pelo grau de concretização de objectivos definidos ou sequer a interferência de uma opinião terceira, é uma garantia da ausência, no centro do “sistema” de educação e transmissão da cultura, de atitudes que promovam uma cultura de dinamismo, a comparação de desempenhos, a definição e concretização de objectivos, em suma, uma garantia da eternização de uma cultura avessa à mudança e à inovação.

A “auto-avaliação” é uma componente importante de um sistema de avaliação apenas quando complementa e explica o impacto da actuação analisada sobre o meio em que actua – quer a natureza e a profundidade do impacto, quer o “afastamento” relativamente ao efeito pretendido.

Vejamos o que significa um sistema baseado exclusivamente na “auto-avaliação”, socorrendo-nos de exemplos recentes numa área em que todos (ou quase) nos entendemos e falamos a mesma linguagem: o futebol.

Após a derrota com os escoceses, quer o presidente quer o treinador do Sporting foram peremptórios – «Jogámos muito melhor do que eles» (o resultado/objectivo parece não “interessar” para a avaliação).

Poucos dias antes, o presidente do outro grupo da Segunda Circular afirmava – «Parece que há “forças” a querer empurrar-nos para baixo» (forma de auto-avaliação ad contrarium). Neste caso, o peso da realidade fez-se sentir, logo a seguir.

Continuando no futebol (talvez a actividade em que os portugueses são mais exigentes), vejamos o que acontece quando a avaliação deixa de ser “auto”, isto é, quando existe “alguém”, exterior ao executante, a fazer a avaliação.

Nos estádios do Bessa e de Matosinhos, penáltis falhados que comprometeram seriamente o objectivo (vitória) levaram os respectivos marcadores (que falharam os objectivos) à porta da rua.

Em suma, perante o mesmo fenómeno, duas atitudes opostas. A “auto-avaliação”, só por si, deixa tudo na mesma, mas quando se separa o “avaliador” do “avaliado”, isto é, quando se introduz no modelo a tensão entre “realizações” e “objectivos”, que vem sempre com o “olhar exterior”, estão criadas as condições para analisar objectivamente a realidade, identificar os problemas e adoptar novas soluções com vista a melhorar o desempenho. Isto é, neste caso, a sociedade tem possibilidade de criar condições para a sua economia e as suas empresas poderem ser competitivas.

O sistema educativo é, sem margem para dúvidas, um actor crucial na criação das condições de competitividade de uma economia quer ao nível da formação teórica e prática associada à capacidade de criação de valor, quer a um nível mais fundamental, na transmissão e evolução de modelos culturais que estão na base de atitudes que promovem os factores de competitividade da economia.

Se, futuramente, não forem introduzidas correcções no sistema de avaliação dos professores então não é só o Governo que é derrotado, é também, e sobretudo, o País e a sua capacidade para promover uma economia moderna, competitiva e inovadora.

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