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11 de Agosto de 2010 às 12:04

As Recuperações Sem Criação de Emprego e as Políticas Obsessivas

As políticas monetárias e orçamentais nos Estados Unidos, tanto na actual recessão como na de 2001, têm sido as mais flexíveis no mundo industrial.

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Como já escrevi, o Congresso ainda está a desenvolver uma outra lei sobre o emprego. Na verdade, John Taylor, da Universidade de Stanford, atribui a recente crise financeira à política monetária excessivamente estimulante sentida já perto do final do mandato de Alan Greenspan enquanto presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed).

Mas porque é que a política norte-americana é tão flexível? Uma ideia fulcral para responder é o facto de as recuperações económicas nos Estados Unidos se terem alterado. De 1960 a 1991, as recuperações naquele país aconteciam, na sua maioria, rapidamente. Os níveis de produção levavam, em média, dois trimestres para voltarem aos valores anteriores à recessão, enquanto o emprego recuperava em oito meses.

Mas as saídas das recessões de 1991 e 2001 foram diferentes. Por exemplo, em 2001, os níveis de produção recuperaram num trimestre, embora o emprego tenha demorado 38 meses para atingir os números registados antes da recessão. A actual recuperação parece ser igualmente lenta na criação de empregos.

Alguns economistas afirmam que, ao contrário das anteriores recuperações, em que os funcionários colocados em “lay-off” voltavam posteriormente a ser contratados, as perdas de postos de trabalho em 1991 foram mais permanentes. Os trabalhadores no desemprego tiveram de procurar trabalho noutras indústrias, o que demorou mais tempo e exigiu mais treino.

Outros sugerem que a Internet tem facilitado as empresas a contratar mais rapidamente. Por isso, mais do que contratar logo ao primeiro sinal da recuperação pelo medo de não o poderem fazer posteriormente e serem, por isso, penalizadas nas vendas, as firmas têm preferido esperar até terem a certeza que a recuperação é efectiva antes de aumentarem o número de trabalhadores.

Independentemente da verdadeira explicação, os Estados Unidos não estão preparados para recuperarem do desemprego. De forma geral, os benefícios para quem não tem vínculo laboral duram apenas seis meses. Além disso, como os privilégios do sistema de saúde estão normalmente conectados aos empregos, os desempregados correm o risco de perderem o acesso aos mesmos.

Os benefícios a curto prazo podem ter sido apropriados aos momentos em que as recuperações eram rápidas e os postos de trabalho eram abundantes, porque o medo de os perder servia de incentivo para os trabalhadores procurarem mais eficazmente um emprego. No entanto, com a criação de menos postos de trabalho, um incentivo positivo torna-se numa fonte de grande ansiedade. Mesmo quem tem trabalho teme que possa vir a perdê-lo e ficar, assim, à deriva, sem apoios.

Os políticos ignoram a ansiedade popular por sua conta e risco. Há a crença largamente generalizada de que o presidente George H.W. Bush perdeu a sua reeleição por parecer não estar em contacto com as dificuldades sentidas pelos americanos após a recessão de 1991, mesmo apesar de ter vencido a popular guerra no Iraque. Essa lição tem sido completamente internacionalizada. Uma recuperação económica tem que ver com empregos e não com os níveis de produção, e os políticos têm propensão a lançar estímulos económicos, tanto orçamentais (cortes nos impostos ou nos gastos do Estado) como monetários (menores taxas de juro de curto prazo), até que os empregos comecem a aparecer.

Na teoria, é disto que trata a democracia: políticas para responder às necessidades das pessoas. Na prática, no entanto, a pressão pública para que algo seja feito rapidamente permite aos políticos não considerarem os usuais equilíbrios na execução das políticas governamentais.

Os gastos a longo prazo e as políticas orçamentais são promulgados sob um cenário de emergência, com o partido que está no poder na altura da recessão a enveredar pela agenda que mais o favorece. Muito do que é promulgado como estímulo tem muito poucos efeitos imediatos na criação de emprego mas, a longo prazo, tem consequências adversas nas finanças públicas. Por exemplo, o pacote de estímulos aprovado pela administração Obama, em 2009, reservava muitos milhões de dólares para a investigação oncológica, apesar da mesma empregar directamente poucas pessoas e de exigir gastos durante um longo período de tempo, muito acima do necessário numa recuperação prolongada.

Igualmente perniciosa para a saúde económica é a recente vaga de cortes das taxas de juro para perto de zero e a sua manutenção nesse valor durante um largo período. Está longe de ser claro que manter taxas de juro de curto prazo próximas de zero (quando comparadas com taxas de juro apenas baixas) tenha muitos efeitos adicionais no incentivo à criação de empregos quando certas forças económicas poderosas levam a uma resistência na contratação por parte das empresas. Mas prolongar taxas de juro próximas de zero durante muito tempo pode alimentar actividades erradas.

Por exemplo, as famílias e os gestores de investimento, relutantes em manter o seu dinheiro em poupanças (fundos de mercado), procuram investimentos em títulos com longa maturidade e com risco de crédito mais elevado, enquanto estes oferecerem uma rentabilidade extra. Do mesmo modo, o capital que escapa a taxas de juro mais baixas nos Estados Unidos (e na generalidade dos países industrializados) impulsionou os mercados accionistas dos mercados emergentes e os preços do sector imobiliário, criando, portanto, condições para uma queda (como testemunhámos recentemente com a corrida às poupanças após a tempestade financeira da Europa).

Além disso, mesmo que as empresas nos Estados Unidos não estejam a contratar, outras firmas estão a fazê-lo no resto do mundo. A taxa de desemprego brasileira, por exemplo, está em níveis baixos, que não são vistos há décadas. Se a Fed quer aceitar as responsabilidades trazidas pelo seu papel de facto como o banco central mundial, ela terá de admitir que as políticas ligadas às taxas de juro não estão a conduzir a um crescimento estável.

As políticas continuariam a ser flexíveis se a Fed mantivesse as taxas de juro baixas em vez de as aproximar do zero, já que estas últimas são apropriadas para gerar o pânico. Os investidores receberiam, assim, menos incentivos para procurarem rentabilidades, evitando a instabilidade financeira.

De qualquer modo, os políticos não vão ficar quietos se a Fed pretender aumentar as taxas de juro. Os políticos, tal como a própria Fed, seguem o equívoco em que se baseia a ideia de que se taxas de juro baixas são boas para os empregos, taxas ainda mais baixas são ainda melhores.

Alguns estudos recentes sobre o risco e sobre a inflação dos preços dos activos atingidos por políticas de taxas de juro demasiado baixas irão, eventualmente, convencer os decisores da Fed a alteraram a sua postura. Mas se os políticos estão a ficar menos preocupados com o tema do emprego, talvez seja necessário começar a discutir se as recuperações económicas sem a criação de emprego são permanentes e se a rede de segurança norte-americana, planeada para uma época diferente, precisa de ser modificada.


Raghuram Rajan, antigo director económico do FMI, é professor de Finanças na Universidade de Chicago e é o autor de "Fault Lines: How Hidden Fractures Still Threaten the World Economy".

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org

For a podcast of this commentary in English, please use this link:
http://media.blubrry.com/ps/media.libsyn.com/media/ps/rajan6.mp3






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