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20 de Março de 2017 às 10:36

As 5 regras do investidor cauteloso

Os investidores tendem a comprar depois de constatarem que os mercados subiram e a vender depois de constatarem que desceram… estão a perder dos dois lados.

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Enquanto responsável de uma sociedade gestora, solicitam-me frequentemente a dar "conselhos de investimento". Apesar de gostar de partilhar as minhas opiniões, estas solicitações acontecem geralmente num contexto pouco adequado, num elevador, junto ao "buffet" durante um aperitivo, com os pés na água fria do mar… decidi reunir as minhas dicas num artigo para poder descansar durante esses encontros improváveis!

1. Pense bem antes de investir. É provável que tenha passado dias, semanas ou mesmo meses a comparar, pedir opiniões ou solicitar uma avaliação independente antes de tomar a decisão de comprar a sua casa ou o seu carro… Receio que os investidores que perderam uma grande parte das suas poupanças em "produtos tóxicos" não tenham efetuado esse trabalho de casa. Delegaram a decisão de investimento a quem não a podia tomar por se encontrar em conflito de interesses, sendo parte interessada no negócio, o banco. Não pretendo retirar nenhuma responsabilidade às instituições financeiras que vendem produtos tóxicos ou desadequados aos seus clientes, pelo contrário considero que a regulação nesta matéria foi e continua a ser insuficiente. Mas o cliente deve ele próprio aprender a defender os seus interesses.

2. Não se deixe obcecar pela garantia. Uma garantia é sempre relativa, depende de quem a oferece. Um banco garante os depósitos com os seus ativos, o Fundo de Garantia garante os depósitos de bancos intervencionados até 100.000€, os bancos nacionais garantem o Fundo de Garantia e aqui a pescada está de rabo na boca! Quando um sistema financeiro, o português, paga por depósitos quando a maioria dos outros na zona Euro não oferece nada, significa que a garantia não é idêntica. Se muitos franceses instalados em Portugal para gozar as suas reformas deixam as suas poupanças fora do sistema financeiro português, não é por não gostarem das taxas oferecidas.

3. O mundo é o seu universo de investimento. Nunca pensou que Portugal entrasse em colapso? Aconteceu em 2011. Grã-Bretanha é um membro essencial da União-Europeia? Acabou de bater a porta. Um Euro italiano vale tanto como um euro alemão? Para já sim… Os nossos interesses financeiros têm tendência para ficarem concentrados numa esfera geográfica próxima. Salários, reformas, casas, seguros de vida, contas bancárias,… estranhamente o mesmo parece aplicar-se aos investimentos financeiros. Nunca um dos meus contactos fora de Portugal me pediu o que devia fazer das suas ações da PT ou do BCP. Inversamente, nunca nenhum cliente português me pediu o que devia fazer dos seus títulos Volkswagen ou Apple. Ora os números são teimosos! Quem investiu no início de 2008, poucos meses antes do "grande colapso" bolsista, no índice americano S&P500, já duplicou o seu capital. Com o mesmo investimento feito na bolsa de Lisboa, no índice PSI20, perdeu 50%. Uma diferença de 1 para 4…

4. Invista a olhar para o horizonte. Os investidores individuais tendem a comprar depois de constatarem que os mercados subiram e a vender depois de constatarem que os mercados desceram… estão a perder dos dois lados, não aproveitam nem a subida, nem a recuperação. A perda de rentabilidade que daí resulta tem um nome, "Mind Gap". Para limitar as emoções ligadas às variações da cotação dos títulos, pode considerar investir em empresas de grande dimensão, globais, e com um perfil de rendimento, ou seja, que pagam dividendos elevados de forma consistente. A Nestlé pode servir de exemplo. Tem de uma posição global forte num mercado pouco sujeito a variações, paga um dividendo anual de cerca de 3%, e beneficia de uma cotação que evolui de forma quase linear ao longo das décadas. Quando acontecer a próxima crise bolsista, o título poderá perder 10% ou 20%, talvez mais. Mas aposto que quem não tiver vendido irá recuperar rapidamente e, entretanto, continuará a receber os seus dividendos anuais.

5. Se não tiver paciência para investimentos, opte por fundos, fundos PPR de preferência. Os fundos oferecem uma solução segura e eficaz para as poupanças de longo prazo dos investidores menos "autónomos". Cumprem as minhas primeiras quatro dicas e, no caso dos fundos PPR, ainda outra importante: beneficiam de uma fiscalidade reduzida, no máximo 11.2% ao fim de 8 anos. São diversificados e controlados, por imposição das normas dos fundos de investimento. Nos caso dos fundos PPR oferecem uma alocação equilibrada entre ações e obrigações e podem ser transferidos entre instituições sem impacto fiscal. São produtos geridos de forma profissional, numa ótica de longo prazo, e que podem ser "esquecidos" numa conta durante anos sem risco de timing de investimento/desinvestimento.

Resta fazer o "exame de consciência" da sua poupança face a esta dicas. Nunca é tarde para orientar as suas poupanças para os produtos adequados. Pelos menos para as poupanças que sobreviveram aos nossos escândalos nacionais!


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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