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A troika e o Hulk

Ainda não acabou o Verão, mas já há sinais de que está a acabar. Portugal está lentamente a acordar do torpor em que viveu nas últimas semanas, apenas sobressaltado pelas fífias de Melgarejo, as alforrecas nas praias, a gritaria sobre a RTP e a... falta de dinheiro.

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Ainda não acabou o Verão, mas já há sinais de que está a acabar. Portugal está lentamente a acordar do torpor em que viveu nas últimas semanas, apenas sobressaltado pelas fífias de Melgarejo, as alforrecas nas praias, a gritaria sobre a RTP e a... falta de dinheiro.

A "rentrée" promete ser dolorosa para um País que é ciclicamente hábil a entreter-se com coisas simples. Sol, praia e caracóis tornam o entretenimento lusitano num dos mais competitivos da Europa, uma característica muito pouco valorizada pelos grandes pensadores da economia.

No entanto, enquanto se estende ao sol, o País acumula dívidas e contas. E, entretanto, passou mais um mês de subsídio de desemprego, mais uma prestação da casa por pagar, mais um crédito malparado.

O regresso à vida real começará a ficar negro com as primeiras chuvas outonais, cuja intensidade e frequência começa já esta semana a ser preparada com a troika, depois de timidamente alinhavada no esboço que está já a ser feito do Orçamento do Estado para 2013.

Mais impostos, mais despedimentos, mais salários em atraso, mais execuções, mais penhoras, mais insolvências, mais dramas familiares, mais tragédias pessoais, nada disto é compatível com o ambiente que se viveu nas últimas semanas em Portugal, numa espécie de "estágio de sanidade" antes da época de insanidade que se avizinha. Ou o contrário.

O Governo tem a responsabilidade de tornar o mergulho dos portugueses menos penoso, "aquecer" a água gelada que a troika traz na bagagem. É imperceptível se conseguirá, insondável sequer se quererá. A única coisa que se percebe da estratégia de Passos Coelho para tentar suavizar a trágica crise portuguesa é que... há um plano para a RTP.

O Estado não paga a horas, quando paga, os bancos não dão crédito, o investimento público é zero, as empresas lutam para sobreviver todos os dias, os tribunais não funcionam, os hospitais adiam cirurgias e tratamentos, o regresso às aulas será pobre... O cenário é dantesco e estava todos os dias na cara dos portugueses, antes de ser substituído pelo creme protector ou pela água do mar. Agora, com a troika regressarão as rugas na testa.

Enfim, ainda temos uns dias até ao choque frontal com a realidade... vamos lá ver se é desta que o Hulk se vai embora, assim como assim, ainda são 50 milhões de euros.

*Editor de Empresas

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