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23 de Dezembro de 2004 às 14:00

A realidade e a ficção

Este Governo tem mostrado um talento inquestionável: dá conferências de imprensa que anunciam uma outra que será dada dois dias depois. É uma espécie de anúncio de apoio ao apoio que foi dado aos anúncios que foram anunciados.

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Este Governo tem mostrado um talento inquestionável: dá conferências de imprensa que anunciam uma outra que será dada dois dias depois. É uma espécie de anúncio de apoio ao apoio que foi dado aos anúncios que foram anunciados.

Ou, melhor ainda, uma versão política da célebre roleta russa. Nesta fase o Governo parece uma estrela «rock» decadente: acredita que o que diz é a realidade, porque já confunde os seus sonhos alucinogénicos com o que se está a passar.

É por isso que o Governo supõe, sensatamente, que é a Invencível Armada. Num dia decide anular uma cimeira com a França, no outro insinua que a Alemanha é uma espécie de Burkina Faso com truques orçamentais. Como estratégia para quem está a preparar-se para discutir os fundos do QCA até 2013 é brilhante: é o chamado suicídio político europeu. Sem o apoio da Alemanha ou da França, Portugal terá sérias hipóteses de conseguir garantir apoios para modernizar os «aviários» de caracóis.

Neste momento parece que há uma política de Estado a menos e uma tentação de delírio a mais. O problema é que o país não é um jogo do Lego nas mãos de miúdos traquinas. Ou não deveria ser.

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