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28 de Maio de 2009 às 12:02

A quadrilha

Depois do silêncio, a mentira. Os cegos, surdos e mudos do BPN passaram aos gritos: "Mentiroso!". Que temos nós com isso? Tudo. Depois do aumento de capital da Caixa de ontem, temos mais mil milhões de razões para...

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Depois do silêncio, a mentira. Os cegos, surdos e mudos do BPN passaram aos gritos: "Mentiroso!". Que temos nós com isso? Tudo. Depois do aumento de capital da Caixa de ontem, temos mais mil milhões de razões para nos preocuparmos.

A audiência de Oliveira Costa no Parlamento serviu para implicar aqueles que o implicavam. Como um náufrago que se agarra ao pescoço do nadador, o ex-presidente do BPN usou linguagem simplória e citou situações mafiosas que envolvem Joaquim Coimbra, Joaquim Nunes, Almiro Silva e Manuel Dias Loureiro.

Apesar do patético ambiente amigalhaço com que os deputados terminaram a maratona de oito horas que haviam iniciado de semblante grave, a audiência teve novidades e vantagens. A novidade é que Oliveira Costa não se vai imolar e denunciará antigos compinchas às autoridades. A vantagem é que se diz "basta!" àquela espécie de monólogos "não sei", "não vi", "não pude" dos ex-gestores e accionistas do BPN.

O próprio Oliveira Costa entra no rol do "pobre coitado", quando diz que não tinha "password" do banco, que foi empurrado para ser centralizador, que agiu sob coacção. Foram meses e meses a ouvir disto naquela sala presidida por Maria de Belém, com o hilariante clímax do B.I. (Banco Insular) que Joaquim Coimbra ouvia do Conselho de Administração julgando ser o Bilhete de Identidade. Muitos poderiam ser os termos confundidos por Joaquim Coimbra. BI, de biltre, por exemplo. Oliveira Costa chamou-lhe "palermão". E depois, sobre o contrato do Siresp: "Coitado do Daniel Sanches. Assinou um papel. Estava tudo feito." É claro que estava tudo feito.

É preciso lembrar que toda esta gente fez negócios durante anos, no que degenerou num caso de polícia. O que está em causa não é má gestão, é crime, é suspeita de lavagem, de burla, de corrupção ao mais alto nível. O próprio Oliveira Costa assumiu que pagou "avenças" a políticos, que havia "comissões" para "lubrificar" acordos, assinaturas falsas, negócios fechados por um euro que custaram 35 milhões. Histórias com sírios, porto-riquenhos, líbios, libaneses, suspeitos de tráfico de armas, americanos, supostos interessados no banco e no grupo que foram enjeitados, feitos por gente de reputação duvidosa.

Quando tudo andava bem, era como o poema "Quadrilha" de Drummond de Andrade, que adapto: "José amava Joaquim que amava Almiro que amava Daniel que amava Manuel que amava Aníbal que não amava ninguém."

Sim, muita desta gente cresceu politicamente com Cavaco Silva, com quem esteve ligado até hoje (Coimbra é um dos seus empresários-modelo). A própria ligação ao BPN o fragiliza, mesmo que não haja ponta de mácula: Cavaco foi accionista, garante o "Expresso", numa informação nunca desmentida. A insustentável permanência de Dias Loureiro no Conselho de Estado, que terminou ontem de forma pacata após demonstrações de repúdio de Lobo Antunes e Capucho, quando devia ter sido Cavaco Silva a defenestrá-lo politicamente, prejudicou a imagem do Presidente, do Estado e do PSD, berços políticos desta gesta. Até porque o BPN ameaça transformar-se para o PSD no que o Freeport se tornou para o PS. Incluindo ser arma de arremesso político.

Enquanto isso, e também por causa disso, os contribuintes vão injectando dinheiro na Caixa. O surto de amnésia e de desresponsabilização dos que vão passando pelo Parlamento e dos que lá são citados (incluindo Fernando Fantasia, António Franco, Emanuel Peixoto, Ricardo Pinheiro e António José Duarte) não pode anestesiar-nos. É preciso ter uma lata sem limites para dizer que a SLN tinha património que equilibrava as insuficiências, quando o buraco se estima em quase dois mil milhões de euros. Adivinhe quem paga a conta.

Pelo menos numa coisa Oliveira Costa não mentiu: "Ter pegado no BPN foi uma tragédia". Está coberto de razão.
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