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A legião portuguesa

A selecção nacional que irá ao Europeu é a síntese perfeita daquilo que foi o núcleo duro do Sr. Paulo Bento, criada desde que agarrou nos cacos deixados pelo Sr. Carlos Queiroz e conseguiu que a porcelana não ficasse destruída para sempre. Uma selecção que fez do sofrimento a sua força.

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A convocatória do Sr. Paulo Bento foi uma festa sem convidados surpreendentes. Poderia ter entrado um em lugar de outro que foi escolhido, mas a selecção nacional que irá ao Europeu é a síntese perfeita daquilo que foi o núcleo duro do Sr. Bento, criada desde que agarrou nos cacos deixados pelo Sr. Carlos Queiroz e tentou que a porcelana não ficasse destruída para sempre. O Sr. Paulo Bento fala a mesma linguagem dos seus jogadores e por isso todos fizeram das fraquezas enormes forças para conseguir este apuramento. Foi conseguido a ferros. Mas ainda bem que o foi. Sabe muito melhor.

O Sr. Gustave Flaubert definiu este sentimento de forma admirável: "A maneira mais profunda de sentir uma coisa é sofrer por ela". Os portugueses sofreram pela qualificação. Os jogadores e o treinador sofreram para se apurarem. Tudo se tornou tão diferente desde o tempo do Sr. Scolari em que qualquer desaire era também uma festa. Mas compreende-se porque é que custou tanto esta caminhada para o Europeu. Feita parte da renovação, esta selecção deixou de ter a filigrana futebolística que em tempos lhe foi conferida por jogadores sublimes como o Sr. Figo, o Sr. Rui Costa, o Sr. João Vieira Pinto ou o Sr. Deco. Olha-se para o centro do campo e não há um criador genial. Ou um conjunto de talentos ímpares como já houve. Hoje existem jogadores bons, muitos deles militantes do esforço. Fora disso só há um grande jogador: o Sr. Cristiano Ronaldo.

A selecção portuguesa é uma quando o Sr. Ronaldo agarra a equipa (como, às vezes, faz no Real Madrid) e outra quando ele fica ausente do jogo. Se a selecção portuguesa tem uma defesa sólida, tem um ataque onde não há um goleador acima da média, ou seja o homem que faz a diferença no momento decisivo. O meio-campo está repleto de bons valores, mas não há um construtor de jogo visionário, como já houve em Portugal. Talvez por isso exista um jogador que faz falta aqui: o Sr. Hugo Viana, o único que coloca onde quer a bola. Resumindo: será o Sr. Ronaldo que poderá, ou não, fazer a diferença. E, na difícil primeira fase, frente a equipas que jogam como um bloco (coisa que nem sempre acontece com Portugal), porque se adaptam a sistemas de jogo já definidos, se verá se o esforço colectivo vencerá o talento individual aliado a um sistema táctico normalizado como encontramos nas equipas da Alemanha e da Holanda. E a Dinamarca, já a conhecemos, vale pelo empenho colectivo.

Esta é quase a melhor selecção disponível. Com jogadores habituados a jogar em conjunto. E é isso mesmo que poderá ser o seu trunfo decisivo. Juntamente com o ás de trunfo, o Sr. Ronaldo.


fsobral@negocios.pt

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