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31 de Maio de 2012 às 13:55

A floresta, as árvores e a eficiência energética

No seu livro publicado em 1990, com o título "A Quinta Disciplina", Peter Senge, então director do Centro de Aprendizagem do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), propunha o método do pensamento sistémico para a abordagem de problemas complexos, que descrevia como a arte de ver a floresta e as árvores.

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No seu livro publicado em 1990, com o título "A Quinta Disciplina", Peter Senge, então director do Centro de Aprendizagem do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), propunha o método do pensamento sistémico para a abordagem de problemas complexos, que descrevia como a arte de ver a floresta e as árvores.

Com esta metáfora, ilustrava a necessidade dos decisores terem a capacidade de se afastarem das árvores (detalhes do problema) para verem a floresta (o problema global), em vez de verem meramente muitas árvores e escolherem pontualmente uma ou duas favoritas para concentrarem nelas toda a atenção e esforços de mudança. Peter Senge chamava assim a atenção para a importância dos decisores compreenderem os detalhes e relações críticos que formam a estrutura do sistema global contexto, pois apenas desta forma conseguiriam inferir o comportamento futuro resultante das suas intervenções e definir políticas eficazes. Para concretizar o objectivo da União Europeia de reduzir o seu consumo de energia primária em 20% até 2020 é, portanto, exigido aos decisores políticos que atentem na compreensão e intervenção para a resolução global do problema e que não se concentrem temporalmente em alguns aspectos circunstancialmente mais atractivos. Dada a interacção dinâmica por relações de reforço, o sucesso da intervenção depende da combinação adequada de medidas e persistência no tempo dos respectivos esforços de implementação.

O problema da eficiência energética enquadra-se no arquétipo classificado por Senge como "Tragédia dos Comuns," em que pessoas e organizações utilizam recursos disponíveis, mas limitados, exclusivamente com base nas suas necessidades e interesses individuais. A escassez dos recursos vai-se agravando e prejudicando todos globalmente.

Para uma intervenção eficaz nesta situação, torna-se necessário intervir na educação de todos e na criação de mecanismos de autorregulação que incentivem cada pessoa e organização a assumirem comportamentos que beneficiem a eles e ao todo, isto é, que induzam uma redução do consumo de energia primária. As medidas podem visar uma parte do sistema, mas devem contribuir para a resolução do problema global. Por exemplo, a promoção regulada de unidades de cogeração que combinam a produção de calor e de electricidade é uma medida eficaz que induz melhorias em todos os estágios do sistema energético, resultando numa redução significativa do consumo de energia primária.

A aplicação do pensamento sistémico suporta-se na modelação e simulação dinâmica do problema, um processo oneroso mas justificado face ao problema em causa. Um dos benefícios proporcionados pelo método é a possibilidade de identificar mudanças de alta alavancagem, ou seja, medidas que não exigem grandes esforços de implementação, mas proporcionam contributos expressivos para a resolução do problema devido à dinâmica de reforço associada. Um exemplo consiste no desenvolvimento de um mercado de serviços de eficiência energética baseados em contratos de desempenho.



A eficiência energética será a base de uma nova indústria e os rendimentos das empresas de serviços de energia dependerão dos resultados de poupança, que as medidas de eficiência propostas proporcionem aos seus clientes.



O pressuposto essencial desta nova indústria é que os rendimentos dos seus operadores - as ESE (Empresas de Serviços de Energia) - associados ao fornecimento de medidas de eficiência energética, dependem dos resultados de poupança que essas medidas venham efectivamente a proporcionar aos seus clientes. Desta forma, uma inteira indústria irá estar focada em empreender iniciativas com vista à melhoria optimizada da eficiência energética das organizações públicas e privadas nacionais. Esta indústria, que está a dar os primeiros passos em Portugal, dispõe já duma associação representativa, a APESEnergia. Como exemplo, no Corinthia Hotel Lisbon está em implementação um projecto de eficiência energética em que a Galp Soluções de Energia, através dum contrato de desempenho, investe em diversas medidas que abrangem todas a áreas utilizadoras de energia do hotel, assim como em sistemas de cogeração e de produção de energia renovável.

A actuação ao nível da educação dos indivíduos é essencial para que todos tenham a noção do impacto dos comportamentos individuais no problema global, e possam identificar e tirar partido de oportunidades para melhoria da eficiência energética. Um exemplo consiste no Galp 20-20-20, um programa de bolsas para jovens engenheiros finalistas ou recém formados que é promovido pela Galp Energia em conjugação com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a Universidade de Aveiro e o Instituto Superior Técnico. Cada bolseiro é afecto durante um semestre a uma empresa nacional, na qual desenvolve, sob a orientação dum professor tutor, um projecto de melhoria da eficiência energética. O programa já envolveu cerca de 120 empresas e bolseiros.



*Director Galp Soluções de Energia

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