Opinião
A decadência nacional e os debates fúteis
Um país nasce da realidade e não de sonhos teóricos. E o maior problema, nesta época de campanha eleitoral não declarada, é que grande parte da classe política continua a discutir um país que não existe. Debate-se o imediatismo, sem atenção aos erros do passado e sem apontar estratégias de futuro. Não admira: Portugal é um país que vive sempre a prazo.
Um país nasce da realidade e não de sonhos teóricos. E o maior problema, nesta época de campanha eleitoral não declarada, é que grande parte da classe política continua a discutir um país que não existe. Debate-se o imediatismo, sem atenção aos erros do passado e sem apontar estratégias de futuro. Não admira: Portugal é um país que vive sempre a prazo.
A nova linha divisória do debate inócuo entre PS e PSD é sobre se devem ser os investimentos públicos a dinamizar a economia ou se deve ser o sector empresarial privado a contribuir decisivamente para isso. Se dúvidas houvesse sobre o tema, o caso onde se cruzam a compra, pela PT, da TVI, da Lusomundo e da rede fixa, exemplificou que esses dois lados da barricada não existem em Portugal. Sectores públicos e privados cruzam-se e, muitas vezes, dormem na mesma cama. Não é um caso de agora. Há séculos que o Estado, e o seu controlo, exerce o seu poder motivador e dissuasor sobre uma sociedade empresarial e civil que nunca conseguiu libertar-se desse cruzamento de interesses. E é por isso que a sociedade civil, em Portugal, nunca conseguiu o seu grito do Ipiranga.
A sede de controlo político, económico e social, fez com que o Estado seja sempre um aliado fulcral dos interesses privados. O sector empresarial, sem o aconchego maternal do Estado, nunca conseguirá por si próprio conduzir a carruagem nacional. Porque, ao contrário dos países que nasceram da semente da Reforma, nunca se conseguiu livrar do papel do Estado na delimitação da criatividade e da livre iniciativa. É por isso que o aparente debate a que se assiste, através de múltiplos grupos, defensores (ou não) dos investimentos públicos está inquinado.
Contentes, os partidos que aspiram ao poder, discutem trivialidades sem olhar estrategicamente para o País. Os chineses diziam, nos tempos do Império Britânico, que os ingleses usavam o monóculo para que esse olho só visse o que eles queriam ver. A classe dirigente do PS e do PSD está refém desse mesmo conceito.
A forma como encaram a PT, limitando-lhe a sua capacidade empresarial de decisão, simboliza esse espírito de coutada reinante em Portugal. Os partidos encaram o País como um condomínio privado. Onde têm de fazer de administradores, porteiros e vigilantes. Aos outros está reservado o papel de contribuírem com esforço para pagar impostos. Esta sociedade de facilitismo está também inoculada no sector empresarial. A interessante resposta de Dias Loureiro, no DCIAP, dizendo que só nessa altura "percebeu" o que se passou na Biometrics, passando responsabilidades para os colaboradores que lhe levavam documentos a assinar, desculpa usada em diferentes casos por outras pessoas, mostra como parecemos viver num Portugal dos Pequenitos. Todos podem estar inocentes, mas há claramente algo mais grave: ninguém, em Portugal, é responsável por nada. Nem no sector público, nem no privado. E ilude-se a questão: como é que alguém pode ser responsável de uma empresa, e ser generosamente pago por isso, e só ser responsabilizado quando há sucesso no que faz?
É por isso que os políticos portugueses se tornaram, salvo raras e honrosas excepções, sistemas operacionais e não homens com emoções e sonhos. São "laptops" da política, ou se quisermos, Twitters falhos de ideias. A gravidade da crise só se revela quando os seus efeitos se abatem sobre as pessoas comuns. E ela é visível, a começar pela precariedade do emprego, cimento da rede social que é um País.
Os partidos, entretidos nas suas guerrilhas pelo poder, esquecem que a tranquilidade da população é o maior activo de um País. Ninguém queira que ela fique nervosa em demasia. A decadência nacional, provada por casos como o da PT/TVI ou do BPN, é demasiado visível para ser encoberta por debates que não levarão a lado nenhum. É hora de debater tudo o que é efectivamente importantes nestes documentos que vieram a lume, mas também é o momento de se criar um melhor Estado e uma melhor iniciativa privada. Com uma linha de rumo definida. E não feita ao sabor do vento que sopra sempre antes das eleições.
A nova linha divisória do debate inócuo entre PS e PSD é sobre se devem ser os investimentos públicos a dinamizar a economia ou se deve ser o sector empresarial privado a contribuir decisivamente para isso. Se dúvidas houvesse sobre o tema, o caso onde se cruzam a compra, pela PT, da TVI, da Lusomundo e da rede fixa, exemplificou que esses dois lados da barricada não existem em Portugal. Sectores públicos e privados cruzam-se e, muitas vezes, dormem na mesma cama. Não é um caso de agora. Há séculos que o Estado, e o seu controlo, exerce o seu poder motivador e dissuasor sobre uma sociedade empresarial e civil que nunca conseguiu libertar-se desse cruzamento de interesses. E é por isso que a sociedade civil, em Portugal, nunca conseguiu o seu grito do Ipiranga.
Contentes, os partidos que aspiram ao poder, discutem trivialidades sem olhar estrategicamente para o País. Os chineses diziam, nos tempos do Império Britânico, que os ingleses usavam o monóculo para que esse olho só visse o que eles queriam ver. A classe dirigente do PS e do PSD está refém desse mesmo conceito.
A forma como encaram a PT, limitando-lhe a sua capacidade empresarial de decisão, simboliza esse espírito de coutada reinante em Portugal. Os partidos encaram o País como um condomínio privado. Onde têm de fazer de administradores, porteiros e vigilantes. Aos outros está reservado o papel de contribuírem com esforço para pagar impostos. Esta sociedade de facilitismo está também inoculada no sector empresarial. A interessante resposta de Dias Loureiro, no DCIAP, dizendo que só nessa altura "percebeu" o que se passou na Biometrics, passando responsabilidades para os colaboradores que lhe levavam documentos a assinar, desculpa usada em diferentes casos por outras pessoas, mostra como parecemos viver num Portugal dos Pequenitos. Todos podem estar inocentes, mas há claramente algo mais grave: ninguém, em Portugal, é responsável por nada. Nem no sector público, nem no privado. E ilude-se a questão: como é que alguém pode ser responsável de uma empresa, e ser generosamente pago por isso, e só ser responsabilizado quando há sucesso no que faz?
É por isso que os políticos portugueses se tornaram, salvo raras e honrosas excepções, sistemas operacionais e não homens com emoções e sonhos. São "laptops" da política, ou se quisermos, Twitters falhos de ideias. A gravidade da crise só se revela quando os seus efeitos se abatem sobre as pessoas comuns. E ela é visível, a começar pela precariedade do emprego, cimento da rede social que é um País.
Os partidos, entretidos nas suas guerrilhas pelo poder, esquecem que a tranquilidade da população é o maior activo de um País. Ninguém queira que ela fique nervosa em demasia. A decadência nacional, provada por casos como o da PT/TVI ou do BPN, é demasiado visível para ser encoberta por debates que não levarão a lado nenhum. É hora de debater tudo o que é efectivamente importantes nestes documentos que vieram a lume, mas também é o momento de se criar um melhor Estado e uma melhor iniciativa privada. Com uma linha de rumo definida. E não feita ao sabor do vento que sopra sempre antes das eleições.
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