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A crise é fundamentalmente cultural

Quando um país está condenado ao fracasso económico e as suas elites bem como a sua opinião pública recusam entender onde estão metidas, o problema é fundamentalmente cultural e muito pouco económico.

O diagnóstico está feito há muitos anos e repete-se intensamente na imprensa internacional cada vez que falam de Portugal. Nas condições económicas em que o país se encontra e no contexto da actual zona euro (que pode ser muito injusto, pouco solidário e excessivamente neoliberal, mas é o que há), Portugal não tem nenhum potencial de crescimento. Está absolutamente condenado ao empobrecimento relativo e à estagnação económica e social, com uma emigração massiva de capital humano e capital físico.

Para que Portugal possa crescer e ter algum futuro com esperança ou faz reformas profundíssimas, sem precedentes na história recente, ou sai da zona euro. Infelizmente o meio termo não é uma solução viável, mas antes um compasso de espera para mais pobreza.

Mas as elites portuguesas insistem no meio termo. Basta ler as recente entrevistas de Rui Vilar, António Borges, do ministro da Economia, do presidente do Tribunal Constitucional ou mesmo do Presidente da República para perceber que todos gostam muito de ficção. À direita, uma mão cheia de nada supostamente já resolveu tudo (de um governo que não tocou nem nas PPP nem nas rendas na energia e noutros sectores, não reformou nem a administração local, nem a justiça, nem as universidades, nem o Estado, não fez nenhuma reforma fiscal). Falam mesmo já de um caso de sucesso. Mau sinal pois sempre que Portugal foi um caso de sucesso, de Cavaco a Sócrates, sabemos agora, era uma mentira pegada. À esquerda, com medo de assumir o inevitável, espera-se por mudanças na zona euro. Ora isso é simplesmente irresponsável porque não vão acontecer nem à velocidade nem com a profundidade que Portugal precisaria (ao contrário do que diz o ex-presidente Soares, mandar a senhora Merkel de volta para a Alemanha de Leste não resolve nada; mostra apenas uma ignorância absoluta e confrangedora sobre a realidade política alemã).

Quando um país está condenado ao fracasso económico e as suas elites bem como a sua opinião pública recusam entender onde estão metidas, o problema é fundamentalmente cultural e muito pouco económico. Podem até proteger os interesses instalados bem como os direitos adquiridos dos lóbis, dos sindicatos, de todos aqueles que conseguem condicionar e influenciar as políticas públicas. Podem continuar a governar os pensionistas das políticas que, sendo os principais responsáveis do desastre (como mínimo, por uma profunda falta de visão), acham que mudando o acessório, conseguem manter o fundamental. Mas o empobrecimento não espera. E falar em crescimento para 2015 ou 2016 é atirar areia para os olhos. Portugal precisa de crescer a 3-4% para superar os seus problemas estruturais e criar emprego. Se insistem no meio termo, esse crescimento económico, digam o que digam os muitos economistas e especialistas ao serviço do regime (na generalidade, os mesmos que andaram anos a dizer que o euro era excelente para a economia portuguesa), não vai acontecer nos próximos dez anos.

Professor de Direito da University of Illinois
nuno.garoupa@gmail.com

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