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A bola e a imagem

Este ano anda toda a gente entretida com o Euro 2004. Para além do circo do futebol, vai aterrar em Portugal uma multidão de jornalistas que vão andar por aí uns bons dias ainda sem nada para escrever sobre a bola, mas cheios de vontade de descobrirem ass

Este ano anda toda a gente entretida com o Euro 2004. Para além do circo do futebol, vai aterrar em Portugal uma multidão de jornalistas que vão andar por aí uns bons dias ainda sem nada para escrever sobre a bola, mas cheios de vontade de descobrirem assuntos típicos.

Esta podia ser uma boa oportunidade de sair das lamúrias, dos xailes negros, dos buracos nas ruas.

Estou seguro que está tudo pensado: no Pavilhão Atlântico, onde toda a comunicação estará concentrada, irá certamente existir informação sobre a exposição e a montagem propositadamente feitas no Museu dos Coches para a ocasião, sobre a colecção única que o Museu do Azulejo (ali bem perto) tem para mostrar, sobre as maravilhas do barroco português que o Museu de Arte Antiga irá desenterrar dos vários Museus Nacionais (Lembram-se de “O Triunfo do Barroco”?), sobre a mostra especial da Colecção Capelo de Design que o CCB terá produzido, sobre os  exemplares únicos e invulgares de arte africana do Museu de Etnografia apresenta ou sobre a rica e original colecção de artesanato que alguém em boa hora teve a ideia de imaginar para a Cordoaria.

Estou certo de que por todo o país isto se irá repetir e que nem todos os esforços de actividades extra-campeonato se resumam a espectáculos e fogos de artifício - apesar de tudo deve ter havido quem se tenha lembrado de ir pilhar umas ideias ao manancial de trabalho que está nos catálogos da Europália e que na altura, em 1991, fizeram o
levantamento do que de melhor tínhamos para mostrar.

À falta de trabalho, mais vale copiar o que está bem feito. Quando se chegar ao fim de Junho espera-se que Portugal tenha feito boa figura nos relvados, mas que fora deles se possa ter passado alguma coisa também – sem serem arruaças de “hooligans”.

O que de melhor nos poderia acontecer é que deste Euro 2004, para além dos estádios, ficasse uma imagem de diversidade, de modernidade, de multiculturalidade, mas também de tradição, identidade e história.

Há duas maneiras de olhar para isto: ou o último dia do Euro é um alívio e se mandam os estrangeiros embora ou é apenas o primeiro dia de um ciclo novo que capitalize o esforço que se fez para este acontecimento.

Gostava que esta última fosse a hipótese a vingar, e que o renovado ICEP, na sua vertente turística, tivesse muitas e boas razões para nos meses seguintes invocar os resultados da presença de tantos jornalistas em Portugal.

Já que estamos a falar da imagem de Portugal, pode ser que uma das coisas que se possa agendar para os tempos pós-Euro seja a criação de uma Film Commission como deve ser, que incentive à produção de mais filmes e audiovisuais estrangeiros em Portugal.

Os bons exemplos não faltam por esse mundo fora mas quem for ver o que os neozelandeses fizeram nessa matéria não dará o seu tempo por mal gasto. Temos mais dias de sol por ano que o resto da Europa, mais horas de luz também, menos dias de chuva idem.

De que estamos à espera para vender esse bem tão escasso que é o bom tempo para filmagens? E já nem falo do impacto que isto podia ter no audiovisual português...

Claro que tudo isto fica mais difícil depois de, no dia seguinte à derrota frente ao Futebol Clube do Porto, o site oficial do Manchester United dizer que o Estádio do Dragão fica em Espanha.

O assunto não é dispiciendo: para quê gastar milhões em estádios e num Campeonato da Europa, se depois não se consegue fazer passar a ideia do país, a localização das coisas, da identidade nacional?

Na segunda-feira estava em Inglaterra, numa reunião, e uma holandesa perguntava-me onde era Sintra, porque sabia que lá estava parte da Colecção Berardo, algo de que ela já tinha ouvido falar e que queria absolutamente ver.

Depois desta conversa fiquei com menos dúvidas sobre o futuro que o Pavilhão de Portugal devia mesmo ter.

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