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01 de Outubro de 2010 às 11:52

A esquina do Rio

No exacto dia em que começam as celebrações oficiais do Centenário da República a imprensa diária informa que o défice disparou

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Regime
No exacto dia em que começam as celebrações oficiais do Centenário da República a imprensa diária informa que o défice disparou, que as empresas do Estado têm a dívida descontrolada, que o preço dos medicamentos sobe e que o Estado continua sem cortar na despesa. O balanço do regime no seu centenário é o maior desemprego das últimas décadas, uma justiça que não funciona, e problemas que se agravam na saúde e na educação. O endividamento externo de Portugal está a níveis nunca vistos, todos os dias há novos sinais de falta de confiança internacional no país, há uma crise política latente há meses - em boa parte culpada de toda a situação a que se chegou - um Presidente da República hesitante, um Governo autista, oposições oscilantes. Ao fim de cem anos de República os cidadãos desconfiam de políticos e de partidos, os números da abstenção em actos eleitorais continuam a crescer, o afastamento das pessoas da participação activa na política é cada vez maior. O país político é cada vez mais diferente do país real.

Vivemos há cem anos em República - os 16 primeiros anos foram de confusão e descalabro (com algumas semelhanças aos tempos actuais em matéria das finanças públicas), os 48 anos seguintes foram de ditadura e os 36 mais recentes foram ora de festa, ora de esperança, ora de desilusão - até aqui chegarmos. Se olharmos para o que se passava há cem anos atrás veremos que os principais males de que o país padecia continuam a existir. O regime mudou, mas não resolveu problemas nem melhorou, de facto, a vida política. O regime republicano em si poucas responsabilidades tem nos progressos que se verificaram - são fruto dos tempos, como aliás as monarquias do norte da Europa bem mostram. As comemorações a que agora iremos assistir são uma espécie de propaganda dos poderes instituídos, com gastos mais que discutíveis nos tempos que correm, e com uma alarvidade de expressões públicas que roça o indecoroso.

Na realidade tudo se passa como se estes 100 anos fossem um mar de rosas, numa leitura acrítica e idílica do descalabro em que o país está a ser republicanamente governado. O descaramento é tanto que o Governo pretende aproveitar o 5 de Outubro para, nesse dia, inaugurar 100 escolas, depois de, ao longo dos últimos meses, ter imposto o encerramento de quase 4000 escolas. Mais do que uma celebração de um regime, as comemorações actuais são uma manobra de propaganda pura, que o actual Governo manipula em seu proveito, perante a complacência habitual do Chefe do Estado. A República não é uma ideologia, por muito que alguns pretendam. É apenas uma forma de organização do poder e por cá não tem dado grandes resultados.

Ver
"Desordem Comum" é o bom título da nova exposição de Pedro Calapez, na Galeria Miguel Nabinho, em Campo de Ourique, na Rua Tenente Ferreira Durão 18-B.
Até 16 de Novembro podem ser vistos trabalhos recentes e inéditos do autor.
Cores luminosas, combinações de formas, por vezes a sugerir meio caminho entre a pintura e a escultura, perspectivas invulgares, sugestões de movimento que nos prendem o olhar. Quadros animados, quase poderia dizer.

Ouvir
Aos 71 anos Mavis Staples conseguiu fazer um dos mais interessantes discos da sua já longa carreira, iniciada nas célebres Staples Sisters que ganharam fama nos anos 50 e 60 com um repertório baseado em gospels. Há três anos Mavis Staples revisitou alguns dos espirituais do tempo das Staple Singers, da época das lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos. Agora, neste novo disco, "You Are Not Alone", é acompanhada pelo líder dos Wilco, Jeff Tweedy, que produziu, fez arranjos e ainda compôs dois originais que Mavis aqui canta. Neste CD estão também dois originais do seu pai, Pops Staples, responsável por boa parte dos grandes êxitos das Staple Sisters - nomeadamente o arrebatador "Don't Knock", que abre o disco. Vários tradicionais e temas de outros autores como Randy Newman ou John Fogerty (ouça-se a interpretação emocionante de "Wrote A Song For Everyone") completam este disco que tem na voz e interpretação de Mavis Staples um excelente contraponto para o tratamento que Jeff Tweedy deu aos arranjos - inventivos, e obviamente com um ar de country contemporâneo. Curioso este cruzamento de talentos entre uma lenda dos espirituais, que chegou a trabalhar com nomes grandes do jazz, da soul e com Prince, com um dos expoentes das bandas rock independentes dos últimos anos, os Wilco. Para se perceber como a voz de Mavis Staples continua em excelente forma basta ouvir "Wonderful Savior", um tema tradicional cantado "a capella" de forma superior. (CD Anti, via Amazon).

Arco da Velha
"O relatório da EFTA não pode ser pessimista até porque foi negociado com o Governo" - afirmou Silva Lopes. "Um verdadeiro tratado de má economia" - foi assim que António Nogueira Leite classificou este relatório. E sobre o carteiro mexicano que veio fazer belos cenários para Teixeira dos Santos, Nogueira Leite desabafou no Facebook: "O ex-ministro do Partido Revolucionário Institucional do México veio dizer a barbaridade de que há pouca margem para cortar despesa. E o senhor até parafraseou Trotsky no comentário imbecil que fez sobre a injustiça dos juros que nos cobram os credores".

Ler
Não sou propriamente um devorador dos chamados romances históricos, mas confesso que me entusiasmei com "The Thousand Autums Of Jacob de Zoet", a mais recente novela de David Mitchell, que conta a história de um jovem funcionário holandês, em busca de fortuna num entreposto comercial estabelecido pelo seu país no Japão, perto de Nagasaki, em 1799. A escrita de Mitchell é, tradicionalmente, um manual de como definir personagens, de como cruzar narrativas. Às vezes Mitchell, um britânico que viveu muitos anos no Japão, é de uma minúcia descritiva - de locais, pessoas, ambientes, tradições ou conversas - que pode parecer exasperante. Mas esta é a técnica que utiliza para - literalmente - nos fazer viver dentro das histórias que inventa. Esta é fantástica e cruza a ganância dos homens com as tradições milenares do Oriente, uma paixão não consumada, a moral da época e formas pouco ortodoxas de compensar a vida monástica. Edição Sceptre, via Amazon.

Provar
A decoração é insípida, a vista é boa, o serviço é muito bom e a comida é acima do razoável. Feitas as contas o balanço final é positivo. O Restaurante do El Corte Inglés (não confundir com a Cafetaria que é mauzota e tem fraco serviço), fica no último piso do edifício, o sétimo. Aviso à navegação - só serve almoços, mas acontece que é um local central e simpático para uma conversa tranquila - as mesas são amplas e espaçadas umas das outras, a cozinha é atenta, a garrafeira é simpática e há boas propostas de vinho a copo. Vale a pena reservar, frequentemente está com a lotação completa. Para além das propostas diárias e de algumas semanas dedicadas a tradições culinárias específicas, a casa orgulha-se de um arroz caldoso de lavagante que é sempre muito elogiado, de um lombo de porco ibérico com cogumelos e de um tamboril salteado com amêijoas e molho verde.
Telefone 213711724



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