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19 de Outubro de 2012 às 11:50

A esquina do Rio

A SIC teve uma boa semana de celebração do seu 20.º aniversário. O trio de novelas que ocupa o "prime-time" da estação, "Dancin' Days", "Gabriela" e "Avenida Brasil", têm mostrado uma eficácia assinalável

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Vinte anos
A SIC teve uma boa semana de celebração do seu 20.º aniversário. O trio de novelas que ocupa o "prime-time" da estação, "Dancin' Days", "Gabriela" e "Avenida Brasil", têm mostrado uma eficácia assinalável, conseguindo mesmo levar a estação de Carnaxide à liderança em alguns dias. Com os jogos da Primeira Liga fora dos canais de sinal aberto (RTP, SIC e TVI), o futebol tem estado ausente do "top ten" de audiências, excepto quando a selecção joga - na terça-feira, o jogo Portugal-Irlanda fez com que a RTP tivesse sido líder de audiência por um dia, o que já não acontecia há muito tempo.
Desde o momento em que a SIC iniciou emissões, há 20 anos, muita coisa mudou. A RTP tinha, então, o monopólio das emissões de televisão, apenas sobressaltada por ainda raras antenas parabólicas que permitiam captar algumas emissões internacionais. O aparecimento da SIC veio introduzir uma concorrência séria - papel que a TVI, na fase inicial, meses mais tarde, não foi capaz de assumir. O que aconteceu já se sabe: o Governo da altura, na qualidade de accionista da RTP, podia e devia ter dado orientações para centrar o serviço público numa lógica complementar e não concorrencial em relação aos canais privados. Em vez disso, preferiu permitir que a RTP se assumisse, durante vários anos, como concorrente das estações privadas. E a RTP foi uma concorrente de peso: com experiência, com recursos técnicos, humanos e financeiros, com uma equipa de bons profissionais e com o espírito combativo de José Eduardo Moniz, fez a vida negra ao arranque da nova estação. Foi nessa época que as referências de serviço de interesse público foram substituídas por uma estação pública, concorrente com as privadas, nas audiências, na publicidade e na compra de direitos desportivos e de programas. Na realidade, foi há 20 anos que começou a traçar-se o panorama que levou a RTP onde hoje está, um presente de futuro incerto, uma empresa que caiu na tentação, demasiadas vezes, de procurar dificultar o desenvolvimento das estações privadas. Acredito que, agora, alguma coisa pode estar a mudar e espero que não seja perdida esta oportunidade. Há poucos dias, numa apresentação de novos programas da estação, Luís Marinho, o director-geral da RTP, usou uma boa citação, originalmente da BBC, para expor o que pensa dever ser o serviço público de televisão: "o bom tem de ser popular e o popular tem de ser bom".
Em jeito de remate, sobre esta questão do serviço público de televisão, é curioso notar como a anunciada intenção de cortar o financiamento da PBS norte-americana (o canal público que criou a Rua Sésamo) foi responsável por uma queda nas sondagens de Mitt Romney e como a campanha de Obama rapidamente utilizou bonecos da Rua Sésamo em "spots" publicitários contra o candidato republicano - a televisão pública dá dores de cabeça em todo o lado. Mas, se funcionar com um espírito de serviço público, é uma peça fundamental da garantia de desenvolvimento e diversidade da paisagem audiovisual.


Folhear
O número especial da revista "Egoísta", datado de Setembro e agora distribuído, é paradoxalmente dedicado ao altruísmo. É sobre o contraste do egoísmo com o altruísmo que escreve Mário Assis Ferreira no seu editorial e não resisto a reproduzir uma citação que ele faz de Platão: "o tamanho ideal de uma cidade era ser grande o suficiente para as pessoas não saberem o nome umas das outras, mas pequena o suficiente para que todos fossem capazes de reconhecer os outros pela fisionomia". Desta edição da "Egoísta", destaco os desenhos de Corto Maltese, obviamente de Hugo Pratt, que até Dezembro estarão na Fundação Eugénio Almeida,
em Évora, um poema de Fernando Luís Sampaio "Com a Vida Pela Metade" e a impressionante "Pequena Grande História do Altruísmo", de Patrícia Reis.


Ouvir
Esta semana, no Pequeno Auditório do CCB, tocou o quarteto de Tord Gustavsen, interpretando temas do álbum "The Well", uma obra recente e que tem sido considerada um dos melhores discos de jazz deste ano. Norueguês, psicólogo e pianista, Gustavsen começou com um trio (com baixo e bateria) e depois adicionou-lhe, mais recentemente, um saxofone. "The Well", o segundo disco que gravou com esta formação, resulta de uma encomenda feita para um festival internacional de música para igreja realizado no ano passado em Oslo. É um trabalho que por vezes evoca o gospel, sempre melodioso, envolvente de uma maneira rara, e construído com muita simplicidade. Não é difícil detectar as influências do estilo de Garbarek ou de Keith Jarrett neste disco e na obra de Gustavsen, mas ele tem um toque muito pessoal, de delicadas construções de harmonias. Eu, que não pude ir ao CCB, delicio-me todos os dias com este "The Well", chegadinho há pouco da Amazon.


Arco da velha
Um juiz do tribunal de Benavente soltou o violador de um rapaz de seis anos, seu vizinho, e o violador vai continuar a viver, na mesma rua, ao lado da vítima.


Ver
Até dia 28 deste mês pode ainda ser vista uma exposição imperdível - "O Modernismo Feliz: Art Déco em Portugal, pintura desenho e escultura de 1912 -1960". A exposição reúne dezenas de obras que ilustram bem como a art déco influenciou os artistas portugueses e como os nossos modernistas a souberam usar. Um dos núcleos fortes da exposição é a colecção de obras feitas por nomes como Almada Negreiros, Canto da Maia, Eduardo Viana ou Lino António para o Bristol Club, um dos grandes cabarets dos anos 20 em Lisboa, e, também, algumas das peças que estavam no café "A Brasileira". A exposição, que ocupa grande parte do espaço do Museu do Chiado, revisita a influência dos modernistas nas mais diversas áreas e é um retrato, pouco conhecido, do que era a Lisboa dos anos 20, no desenhar de uma crise onde não é difícil encontrar paralelos com a actual.


Semanada
José Sócrates foi fotografado a fazer jogging em Paris; José Castelo Branco anunciou querer candidatar-se à Câmara Municipal de Sintra; a educação é a área com maior corte orçamental; o Ministério das Finanças é dos que menos desceu no Orçamento do próximo ano; uma escola de Loulé recusou-se a servir almoço a uma criança cujos pais se atrasaram no pagamento das refeições; uma associação de proprietários de restaurantes prevê a falência de 40 mil estabelecimentos do sector em 2013; este ano já fecharam mais de 14 mil empresas; a criação de novos negócios caiu 15%; o ministro Santos Pereira afirmou que a proposta do Orçamento "não é em termos fiscais o melhor estímulo para a economia"; Vítor Gaspar disse que tem de ler melhor o que disse a presidente do FMI sobre os efeitos das medidas de austeridade na recessão da economia; Vítor Gaspar disse que tem de estudar melhor o que Cavaco Silva escreveu no Facebook sobre as medidas de austeridade; Manuela Ferreira Leite afirmou que é impossível cumprir o Orçamento de 2013.


Evitar
Uma das piores experiências que tenho tido nos últimos tempos em matéria de restaurantes passou-se há dias numa das esplanadas do Terreiro do Paço. O nome é "Museu da Cerveja", a casa não estava cheia e tudo correu mal. Serviço desatento, demoradíssimo. A demora e a desatenção perceberam-se quando os bifes pedidos chegaram à mesa - em vez de mal passados vinham bem passados e frios - frios mesmo. Tinham estado demasiado tempo à espera. As batatas fritas do acompanhamento estavam também frias - e moles. Também tinham sofrido com a espera. Chamada a atenção do responsável para o facto, limitou-se a dizer que na esplanada as coisas arrefecem muito depressa. Continuo a achar que quem não tem competência não se deve estabelecer e é este o caso notoriamente de quem dirige o local. Nota final: depois da reclamação tudo piorou - e o livro de reclamações, quando foi pedido, demorou praticamente dez minutos a chegar à mesa. Uma experiência a não repetir. A Câmara de Lisboa devia controlar a qualidade destes espaços do Terreiro do Paço.


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