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25 de Maio de 2012 às 12:31

A esquina do Rio

Saber o que se passou exactamente nas conversas entre Miguel Relvas, a jornalista Maria José Oliveira e a Direcção do "Público" é daquelas coisas que dificilmente irá acontecer.

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Pressão
Saber o que se passou exactamente nas conversas entre Miguel Relvas, a jornalista Maria José Oliveira e a Direcção do "Público" é daquelas coisas que dificilmente irá acontecer. Mas uma coisa é certa - este caso vem chamar a atenção para o óbvio: não se brinca com a comunicação e não vale a pena ter demasiados à vontades. Como dizia uma amiga minha, é sempre bom manter alguma cerimónia. A propósito, reproduzo aqui excertos de uma oportuna fábula escrita por Luís Paixão Martins no blogue "Lugares Comuns" (declaração de interesse - também lá escrevo): "No mesmo dia em que o "Público" enviou um "e-mail" com perguntas a Miguel Relvas, outro jornal enviou um 'e-mail' com perguntas ao presidente de uma grande companhia. Este segundo 'e-mail' foi parar ao director de comunicação dessa empresa. Numa análise rápida, este concluiu que as perguntas, embora não fizessem sentido porque partiam de pressupostos falsos, reportavam-se a um tema de grande cobertura mediática e que envolvia sensibilidade. Concluiu ainda que precisava de agir com rapidez e cuidado para evitar um problema de reputação para a sua empresa. Contactou a consultora de comunicação, descreveu o problema e pediu-lhe ajuda para abordar o assunto junto da editoria e da direcção do jornal em causa. Uma pequena equipa de assessores de imprensa dialogou com os jornalistas argumentando sobre a falta de fundamento das perguntas em causa, circunstância que retirava substância a eventuais respostas. Os editores e a direcção do jornal decidiram não insistir na obtenção de respostas às tais perguntas que partiam de pressupostos descabidos. E tomaram essa decisão sem sentirem que estavam a ser pressionados pelos assessores de imprensa - porque estes não têm nenhum tipo de poder junto dos jornalistas (…) Nas 24 horas em que este processo decorreu, o presidente da tal grande companhia esteve empenhado na sua actividade central de gestor - e manteve incólume o seu prestígio junto do jornal que o contactou. Para gerir esse prestígio não precisa de dar o número do telemóvel a jornalistas, atender todos os seus telefonemas e tratá-los com intimidade."


Folhear
Como é que uma mulher que morreu há 50 anos consegue continuar a ser capa de revistas? Marilyn Monroe morreu a 5 de agosto de 1962 e é ela que está na capa da "Vanity Fair" deste mês de Maio. O pretexto é uma série inédita de imagens suas, na derradeira sessão fotográfica que fez com Lawrence Schiller, durante as filmagens de "Something's Got To Give", em Maio de 52. Muitas destas fotografias apresentam-na quase nua, à vontade perante o então muito novo Schiller. Embora as sequências de imagens sejam extraordinárias, o mais delicioso é o relato que o próprio Larry Schiller faz do relacionamento profissional que estabeleceu com Marilyn até à morte da actriz. É um relato do fascínio que ela irradiava à sua volta e uma descrição desses tempos em Hollywood. Imperdível.


Ouvir
Jack White, o mesmo dos White Stripes, é um assumido apreciador de blues. "Blunderbuss", o seu álbum de estreia a solo, é um testemunho disso mesmo e, sobretudo, uma oportunidade para ele se revelar como autor de canções mais íntimas. Este "Blunderbuss", que, para mim, é até agora o melhor disco que ouvi este ano, tem canções absolutamente extraordinárias como "Hip (Eponymous) Poor Boy", "Sixteen Salines", "Love Interruption" e o sublime "Take Me With You When You Go". É um disco de histórias, às vezes confessional, tocado com um rigor e uma simplicidade absolutamente exemplares. Não há muitos talentos na música como Jack White e este disco é prova disso mesmo.


Marcas
Aviso: o objectivo desta nota é falar do novo filme da Prada. É realizado por Roman Polanski. E é absolutamente exemplar enquanto trabalho em prol de uma grande marca. Já lá vou, mas agora, deixando o cálculo do valor das marcas aos especialistas nas áreas do "branding", gostava de abordar a importância da criatividade, da qualidade, da estética e da consistência no posicionamento de uma marca e na manutenção dos seus valores. Uma marca que se queira posicionar nos segmentos superiores do mercado terá que ter critérios nos conteúdos em que investe, na sua embalagem, na forma dos materiais que usa para a sua marca. É como se uma reunião de especialistas em marketing achasse secundário o grafismo dos seus materiais. Se isso acontecesse, como poderiam esses "marketeers" acompanhar uma marca que se pretende posicionar acima da média e criar uma moda? A discussão é velha como o próprio marketing - comunicar para o máximo denominador comum ou comunicar por forma a criar um posicionamento determinado? O universo das marcas de luxo é rico em ensinamentos nesta área, mesmo na actual conjuntura de crise. É, aliás, curioso notar que, apesar da crise na Europa e das suspeitas de abrandamento nos países emergentes, se prevê para este ano um aumento de 6 a 7% no volume
de vendas das marcas de luxo. Um estudo recente dos consultores Bain&Company indica que os mercados emergentes já absorvem mais de 30% do volume total dos produtos de luxo, e que a China, sozinha, é responsável por 20%. Bom, mas voltemos à Prada, que foi onde esta conversa começou. Se forem ao YouTube e pesquisarem "Prada presents A Therapy" vão direitinhos ao filme de três minutos e meio que Roman Polanski realizou para a marca, com actores como Helena Bonham Carter no papel da paciente e Ben Kingsley no papel do psicanalista. O filme, que tem fotografia do português Eduardo Serra, é um exemplo de um conteúdo ficcionado criado para valorizar uma marca e para utilizar a estratégia viral na Internet. E tem o mais improvável dos finais.


Semanada
A Presidência do Conselho de Ministros celebrou um contrato anual de fornecimento de flores no valor de 18 mil euros; os portugueses trabalham em média 155 dias só para pagar os seus impostos de 2012, mais cinco dias que no ano passado; 300 pessoas por dia deixam de pagar aos bancos os empréstimos que contraíram; cortes levaram a menos 4 mil cirurgias no primeiro trimestre; 26,5% da população activa imigrante está desempregada; a comissão de inquérito ao BPN está a meio do seu prazo de funcionamento e ainda só ouviu duas pessoas de um total de 40 audições previstas; só 43% dos portugueses confiam em instituições políticas.


Ver
Uma frase de August Sander define aquilo que tem guiado a Estação Imagem, em Mora: "deixem-me honestamente dizer a verdade sobre as nossa época e as pessoas". Criada por iniciativa de um grupo de entusiastas, há uns anos, a Estação Imagem teve o apoio da Câmara Municipal de Mora, que lhe facultou uma antiga estação ferroviária como sede. Muito por força de Luís Vasconcelos, um fotojornalista com larga carreira e que nos últimos anos adoptou Mora como sua terra, a Estação Imagem pôs de pé um prémio anual de fotografia que já se tornou numa referência e tem seguido uma linha de persistente divulgação do melhor fotojornalismo. Entre os prémios que atribui, está uma bolsa que permite, ao premiado, dedicar-se a um tema, numa forma de aprofundamento do ensaio fotográfico que hoje em dia vai sendo raro em Portugal. Desde esta semana, e até 29 de Julho, estão patentes, no torreão Nascente da Cordoaria Nacional, três exposições de fotografia organizadas pela Estação Imagem, em parceria com a Câmara Municipal de Mora: "O PREC já não mora aqui", de João Pina, "Afeganistão", de João Silva, e os vencedores do Prémio de Fotojornalismo 2011. A exposição das 50 imagens sobre o Afeganistão, de João Silva, o português que ao serviço do "The New York Times" perdeu as duas pernas no rebentamento de uma mina, é um testemunho único do que é o dia-a-dia em cenário de guerra. As 24 imagens que integram a exposição de João Pina mostram como ele é um dos mais importantes fotojornalistas portugueses contemporâneos, bom representante de uma geração que mostra uma outra forma de ver Portugal. Finalmente, as imagens premiadas do Prémio de Fotojornalismo de 2011 são uma mostra do que de melhor se fez por cá e uma oportunidade para perceber a importância das imagens, mesmo fora das páginas dos jornais e das revistas, como testemunhos de um tempo e de uma época. Há muito tempo que Lisboa não tinha uma exposição de fotografia assim.


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