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20 de Maio de 2011 às 11:11

A esquina do Rio

O programa do PSD é um documento muito bem feito a nível do levantamento dos problemas que existem em algumas áreas

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Comunicar
O programa do PSD é um documento muito bem feito a nível do levantamento dos problemas que existem em algumas áreas, preconizando algumas medidas desejáveis e algumas medidas possíveis; infelizmente, é tecnicamente tão bom, quanto é difícil de utilizar do ponto de vista de comunicação. Alguém precisava de pegar neste programa e transformá-lo num manifesto, com linguagem clara, prioridades definidas, objectivos colocados de forma sintética, tudo isto divulgado de forma contemporânea e massificada. Assim, embora tenha um conteúdo político importante, arrisca-se a ser politicamente irrelevante - e isso é o pior que podia acontecer ao PSD nesta altura.

Transformando um pouco um belíssimo "slogan" recente, convinha que alguém dentro do PSD assumisse que Portugal é um país e não uma empresa - e que os métodos que funcionam numa empresa moderna e eficaz com uma liderança clara, não funcionam de todo num país deprimido, com um eleitorado confuso, sem liderança definida. Num país temos que balançar razão e emoção e, em comunicação, ideias a mais resultam numa má ideia e num péssimo resultado. O PSD tem um programa com boas ideias mas com muito insuficiente visibilidade. Têm duas semanas para tratar disto - e não resisto a citar o treinador do ano, André Villas Boas, em vésperas da final da Liga Europa: "O favoritismo não serve para nada".


Partidos
Votar num partido político não é seguir uma fé cega, é escolher entre várias propostas, comparar como cada um usou o poder e que resultados obteve. O ruído em torno do voto útil sempre me irritou um bocado e serve basicamente, em qualquer quadrante ideológico, para justificar o injustificável. As eleições têm por objectivo escolher quem tem melhores ideias, quem apresenta melhor equipa, pessoas que nos agradam e respeitamos. Votar de forma racional nos melhores é a única forma que temos por responsabilizar os partidos pelas escolhas que fazem. As eleições não são um jogo de futebol entre dois clubes - e reduzi-las a isto é passar um atestado de menoridade ao eleitorado. Como se vai vendo crescentemente, em cada vez mais países, é bom ter mais que dois partidos com expressão eleitoral significativa - até porque as eventuais coligações ficam mais fortes e estáveis.


Arco da velha
Os CTT cortaram o serviço à GNR em vários distritos por atrasos no pagamento das respectivas avenças postais, impossibilitando assim o envio de notificações e outros documentos (dos jornais).


Ouvir
Os fãs de Burt Bacharach poderão torcer o nariz quando souberem que Ronan Keating, um ex-Boyzone, se meteu com dez canções do mestre. Mas poderão recordar-se que antes dele, outros hereges como George Michael ou Robbie Williams, percorreram os temas clássicos de Burt. Keating escolheu, entre outros, "The Look Of Love", "Walk On By", "I'll Never Fall On Love Again", "What the World Needs Now" ou "Make It Easy On Yourself" para mostrar que tem uma maneira pessoal de revisitar estas canções, acrescentando um assinalável trabalho de interpretação - que manifestamente não hesita em subverter a tradição, como, por exemplo, em "I Just Don't Know What To Do With Myself", que até consegue quase deixar para trás a versão, de referência, de Dusty Springfield. Claro que a participação do próprio Burt Bacharach na produção deste disco e em alguns arranjos que refez para a ocasião, ajudam muito ao bom resultado final. E mesmo que a voz de Ronan Keating não se compare à de George Michael, ele consegue aqui um novo estatuto musical.


Ler
Nesta época de discussão de políticas é muito útil reler "Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico", a obra de referência de Orlando Ribeiro, publicada originalmente em 1945 e com várias actualizações e edições até 1986 e, uma edição especial, posterior, de 1993, com o texto abreviado e com fotografias de Jorge Barros. A editora Letra Livre colocou agora no mercado o texto original, "testemunhando uma visão inovadora (…)sobre a personalidade do país". Há muito esgotado, este livro que agora regressa é um apelo a que estudemos o que nos rodeia e encaremos a realidade.


Televisão
Nas últimas semanas voltou à baila o tema da privatização da RTP, de uma forma bastante confusa no entanto. Existe aqui uma questão prévia - estamos a falar de privatização da concessão do serviço público ou de privatização da empresa RTP, ou de ambas? Se estamos a falar de privatização da concessão do serviço público convém primeiro que sejam bem definidas as obrigações que o operador escolhido deve preencher e as condições em que o fará, e o que acontece a seguir à RTP. Se estamos a falar da privatização da empresa RTP temos que ver qual o seu impacto no mercado, sobretudo na situação actual. Esta não é uma questão ligeira porque a RTP, para além do universo radiofónico, que não vou aqui considerar, detém dois canais de televisão em sinal aberto, dois regionais, dois internacionais e dois canais de cabo, todos eles com receitas de publicidade, embora nos dois canais abertos com um regime especial, mais limitado que o dos operadores privados. Não há nada que impeça que a RTP possa vir a ser privatizada, no todo ou em parte - no entanto, o Estado tem o dever de agir por forma a salvaguardar a concorrência e evitar um súbito desequilíbrio no mercado. O mercado de televisão em sinal aberto vale, em termos publicitários, cerca de 350 milhões de euros por ano, ou seja cerca de metade do total do investimento anual publicitário do mercado português. Este volume total não estica e não tem crescido - aliás tem diminuído de forma progressiva ao longo da última década e sobretudo nos últimos dois anos. Por outro lado assiste-se, desde 2010, a uma quebra do investimento nos canais abertos (os da RTP , a SIC e a TVI) e a um aumento do investimento nos canais de cabo - mas convém esclarecer que, no universo da televisão, todos os canais considerados, não há um aumento mas sim uma diminuição das receitas publicitárias totais. Neste ano, por exemplo, tem existido espaço livre em todos os canais comerciais - ou seja a oferta já é quase sempre maior que a procura. A consequência disto é que os preços irão ter, a manter-se esta situação, uma tendência para diminuir ainda mais. Se por força de uma privatização da RTP, no todo ou em parte, forem disponibilizados mais seis minutos - e no pior dos cenários mais 12 minutos de publicidade por hora nos canais abertos - a oferta ainda aumentará mais e a procura não crescerá seguramente ao mesmo ritmo. Ou seja, com um excesso de oferta e a mesma procura (cenário optimista), ocorrerá uma redução ainda maior dos preços negociados, e isto tem duas consequências: os operadores de televisão terão receitas menores - o que pode pôr em causa a sua sobrevivência; e por outro lado o mercado português, que já tem uma percentagem de investimento publicitário muito alto em televisão quando comparado com outros mercados europeus, terá um desvio ainda mais acentuado - e quase inevitavelmente à custa de quebras ainda maiores no investimento em imprensa - que neste momento é o elo mais fraco da cadeia dos media. Nós precisamos, em Portugal, de grupos fortes de media - só assim está assegurada a livre expressão, um dos pilares das sociedades livres e da democracia. Enfraquecer os grupos de media é corroer a base da democracia. Qualquer movimento que se faça em relação à RTP tem que ter isto em conta.


Ver
A exposição de José Pedro Croft "Marcações e Territórios" na Chiado 8; a exposição de fotografia de autores africanos "Fronteiras", na Gulbenkian, inserida no ciclo Próximo Futuro; e a exposição "O Crespúsculo dos Deuses" de João Fonte Santa na VPF Cream Art Gallery.



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