Opinião
A esquina do Rio
No ano passado o investimento publicitário no mercado português desceu mais uma vez
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No ano passado o investimento publicitário no mercado português desceu mais uma vez e as estimativas mais conservadoras apontam para uma queda em valores próximos dos 2,5% - isto depois de, em 2009, a diminuição ter sido mais violenta, de 15%. Em dois anos desapareceram do mercado cerca de 120 milhões de euros de investimento.
Já é possível perceber que a imprensa, sobretudo a diária, foi o sector mais prejudicado e em 2010 a coisa foi de tal forma que os investimentos publicitários captados directamente pelos jornais diários já ficaram, em termos de valores líquidos, atrás da rádio, da televisão por cabo e também da internet (se contabilizarmos a estimativa de publicidade colocada em motores de busca). Na realidade, a imprensa diária teve uma queda de cerca de 15% e a não diária conseguiu suster a queda próximo dos 6%. Na média geral a imprensa desceu cerca de 9%, a maior queda do sector.
A grande surpresa de 2010 foi o significativo aumento do investimento em canais de cabo. Enquanto os canais generalistas tiveram uma quebra ligeiramente inferior a 4%, o conjunto dos canais de cabo teve um crescimento de quase 19%, o segundo maior crescimento do mercado, logo a seguir à Internet, que cresceu mais de 25%. Este resultado conjunto dos canais de cabo e dos canais em sinal aberto fez com que o investimento global em televisão caísse apenas cerca de 2%, contra uma queda superior a 13% no ano anterior.
O bom desempenho do Cabo tem uma razão evidente: a segmentação dos públicos de televisão é cada vez mais evidente e os anunciantes descobriram que canais como a SIC Notícias, a SIC Mulher, o AXN, a FOX e FOX Life, a RTP N e TVI 24 e, claro, a Sport TV, já tinham conquistado audiências consideráveis e que lhes garantiam eficácia a bom preço. O crescimento do mercado de televisão por subscrição, verificado nos últimos dois anos, desde que o MEO entrou em cena, ajudou a tornar os números de audiência bem mais interessantes - e os departamentos comerciais dos vários operadores reagiram com rapidez a isto.
Neste contexto não é preciso ser bruxo para especular que a tendência para a dispersão do investimento publicitário em televisão pelos canais de cabo vai continuar a crescer - quando o novo sistema de audiometria estiver a funcionar, os canais de cabo serão certamente os mais beneficiados pela correcção da amostra e pela nova tecnologia utilizada. Não me admiro se durante este ano surgirem novos canais de cabo de produção local, explorando a vontade de o público ter alternativas. Na televisão vai dar-se uma fragmentação semelhante à que há uns anos aconteceu na imprensa. E inevitavelmente neste ano, na imprensa, vamos assistir a um movimento de encerramento de títulos e de concentração que, aliás, já se iniciou.
Mas o digital é o sector que se adivinha mais curioso de seguir. A proliferação dos "tablets" terá um efeito multiplicador em termos de audiência e frequência de utilização. As possibilidades de segmentação e do contacto tendencialmente individualizado, nas redes sociais e em outras plataformas mais tradicionais, vão constituir um chamariz de investimento. É um mercado em que a sofisticação técnica e de instrumentos de análise e controlo terá cada vez maior importância. Mas é também um mercado em que a qualidade dos conteúdos e o valor das marcas informativas ou de lazer terá peso e capacidade de atracção de utilizadores. A convergência entre a "media" tradicional e a "media" digital vai acelerar de forma inevitável e a utilização de dispositivos móveis vai ser a grande impulsionadora de mudança nos próximos anos.
Já é possível perceber que a imprensa, sobretudo a diária, foi o sector mais prejudicado e em 2010 a coisa foi de tal forma que os investimentos publicitários captados directamente pelos jornais diários já ficaram, em termos de valores líquidos, atrás da rádio, da televisão por cabo e também da internet (se contabilizarmos a estimativa de publicidade colocada em motores de busca). Na realidade, a imprensa diária teve uma queda de cerca de 15% e a não diária conseguiu suster a queda próximo dos 6%. Na média geral a imprensa desceu cerca de 9%, a maior queda do sector.
O bom desempenho do Cabo tem uma razão evidente: a segmentação dos públicos de televisão é cada vez mais evidente e os anunciantes descobriram que canais como a SIC Notícias, a SIC Mulher, o AXN, a FOX e FOX Life, a RTP N e TVI 24 e, claro, a Sport TV, já tinham conquistado audiências consideráveis e que lhes garantiam eficácia a bom preço. O crescimento do mercado de televisão por subscrição, verificado nos últimos dois anos, desde que o MEO entrou em cena, ajudou a tornar os números de audiência bem mais interessantes - e os departamentos comerciais dos vários operadores reagiram com rapidez a isto.
Neste contexto não é preciso ser bruxo para especular que a tendência para a dispersão do investimento publicitário em televisão pelos canais de cabo vai continuar a crescer - quando o novo sistema de audiometria estiver a funcionar, os canais de cabo serão certamente os mais beneficiados pela correcção da amostra e pela nova tecnologia utilizada. Não me admiro se durante este ano surgirem novos canais de cabo de produção local, explorando a vontade de o público ter alternativas. Na televisão vai dar-se uma fragmentação semelhante à que há uns anos aconteceu na imprensa. E inevitavelmente neste ano, na imprensa, vamos assistir a um movimento de encerramento de títulos e de concentração que, aliás, já se iniciou.
Mas o digital é o sector que se adivinha mais curioso de seguir. A proliferação dos "tablets" terá um efeito multiplicador em termos de audiência e frequência de utilização. As possibilidades de segmentação e do contacto tendencialmente individualizado, nas redes sociais e em outras plataformas mais tradicionais, vão constituir um chamariz de investimento. É um mercado em que a sofisticação técnica e de instrumentos de análise e controlo terá cada vez maior importância. Mas é também um mercado em que a qualidade dos conteúdos e o valor das marcas informativas ou de lazer terá peso e capacidade de atracção de utilizadores. A convergência entre a "media" tradicional e a "media" digital vai acelerar de forma inevitável e a utilização de dispositivos móveis vai ser a grande impulsionadora de mudança nos próximos anos.
Ver
A fotografia está em alta por estes dias. No museu Arpad Szenes-Vieira da Silva (Jardim das Amoreiras), sob a designação "Retratos de Mulheres", estão expostas imagens de MAN Ray, Jorge Martins e Julião Sarmento. De Man Ray, o único cuja criação foi essencialmente fotográfica, está exposta a célebre série "The Fifty Faces Of Juliet", feita entre 1941 e 1955. Jorge Martins mostra uma série, "Eros Cromático", feita entre 1964 e 1973, com as imagens fotográficas coloridas a lápis de cera e algumas outras, mais recentes, com uma técnica que mistura fotografia e ilustração e que tem muitas semelhanças com a célebre aplicação "Brushes" para iPhone - é uma mostra inédita desta faceta do pintor. Finalmente Julião Sarmento apresenta 62 fotografias de 31 mulheres, realizadas ao longo de 42 anos, numa escolha de Sérgio Mah, todas elas entre o registo da intimidade e o instantâneo proporcionado pela luz ou a circunstância - e a fotografia é assídua na obra de Julião Sarmento. O museu está aberto de segunda a domingo entre as 10h00 e as 18h00 e é uma boa ocasião para ver como a fotografia, para ser criativa, não precisa de ampliações em formatos gigantes, como infelizmente se tem tornado hábito. O tamanho não é tudo, na realidade - a esse propósito a exposição "Ópera" fotografias de Augusto Alves da Silva, no Museu da electricidade, esconde na dimensão a sua vulgaridade.
Ouvir
Jason Beck é um pianista, de formação clássica e prática "rock", com incursões no "rap" e na "lounge music". É conhecido sob o nome de Gonzales, Chilly Gonzales, e actua em Lisboa neste sábado à noite, em duas sessões, no Space, em Alcântara. A sua obra mais conhecida data de 2005 e é "Solo Piano", agora reeditado entre nós numa edição especial que é uma tentação. Ao disco original foi acrescentado um DVD em que Gonzales se propõe dar uma série de aulas de piano. O vídeo é mais divertido do que eficaz, mas mostra a capacidade de "entertainer" que o músico também tem. Para além das "lições", o DVD inclui diversas actuações e vídeos e é um bom complemento ao disco original. De qualquer forma, o CD com as 16 composições de "Solo Piano" merece, só por si, ser escutado com atenção. Gonzales inspirou-se claramente nas "Gymnopédies" de Erik Satie e o resultado é uma bela surpresa.
Arco da velha
O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha Nascimento, considera que as conversas telefónicas de José Sócrates com Armando Vara sobre a eventual compra da TVI são exclusiva e estritamente pessoais e do foro das respectivas vidas privadas. O facto de as duas pessoas serem da direcção do PS e uma delas ser primeiro-ministro, e ambos estarem a ver como poderiam tornar a TVI menos incómoda para o Governo, é obviamente, também, uma questão pessoalíssima.
Ler
A edição de Fevereiro da revista "Monocle" tem por tema central uma série de reportagens sobre casos de mudança - em países e em cidades - que correram de forma especialmente positiva nestes conturbados tempos de crise. Por coincidência, um dos entrevistados desta edição é Mohammed ElBaradei, o homem que depois de ter estado 12 anos à frente da Agência Internacional da Energia Atómica e de ter ganho um Nobel da Paz (em 2005), decidiu voltar ao seu Egipto e dinamizar a democratização do país. A entrevista foi feita muito antes dos actuais protestos e é oportuníssima - até porque nela ElBaradei estabelece praticamente um plano de acção.
Agenda
"A Cena do Ódio" é um novo programa de rádio, aos domingos, na "Antena Um", entre as 11 e o meio-dia. É um daqueles programas de rádio como já não havia, um programa pensado, músicas escolhidas em redor de um tema, textos cuidados, uma realização minuciosa. No comando do programa está David Ferreira, que todas as semanas propõe um tema - e esta semana é, muito adequadamente à situação geral, "a revolta".
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