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Opinião
21 de Abril de 2011 às 11:39

A esquina do Rio

O conservadorismo do nosso sistema político e partidário é também aferido pela posição dos partidos face aos debates na televisão.

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O conservadorismo do nosso sistema político e partidário é também aferido pela posição dos partidos face aos debates na televisão. A SIC propôs uma pequena variação do modelo existente, muito na linha do que se faz nos outros países, para permitir que os líderes partidários possam ser confrontados com perguntas directas dos espectadores/eleitores.

Pois os partidos recusaram e impuseram o modelo vigente de A debate com B e por aí fora. Eu não percebo como é que os responsáveis partidários querem atrair votantes se não se esforçam por descer à terra e se continuam a mostrar a maior insensibilidade pela necessidade de fazer uma comunicação que seja atraente, em vez da propaganda antiga em que persistem e que tão maus resultados tem dado - em termos de participação eleitoral. Se calhar temos que perceber que os partidos não querem atrair votantes e estão contentes com os elevados níveis de abstencionismo, desde que consigam os seus pedaços de poder.

Não é o sentido mais profundo da democracia que lhes interessa, mas apenas a forma de maximizar a utilização do sistema em proveito e poder próprios. Por falar nisto acho que devia existir uma campanha para convencer a "geração à rasca" que o voto pode ser uma forma de manifestarem opinião - se votarem mesmo serão muito mais eficazes do que se estiverem apenas limitados ao Facebook, por muito importante que ele seja hoje em dia - e é, mas não conta votos. Finalmente - espero que a Comissão Nacional de Eleições faça uma campanha de apelo ao voto para ir buscar novos eleitores e aumentar a participação eleitoral. Algo me diz que desse ponto de vista a coisa não vai correr bem.


Lisboa
Enquanto António Costa vai vendo como consegue passar sem grandes danos no meio da crise do PS, Lisboa, a cidade que ele devia governar, está cada vez mais velha e vazia, ao contrário do resto da região. De acordo com um estudo do Observatório Regional de Lisboa e Vale do Tejo, acontece que Sintra, Seixal, Vila Franca de Xira, Moita e Mafra são os concelhos mais jovens e dinâmicos da região. Lisboa é um conselho que tem envelhecido e perdido gente, incapaz de atrair os mais novos. No País, entre 2000 e 2009 a população cresceu 3,73%, na Grande Lisboa a população cresceu 6,3%, mas o concelho de Lisboa perdeu no mesmo período 15,58%. Os habitantes de Lisboa são punidos no dia-a-dia por persistirem em viver numa cidade que é mais governada para quem a visita do que para quem nela vive - apesar de serem os seus habitantes que pagam as taxas, os impostos, as multas da EMEL, a sobranceria das obras eternas e da degradação. Lisboa pode ser uma cidade fantástica para os turistas que nos visitam, mas para quem cá vive é uma metrópole cara, desconfortável e incómoda: não há outra explicação para que perca tanta população numa década...


Ouvir
Daniel Hope é um dos mais aplaudidos violinistas contemporâneos e "The Romantic Violinist" é o seu mais recente disco, pensado como uma homenagem a Joseph Joachin, um dos maiores violinistas do século XIX. O disco inclui repertório do próprio Joseph Joachin e de outros compositores marcantes como Bruch, Brahms, Schubert ou Dvorak. Acompanhado pela Real Orquestra Filarmónica de Estocolmo, dirigida por Sakari Oramo, Daniel Hope tem também a companhia do pianista Sebastian Kramer numa interpretação exemplar das "Romanze" de Joseph Joachin e da soprano Anne Sofie von Otter numa canção de Brahms. CD Deutsche Grammophon.


Realidade
Manuel Villaverde Cabral, numa entrevista ao "Correio da Manhã", recordou uma realidade que às vezes escapa às memórias mais distraídas: nos últimos 40 anos o FMI já foi chamado três vezes e sempre pela mão do PS. Claro que desta vez o descalabro é maior e os remédios que virão na receita serão bem mais difíceis de tragar. Mas isso não impede que todos devamos fixar o facto de os governos liderados por socialistas terem uma grande tendência para darem cabo das contas públicas e de ignorarem as chamadas de atenção à realidade. Para além deste facto há outro, muito grave, que se traduz nisto: nos últimos anos aumentou de forma brutal em Portugal o fosso entre os mais pobres e os mais ricos. Há uma década o nosso país era mais equilibrado e menos injusto - anos e anos de PS no poder provocaram de facto um agravar das injustiças sociais e da diferença entre quem mais recebe e quem menos tem. Este fosso é o legado que Sócrates nos deixa e é uma das principais razões para não se votar nele.


Provar
Numa das mais prestigiadas listas dos melhores restaurantes do mundo, divulgada esta semana, aparece um único português - o Vila Joya, dirigido pelo "chef" Dieter Koschina, colocado na 79ª posição. O Vila Joya, localizado na Galé, no Algarve, é o único restaurante português com duas estrelas Michelin - mas seria injusto dizer apenas isto. Trata-se de um local único, de uma cozinha verdadeiramente de excepção, baseada na extrema qualidade dos ingredientes e na criatividade na forma de os tratar, sem exageros nem modernices gratuitas. Ir lá jantar é uma experiência e uma aventura na descoberta de paladares. O jantar consta de sete pratos, da entrada à sobremesa, mas não se pense que é um exagero impossível - a qualidade da cozinha faz com que a refeição se passe de descoberta em descoberta e sem qualquer sensação de enfado. A reserva é obrigatória, o jantar fica em 135 euros por pessoa, mais os vinhos, escolhidos de uma carta que inclui muitas preciosidades. O serviço é absolutamente inexcedível. Telef. 289 591 795.


Ver
Na Fundação de Serralves está, desde esta semana, uma exposição imperdível - "In Intinere", de José Barrias, um artista português que vive em Milão e que durante alguns anos preparou minuciosamente esta sua mostra. É uma exposição invulgar porque trabalha sobre o próprio espaço, quer usando as paredes como suporte de textos escolhidos, de citações a breves notas, quer alterando a arquitectura das salas. Em qualquer caso, coloca o espectador como participante numa viagem onde as referências à história da arte se misturam com referências pessoalíssimas do autor, algumas íntimas, como na sala que evoca a vida de Barrias. Mas em todos os casos está patente a imaginação e a criatividade - seja na encenação dos espaços, seja nos desenhos e na pintura. É uma exposição cheia de pormenores, pensadíssima, e que desafia quem a visita a tornar-se cúmplice do autor. A exposição está pensada e montada como uma narrativa que vai levantado aos poucos o véu sobre o trabalho do artista e que culmina na apoteose final da perspectiva que nos conduz de novo à origem das coisas. É quase uma encenação teatral que faz de cada visitante um actor, que percorre o universo proposto por José Barrias. Em Serralves, até 3 de Julho.


Arco da velha
Ricardo Rodrigues, o deputado do PS que roubou os gravadores a jornalistas da "Sábado", e que é alvo de um processo por crime contra a liberdade de imprensa, instaurado pelo Ministério Público, foi de novo escolhido por Sócrates para integrar as listas do PS nos Açores.


Semanada
O bastonário da Ordem dos Advogados apelou a que os eleitores não votem; Mário Soares percebeu finalmente que a Europa está em desagregação; Freitas do Amaral afirmou que não votará em Sócrates, mas está indeciso entre PSD e PP; Mário Soares critica o comportamento do PS e PSD na pré-campanha eleitoral e elogia a posição que o PP tem mantido; Fernando Nobre disse uma coisa e o seu contrário no espaço de 48 horas - da entrevista ao "Expresso" até à entrevista na televisão.


Frase
"Fernando Nobre é o perpétuo desmentido de si próprio"
Fernando Sobral, no "Pulo do Gato", deste jornal.


Ler
Eis um tema melindroso: "a intenção é o Animal e a tentação descai para o Homem", assim escreve Mário Assis Ferreira nesta edição da revista "Egoísta", que dirige, cujo tema é exactamente o ser animal. Não sei se diga que este número da "Egoísta" é mais para ler ou mais para ver, já que as opções de edição fotográfica da revista estão cada vez mais apelativas. A edição deste trimestre, datada de Março, abre bem com José Luís Peixoto, e o seu texto "Trabalhos Sensíveis", que começa assim: "Se há uma coisa que tenho aprendido com os bichos-da-seda é que o ódio não faz falta neste mundo". Há nomes a escrever, bem, nesta edição: Filipa Leal. Maria Manuel Viana ou Henrique Botequilha - e há clássicos, como Hélia Correia, simplesmente genial. Na fotografia há imagens superiores de Augusto Brázio, de Céu Guarda e de Valter Vinagre.
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