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12 de Fevereiro de 2013 às 23:30

625 salários p’ró estaleiro

"Foi sem mais nem menos/Que um dia selei a 125 azul/Foi sem mais nem menos/Que me deu para arrancar sem destino nenhum." Lembra-se disto? É a "125 Azul", dos Trovante, que faz parte do álbum "Terra Firme", editado em 1987 e que inclui a mais famosa e, porventura, mais bonita música do grupo liderado por Luís Represas: "Perdidamente" (letra de Florbela Espanca).

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Nunca gostei da irritante 125. Mas lembrei-me da música assim que escrevi o título deste Visto por Dentro. É que temos uma gigantesca empresa estatal em Viana que acelera no vermelho, há já bastante anos, sem destino nenhum. Como é que é possível o Estado dar-se ao luxo de ter 625 trabalhadores parados desde Junho de 2011? Há 20 meses que os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) andam a pagar salários, o serviço da dívida e os custos decorrentes da operação sem encaixar receitas.


O Negócios escreveu há dias que o encerramento da empresa voltou a ser um cenário possível. O Governo nem piou. E quem também devia estar caladinho, logo se aproveitou da situação: deputados socialistas, que encontraram "uns estaleiros dramaticamente parados, com um ar fantasmagórico", vão pedir a cabeça do ministro da Defesa caso a privatização dos ENVC falhe.

Os socialistas só se esqueceram de referir um "pormaior": a privatização foi suspensa porque Bruxelas desencadeou uma investigação aprofundada aos apoios estatais de mais de 180 milhões de euros concedidos à empresa, entre 2006 e 2010, durante os governos liderados por José Sócrates.

O passivo dos ENVC, que já atingia quase 300 milhões de euros, poderá assim crescer para aproximadamente 500 milhões. Como o único privado que se mantém na corrida (por mais umas semanas!) dá só meia dúzia de milhões pela concessão, estamos mesmo a ver para quem vai sobrar a factura.

E este nem é o maior problema. Catastrófico será a privatização ir mesmo ao fundo, ficando o Estado com uns estaleiros falidos, sem destino nenhum e com 625 trabalhadores a verem passar os navios. O ministro Aguiar-Branco, que tutela o dossier, fez tudo mal: deixou o processo arrastar-se, demorou a tomar decisões, não blindou a privatização.

Já a estatal Empordef, que detém os estaleiros, decidiu participar à PGR dúvidas na rejeição do "ferry" Atlântida pelos Açores. Só agora? É que já lá vão perto de quatro anos desde que a estatal Atlânticoline cavou nos ENVC um buraco com mais de 70 milhões de euros de prejuízos.

*Coordenador do Negócios Porto

Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

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