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18 de Novembro de 2013 às 00:01

Três tristes tigres

1. O secretário de Estado do Emprego, Octávio de Teixeira, prometeu em directo, na SIC, "acompanhar de forma discreta e recatada" o caso de uma amiga de Mário Crespo. O jornalista referiu-lhe a situação de uma amiga, licenciada em Economia e desempregada, a quem o Instituto de Emprego e Formação Profissional havia proposto estágios de cabeleira ou jardineira, desajustados com a sua formação.

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1. O secretário de Estado do Emprego, Octávio de Teixeira, prometeu em directo, na SIC, "acompanhar de forma discreta e recatada" o caso de uma amiga de Mário Crespo. O jornalista referiu-lhe a situação de uma amiga, licenciada em Economia e desempregada, a quem o Instituto de Emprego e Formação Profissional havia proposto estágios de cabeleira ou jardineira, desajustados com a sua formação. 


Esta disponibilidade de Octávio de Teixeira revela que as "cunhas" continuam a fazer escola no Estado e que o favorecimento de alguém, só porque tem um amigo influente, é praticado com naturalidade. Os maus exemplos vêm sempre de cima, como o comprova esta atitude do secretário de Estado. Octávio de Teixeira, perante tamanho dislate, devia logo ter apresentado o seu pedido de demissão. Não o fez, nem o primeiro-ministro, Passos Coelho, o convidou a tomar tal atitude. Esta não é uma história menor. É uma conduta triste e reprovável que passa impune e dá razões acrescidas aos portugueses para desconfiarem de quem os lidera.

2. O presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, avisou há menos de um mês que não estavam reunidas as condições para construir uma parceria estratégica com Portugal. O chefe de Estado não o verbalizou, mas a sua constatação resultava do facto de alta figuras do Estado angolano (o vice-presidente, o procurador-geral da República e o chefe da sua Casa Militar) estarem a ser investigadas pela Justiça portuguesa e pelos processos se arrastarem de forma paquidérmica, sem que tivessem desfecho à vista.

José Eduardo dos Santos falou e os processos começaram, subitamente, a ser arquivados. Rui Machete fez o que não lhe competia quando pediu desculpa a Angola pelos processos, mas quem sai pior deste filme é a Justiça portuguesa, porque fica no ar a sensação de que estes processos foram usados para fazer política e criar confusão. Todo este folhetim é triste e coloca Portugal, desnecessariamente, numa posição de tibieza face a Angola.

3. O Negócios chamou-lhe "golpe de Estado". Uma figura de estilo para ilustrar o afastamento formal entre Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi, com tudo aquilo que acarretou, tornando públicas e notórias as divergências no grupo Espírito Santo. Já esta semana os dois banqueiros acabaram por fazer uma trégua táctica. Ricardo Salgado admite que José Maria Ricciardi lhe possa suceder e este dá ao primo o voto de confiança na gestão do BES que antes lhe recusara. Este cerrar de fileiras, contudo, é incapaz de esconder o essencial. Aquilo que se passou na família Espírito Santo significa um corte estrutural e a divisão dos seus membros em duas facções: os que apoiam Salgado e os que estão ao lado de Ricciardi.

A paz que os dois agora garantiram é transitória. E eles sabem-no melhor que ninguém. Este não é apenas um episódio triste. É um ponto de viragem que coloca um grande ponto de interrogação relativamente ao futuro do Grupo Espírito Santo.

*Subdirector

Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

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