Opinião
XLAB no ISEG. Experimentem!
O método experimental é hoje usado de forma transversal nas ciências económicas e poucas serão as questões para as quais a abordagem experimental não contribuiu já.
Uma empresa tem dúvidas sobre o tipo de embalagem que quer para os seus “snacks” que o mercado associa a um alimento reconfortante quando se está sob pressão. Para o testar desafia o ISEG a realizar uma experiência laboratorial: enquanto um estudante faz um teste online à frente de um computador são-lhe colocadas duas embalagens diferentes com o mesmo produto dentro. Qual o preferido? Como é que a pessoa testada escolhe com base apenas na embalagem?
Há muito que a economia experimental é aceite como uma ferramenta da ciência económica, a par da teoria e dos dados empíricos não experimentais. Os dados experimentais são gerados e analisados com o objetivo de testar uma teoria, uma política ou um mercado.
E por que razão precisamos de criar dados recorrendo a experiências quando abundam dados que deixamos um rasto digital grande e complexo de forma mais ou menos consciente a ponto de se falar de “big data” e de “data mining”? Através do método experimental, podemos gerar dados de forma controlada. Através deste método garantimos que a forma como desenhamos e implementamos uma experiência é cuidadosamente pensada com o objetivo de isolar o efeito que se pretende estudar. Pois, pequenas variações no desenho de uma experiência podem afetar os resultados de forma crucial, as quais podem vir a ser decisivas na confirmação ou na rejeição de uma teoria, na escolha de um produto, na adoção de uma política, na definição das regras de um qualquer mercado. Por isso, porque a realidade é demasiado complexa e com demasiadas variáveis que podem tornar espúrios, ou seriamente questionáveis, os resultados desenvolvemos experiências que permitem o controlo e um maior rigor no processo de descoberta das ciências humanas.
Há experiências de campo e de laboratório. A importância das primeiras na economia do desenvolvimento foi reconhecida em 2019 com o chamado “prémio Nobel da Economia”, atribuído a Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer pelos seus contributos para a luta contra a pobreza usando métodos experimentais.
As segundas, as experiências de laboratório, são hoje feitas no XLAB-Behavioural Research Lab do ISEG. Aqui, os investigadores desenham uma experiência que replica as características principais de uma qualquer situação que desejam estudar. Se queremos testar os efeitos de uma intervenção de política num mercado de compra e venda de ações, os participantes na experiência recebem inicialmente um valor em dinheiro e um conjunto de títulos que podem transacionar numa plataforma durante vários períodos. Na experiência, os investigadores fazem variar as regras de mercado e os incentivos, com o objetivo de observar o impacto sobre o comportamento dos participantes e assim avaliar o efeito da política implementada, comparando, eventualmente, com as previsões da teoria económica.
O método experimental é hoje usado de forma transversal nas ciências económicas e poucas serão as questões para as quais a abordagem experimental não contribuiu já.
No ISEG, as experiências são também uma ferramenta de ensino e aprendizagem. Os nossos alunos não são apenas espetadores, mas participantes ativos que aprendem fazendo experiências sobre preferências (incluindo as sociais), tomadas de decisão, negociação, mercados, utilização de recursos comuns, dinâmica interna das empresas e de outras organizações, bolhas especulativas, corridas aos bancos, etc. A lista é interminável.
No final do teste a empresa reconhece que a embalagem dos “snacks” mais procurada pelos estudantes para consumo por impulso, foi a colorida. Mas, curiosamente, depois de esgotadas ambas as embalagens, quando foi servida uma segunda ronda igual à primeira, os consumidores pareciam mais inclinados para preferir em primeiro lugar a embalagem preta com letras douradas. A decisão foi depois tomada pela empresa de forma muito mais informada e por isso melhorada.