Opinião
Qual é, afinal, a cor da tecnologia?
É importante reconhecer que a massificação da tecnologia nem sempre é “verde” ou “limpa”. A pegada de carbono associada à produção e manutenção dos dispositivos digitais é considerável, e o aumento do lixo eletrónico pode representar uma ameaça ao meio ambiente.
No ISEG dedicámos a passada semana à sustentabilidade. Foram organizadas diversas iniciativas dinâmicas e educativas em torno das diferentes dimensões da sustentabilidade que nos deixaram reflexões profundas e novas ideias para o futuro, enquanto reforçámos a importância de adotar práticas mais sustentáveis em todos os aspetos da vida de cada um de nós.
A semana começou com a apresentação do relatório de sustentabilidade do ISEG, reafirmando o nosso compromisso com a transparência e a nossa melhoria contínua nesta dimensão. Em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa e a NTT DATA, foi lançado o prémio ISEG ESG 2025 e um guião para a organização de eventos sustentáveis. A formação Carbon Literacy ofereceu ferramentas práticas para calcular a pegada de carbono, tivemos a exibição e mesa-redonda sobre o documentário “Outgrow the System” e a oficina na minifloresta iniciou a primeira recolha de materiais para compostagem, promovendo um modelo mais circular. Contámos ainda com a participação da BCSD, da OIKOS, da AIESEG e da Coompass.
De entre os vários temas abordados, discutiu-se o papel da tecnologia para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sob diferentes perspetivas. Na era digital em que vivemos, a tecnologia tem um papel crítico para alcançarmos um futuro mais sustentável. Os ODS da ONU, estabelecidos na Agenda 2030, representam um plano ambicioso para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que todas as pessoas tenham paz e prosperidade. E o último relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) reconhece o papel fundamental das tecnologias para acelerar a ação climática sendo o desenvolvimento de tecnologia inovadora crucial para atingirmos a sua adoção generalizada.
Na academia, “tecnologia verde” e “sistemas de informação verdes”, são definições que se referem ao uso de tecnologia ambientalmente sustentável por um lado, e ao uso dos sistemas de informação para atingir os ODS por outro, convergindo para o termo “sustentabilidade digital”, que se refere ao uso de recursos e artefactos digitais para a melhoria do ambiente, da sociedade e do bem-estar económico. Alguns exemplos passam pelo uso da inteligência artificial (IA) e do Big Data para controlar e analisar dados ambientais; IoT e sensores inteligentes para detetar fogos precocemente, medir os níveis de poluição e de alterações climáticas em tempo real; pelas plataformas online e aplicações móveis que permitem, de certo modo, democratizar o acesso ao conhecimento e a bens e serviços de pessoas que vivem em regiões mais remotas; pelo desenvolvimento e criação de produtos e serviços digitais. Todos estes são exemplos de como a tecnologia pode nos ajudar a gerir os recursos de forma mais eficiente e assim reduzir o desperdício.
No entanto, é importante reconhecer que a massificação da tecnologia nem sempre é “verde” ou “limpa”. A pegada de carbono associada à produção e manutenção dos dispositivos digitais é considerável, e o aumento do lixo eletrónico pode representar uma ameaça ao meio ambiente. Um artigo recente do MIT realça a importância de considerarmos as implicações ao nível social e ambiental da inteligência artificial generativa, que tem tido uma rápida expansão. Destaca que, embora a Gen-AI ofereça inúmeros benefícios, tais como avanços na eficiência computacional e na produtividade, o seu crescimento descontrolado pode representar riscos ambientais, tais como o aumento do consumo de eletricidade, das emissões de carbono e do consumo de alguns recursos naturais. O estudo enfatiza ainda a necessidade de um quadro de avaliação mais abrangente que equilibre os benefícios da Gen-AI com os seus custos sociais e ambientais, onde a colaboração de especialistas técnicos, entidades corporativas, legisladores e a sociedade civil são muito relevantes para promover o desenvolvimento sustentável e ético das tecnologias Gen-AI. A tecnologia é uma aliada importante para se alcançar os ODS, mas é fundamental que sua implementação seja feita de forma consciente e inclusiva.