Há meninos que nascem com um “dom”. Uns com uma capacidade extraordinária de se isolarem do ruído que todos os outros humanos fazem e que lhes chamam de “autistas”. Outros, com a capacidade de se concentrarem de modo que a visão não os perturbe e que os outros chamam de “pessoa cega”. Outros ainda, com a característica inata de concentrarem a bondade que o ser humano tem em si e que a irradiam de modo tão forte que os outros chamam de “pessoa portadora da Síndrome de Down”. Há os que se isolam de tal modo do som que os outros chamam de “pessoa surda”. E por aí...

Eles são diferentes porque têm uma característica que muitas pessoas não têm. Mas isso não os deve afastar do que se vive nas universidades de hoje. As universidades de hoje, como sempre foram, são ainda centros de desenvolvimento de conhecimento, de produção científica, geração de arte e cultura. Mas são também espaços de divulgação do que aí se cria, de desenvolvimento pessoal, de criação de novas relações interpessoais envelopadas nesse ambiente fascinante onde o palco deve ser ocupado pelos mais cintilantes, mas que plateias com quem quer assistir e interagir com esses atores. Onde essas pessoas que nascem e crescem “diferentes” podem ter acesso a essa rede de pessoas e de saberes de modo a aproveitá-lo à sua maneira: “diferente”.

Por isso, o ISEG, uma escola assente em valores em que a diversidade e a individualidade são, não só aceites, como cultivadas e inseridas no espírito mais alto da solidariedade e da entreajuda, não poderia não aplaudir e aceitar de imediato o repto que nos foi lançado pela Jerónimo Martins para com eles lançarmos o programa “Different Minds”.

No âmbito da nossa política de diversidade e inclusão, o Projeto “Different Minds” será uma das nossas apostas para o próximo ano letivo. Este projeto é um programa de formação, não conducente a grau académico, destinado a pessoas com Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental (DID) e tem como objetivo promover a integração e valorização de diferentes formas de pensar e aprender, aspirando ainda a potenciar a integração destes estudantes no mercado de trabalho. Mas é também objetivo do programa tocar todos os nossos estudantes regulares com esta iniciativa de modo a expô-los à diferença, educando-os para uma vida mais adaptada ao convívio com essa diferença.

O programa, que dará oportunidade a estudantes com DID de participarem no sistema público de ensino superior, tem a duração de dois anos, as unidades curriculares (UC) serão disponibilizadas pelos docentes do ISEG de forma voluntária e está previsto a existência de um mentor para cada UC frequentada por um estudante com DID. Cada estudante terá um plano individual de estudos construído com o apoio da coordenadora e da equipa do “Programa Incluir” da Jerónimo Martins, de forma a ir ao encontro dos interesses individuais de cada um e potenciar a aquisição de novas competências, empregabilidade e sucesso.

Vemos este projeto como uma forma de crescimento coletivo, em que todos aprendem com todos, com o objetivo de tornar real uma sociedade mais inclusiva e humana.