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A universidade é mais que a sala de aula

Os benefícios de um campus multicultural são múltiplos, tanto para os estudantes como para as instituições. Ao expormos os estudantes a diferentes culturas e práticas, estamos a prepará-los para enfrentarem os desafios de um mundo cada vez mais complexo e global.

Erasmus de Roterdão foi um humanista e teólogo holandês do século XVI, considerado um dos maiores pensadores da Renascença. Um dos primeiros académicos a viajar amplamente pela Europa, estudou em várias universidades e interagiu com intelectuais de diferentes países. Esta experiência teve um impacto profundo no seu pensamento, levando-o a desenvolver uma visão mais tolerante e inclusiva da religião e da cultura. É por isso que hoje existe um programa internacional de intercâmbio universitário com o seu nome. O caráter crítico da internacionalização no ensino e na investigação é hoje amplamente reconhecido.

 

A internacionalização das instituições de ensino superior pode ser alcançada por meio de uma variedade de estratégias. Têm especial relevância a cooperação entre universidades e o estabelecimento de centros de formação e investigação de referência com capacidade de atração de talento. Os benefícios de um campus multicultural são múltiplos, tanto para os estudantes como para as instituições. Ao expormos os estudantes a diferentes culturas e práticas, estamos a prepará-los para enfrentarem os desafios de um mundo cada vez mais complexo e global.

 

São vários os países que têm investido neste objetivo. O Japão desenvolveu um ambicioso programa nas últimas décadas para atrair alunos internacionais e transformar cerca de trinta das suas universidades em instituições reconhecidas como de topo mundial. Tais medidas requerem lecionação em inglês, fixação de vagas para estudantes internacionais em todos os cursos e contratação de docentes estrangeiros. O rápido envelhecimento da população nipónica não é alheio a esta política. Por outro lado, Taiwan focou a sua atenção na internacionalização dos currículos logo nos ensinos primário e secundário, na esperança de isso trazer dividendos para o superior. Ambas as estratégias foram delineadas e executadas a nível nacional.

 

Em Portugal, o processo de internacionalização das escolas de Economia e Gestão tem sido definido por cada escola. O grau de sucesso é em geral positivo. Porém, como seria se tivéssemos uma estratégia nacional englobando as diferentes instituições? Uma abordagem comum poderia ser mais produtiva e relevante, com capacidade para elevar a reputação do ensino e da investigação no nosso país.

 

Três exemplos:

 

1) Os membros do corpo docente desempenham um papel central no processo de internacionalização da educação. É necessária uma política nacional de recrutamento, que consiga entrar num mercado de trabalho internacional muito competitivo.

 

2) A universidade não é só a sala de aula. A experiência começa nas residências, cantinas, instalações desportivas, atividades culturais, eventos sociais, indo até ao acompanhamento de carreiras, formação complementar, associações de alumni e muito mais. Novamente, a fórmula para o financiamento é a chave para tornarmos o sistema de ensino verdadeiramente internacional e excecional.


3) A internacionalização é unir nações, culturas e línguas, sem deixar de nos interessarmos pelas diferenças e as riquezas que daí advêm. É importante resistir à uniformização num único modelo curricular e numa única língua. Outros riscos surgem no horizonte como a mercantilização de programas, com consequência na qualidade da formação, e na perda de talentos. Há vantagem em lidarmos todos juntos com estes desafios.

 

A internacionalização não é um fim em si, mas um meio para um objetivo mais amplo: formar líderes do futuro, cidadãos do mundo, dotados não apenas de conhecimentos técnicos, mas também de uma sensibilidade intercultural que os tornará verdadeiros agentes de mudança global e da paz.

 

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