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O Sol já se pôs

Os dias de um "trader" fazem-no esquecer a realidade. As luzes verdes e vermelhas das cotações que transformam o monitor numa autêntica árvore de Natal levam-no para todos os lados do globo mas para muito longe do mundo real.

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O "bunker" em que o "trader" vive fá-lo abstrair das distracções, das tentações, fazendo-o focar nos gráficos, notícias e cotações. Mas, a cada dia que passa, aumenta o risco de perder a sensibilidade, de perder a emoção, de perder o ritmo das estações do ano. Ali não há frio, calor, nem sequer corre a brisa que nos faz fechar os olhos. Até quando será humano?

 

Acho curioso que agora todos falem de solidariedade e critiquem a actuação dos líderes europeus. É tão fácil criticar, dizer mal, apelar à solidariedade. Fica bem, especialmente quando colocado na nova montra da humanidade, o Facebook. Mas quantos de nós, no dia-a-dia, praticamos gestos de solidariedade. Poucos? Demasiado poucos. A hipocrisia e demagogia são palavras gastas. De tanto uso que lhes damos.

 

Hora de abertura da Bolsa. Hora de falar o presidente da Reserva Federal Americana. Hora da divulgação dos indicadores económicos norte-americanos. É este o relógio do "trader", sem ponteiros, sem o Sol que o guie. Com um ritmo muito próprio. Sem pontos de finais. Sem vírgulas. Apenas com o bater do coração ao ritmo do gráfico que os seus olhos seguem.

 

Direita ou esquerda? Uber ou taxistas? Messi ou Ronaldo? Não ter opinião sobre algo parece pecado, como se isso fosse sinónimo de não pensar, de não querer, de não viver. Vivemos num mundo dominado pelo preto ou branco. O cinzento carrega o peso da tristeza, mesmo que tantas vezes o branco seja demasiado claro e o preto demasiado escuro.

 

"Quando vires os teus olhos a verem-te, quando não souberes se tu és tu ou se o teu reflexo no espelho és tu, quando não conseguires distinguir-te de ti, olha para o fundo dessa pessoa que és e imagina o que aconteceria se todos soubessem aquilo que só tu sabes sobre ti."

 

José Luís Peixoto, as palavras contigo ganham sempre outro ritmo. Outra cor?

Vermelho. Vermelho. Verde. Vermelho. Vermelho. Tem sido o ritmo da Bolsa portuguesa nos últimos meses. Maçador. Tristonho. Desanimador. Há sempre a Bolsa americana para nos animar. Oooops, afinal o vermelho também tem preenchido esse ecrã e nem vale a pena olhar para Oriente onde o cenário é bem mais carregado.

 

A culpa será de Passos? De Obama? Da China? E lá está o "trader" hipnotizado pelo vermelho a tentar discutir política com base nas cores dos seus gráficos. Como se fossem eles que movessem o mundo e não o oposto. O vermelho fogo deprime-o.

E só quando as luzes do ecrã se apagam e sai à rua, percebe que o Sol já se pôs e que o Verão já lá vai.

Comente aqui o artigo de Ulisses Pereira

Nem Ulisses Pereira, nem os seus clientes, nem a DIF Brokers detêm posição sobre os activos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui


Analista Dif Brokers
ulisses.pereira@difbroker.com

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