Opinião
O maior erro dos investidores e outras questões
Adoro o "feedback" dos leitores. Nunca deixo um e-mail por ler e procuro a todos dar resposta.
Comente aqui o artigo de Ulisses Pereira
Ocasionalmente, selecciono as questões mais "sumarentas" para as responder num artigo e permitir que outros leitores tenham acesso a essas respostas. Por isso, hoje deixo a espuma dos dias de lado e mergulho nas perguntas dos leitores.
Qual é o maior erro que a generalidade dos investidores comete e que acaba por comprometer, decisivamente, o seu desempenho nos mercados financeiros?
Não cortar rapidamente as perdas costuma ser o erro fatal para a maioria dos investidores. Quando o mercado contraria as expectativas dos investidores, em vez de reconhecerem o erro e fecharem as suas posições, a maioria acaba por manter as suas posições em aberto, numa atitude de teimosia e que os faz começarem a viver mais da esperança do que da razão.
Não deixa de ser curioso que os investidores costumam fazer questão de desrespeitar, em toda a sua plenitude, a velha e sábia máxima que defende que se deve " cortar as perdas e deixar correr os ganhos". Ou seja, acabam não só por deixar correr as perdas como também cortam os ganhos, ansiosos por efectuarem mais-valias, desvalorizando o facto do mercado estar a correr na sua direcção, dando razão à posição que detinha.
Parece um erro básico e fácil de corrigir, mas a tendência natural do ser humano é contrariar esta regra. Quem a cumpre à risca, tem meio caminho andado para o sucesso nos mercados financeiros.
Devemos dar ordens com um preço definido ou "ao melhor"?
Esta é uma das questões que mais vezes me colocam e cuja resposta não é consensual. Raramente dou ordens com um preço definido, mas também apenas negoceio em instrumentos financeiros com bastante liquidez.
Na minha opinião, o tipo de ordem a dar depende sobretudo da liquidez desse mesmo mercado. Num mercado pouco líquido, uma ordem "ao melhor" pode ter consequências muito negativas, uma vez que a ordem pode ser realizada a um preço muito distante daquele que a acção está a realizar naquele instante. Imaginem o que é darem uma ordem de compra "ao melhor" e, por haver muito poucas acções à venda, irem comprar algumas acções 10% acima do preço a que a acção estava a cotar no momento em que deram a ordem.
Contudo, nos mercados mais líquidos, eu privilegio as ordens dadas "ao melhor", mas isso depende muito do tipo de estratégia que cada investidor adopta. Quando dava os primeiros passos nos mercados, geralmente dava sempre ordens com preço definido, tentando poupar alguns tostões (na altura, os cêntimos ainda eram uma miragem). Contudo, acontecia frequentemente falhar entradas por esses escassos centavos e assistir de fora, bastante enervado, às subidas dessas acções. O mesmo se passava com as saídas das posições, onde falhava as vendas por uma unha negra e depois a acção perdia a força e eu ficava agarrado a esses títulos.
Por isso, hoje em dia, quando quero entrar ou sair de um papel faço-o sem hesitações, não pensando sequer na hipótese de falhar um negócio por causa de uns cêntimos. Mas isto aplica-se a mim que apenas invisto em instrumentos financeiros muito líquidos e que a minha estratégia assenta numa base de "position trading". Se eu fosse um "daytrading" não poderia dar a mesma resposta, pois cada cêntimo nas dezenas de negócios que um "daytrader" efectua por dia significa uma percentagem muito importante dos seus lucros.
"Nunca deixe um ganho transformar-se em perda" é uma das regras que refere frequentemente. Mas o objectivo não é sempre não perder dinheiro, independentemente de se começar a ganhar ou não?
É evidente que o primeiro objectivo em Bolsa é não perder dinheiro, seja em que circunstância for. Contudo, há que ter a lucidez necessária para perceber que algumas vezes se vai perder. Mas quando essas perdas surgem depois desse negócio estar a ser positivo, as consequências vão muito além do mero prejuízo financeiro.
Psicologicamente, sofre-se um desgaste tremendo ao assistir-se a essa reviravolta e quase sempre isso acaba por ter consequências muito nefastas nos futuros negócios, pois a confiança do investidor (factor que considero fundamental para o sucesso nos mercados financeiros) é profundamente abalada por esta situação.
Talvez no plano teórico, não seja facilmente perceptível a importância desta regra, mas quem negoceia regularmente nos mercados e já passou por esta situação, sabe bem como é complicado superar estas situações em que, de um momento para o outro, se passa de uma confiança enorme nas nossas capacidades para uma sensação de falhanço.
É por tudo isto que considero fundamental que, quando um negócio já apresente um ganho razoável, se coloque um "stop" pelo menos ao preço de entrada, para que seja impossível perder-se dinheiro naquele negócio. É a forma de assegurar não só os ganhos mas também a confiança necessária para seguir em frente.
Gostaria de saber qual é uma boa rentabilidade anual conseguida por um investidor. Tudo o que for abaixo dos 30% por ano poderá considerar-se um mau desempenho?
Pessoalmente, defendo que um "trader" que consegue valorizar a sua carteira, consistentemente, 30% ao ano, é um "top trader" e deve ter encontrado a actividade certa. Claro que qualquer investidor pode ter anos em que tenha valorizações superiores a 100%, mas de que lhe serve isso se a seguir está sujeito a ter dois anos com desvalorizações na casa dos 50%? Fazer muito dinheiro num ano ocasional é fácil, mas fazer algum dinheiro consistentemente ao longo de vários anos é já muito mais complicado e garantia de sucesso nos mercados.
30% ao ano parece-lhe pouco? Vamos fazer contas: imagine que começa com 10 mil euros e valoriza a sua carteira 30% ao ano, reinvestindo sempre as mais valias, durante 15 anos. No final desse ano, a sua carteira teria o valor de mais de 500 mil euros! Elucidativo...
Em suma, se alguém lhe disser que consegue rentabilizar a sua carteira em 60 ou 70% ao ano, desconfie. Ou tem à sua frente o supra-sumo do mercado ou alguém que negoceia há muito pouco tempo.
Ocasionalmente, selecciono as questões mais "sumarentas" para as responder num artigo e permitir que outros leitores tenham acesso a essas respostas. Por isso, hoje deixo a espuma dos dias de lado e mergulho nas perguntas dos leitores.
Não cortar rapidamente as perdas costuma ser o erro fatal para a maioria dos investidores. Quando o mercado contraria as expectativas dos investidores, em vez de reconhecerem o erro e fecharem as suas posições, a maioria acaba por manter as suas posições em aberto, numa atitude de teimosia e que os faz começarem a viver mais da esperança do que da razão.
Não deixa de ser curioso que os investidores costumam fazer questão de desrespeitar, em toda a sua plenitude, a velha e sábia máxima que defende que se deve " cortar as perdas e deixar correr os ganhos". Ou seja, acabam não só por deixar correr as perdas como também cortam os ganhos, ansiosos por efectuarem mais-valias, desvalorizando o facto do mercado estar a correr na sua direcção, dando razão à posição que detinha.
Parece um erro básico e fácil de corrigir, mas a tendência natural do ser humano é contrariar esta regra. Quem a cumpre à risca, tem meio caminho andado para o sucesso nos mercados financeiros.
Devemos dar ordens com um preço definido ou "ao melhor"?
Esta é uma das questões que mais vezes me colocam e cuja resposta não é consensual. Raramente dou ordens com um preço definido, mas também apenas negoceio em instrumentos financeiros com bastante liquidez.
Na minha opinião, o tipo de ordem a dar depende sobretudo da liquidez desse mesmo mercado. Num mercado pouco líquido, uma ordem "ao melhor" pode ter consequências muito negativas, uma vez que a ordem pode ser realizada a um preço muito distante daquele que a acção está a realizar naquele instante. Imaginem o que é darem uma ordem de compra "ao melhor" e, por haver muito poucas acções à venda, irem comprar algumas acções 10% acima do preço a que a acção estava a cotar no momento em que deram a ordem.
Contudo, nos mercados mais líquidos, eu privilegio as ordens dadas "ao melhor", mas isso depende muito do tipo de estratégia que cada investidor adopta. Quando dava os primeiros passos nos mercados, geralmente dava sempre ordens com preço definido, tentando poupar alguns tostões (na altura, os cêntimos ainda eram uma miragem). Contudo, acontecia frequentemente falhar entradas por esses escassos centavos e assistir de fora, bastante enervado, às subidas dessas acções. O mesmo se passava com as saídas das posições, onde falhava as vendas por uma unha negra e depois a acção perdia a força e eu ficava agarrado a esses títulos.
Por isso, hoje em dia, quando quero entrar ou sair de um papel faço-o sem hesitações, não pensando sequer na hipótese de falhar um negócio por causa de uns cêntimos. Mas isto aplica-se a mim que apenas invisto em instrumentos financeiros muito líquidos e que a minha estratégia assenta numa base de "position trading". Se eu fosse um "daytrading" não poderia dar a mesma resposta, pois cada cêntimo nas dezenas de negócios que um "daytrader" efectua por dia significa uma percentagem muito importante dos seus lucros.
"Nunca deixe um ganho transformar-se em perda" é uma das regras que refere frequentemente. Mas o objectivo não é sempre não perder dinheiro, independentemente de se começar a ganhar ou não?
É evidente que o primeiro objectivo em Bolsa é não perder dinheiro, seja em que circunstância for. Contudo, há que ter a lucidez necessária para perceber que algumas vezes se vai perder. Mas quando essas perdas surgem depois desse negócio estar a ser positivo, as consequências vão muito além do mero prejuízo financeiro.
Psicologicamente, sofre-se um desgaste tremendo ao assistir-se a essa reviravolta e quase sempre isso acaba por ter consequências muito nefastas nos futuros negócios, pois a confiança do investidor (factor que considero fundamental para o sucesso nos mercados financeiros) é profundamente abalada por esta situação.
Talvez no plano teórico, não seja facilmente perceptível a importância desta regra, mas quem negoceia regularmente nos mercados e já passou por esta situação, sabe bem como é complicado superar estas situações em que, de um momento para o outro, se passa de uma confiança enorme nas nossas capacidades para uma sensação de falhanço.
É por tudo isto que considero fundamental que, quando um negócio já apresente um ganho razoável, se coloque um "stop" pelo menos ao preço de entrada, para que seja impossível perder-se dinheiro naquele negócio. É a forma de assegurar não só os ganhos mas também a confiança necessária para seguir em frente.
Gostaria de saber qual é uma boa rentabilidade anual conseguida por um investidor. Tudo o que for abaixo dos 30% por ano poderá considerar-se um mau desempenho?
Pessoalmente, defendo que um "trader" que consegue valorizar a sua carteira, consistentemente, 30% ao ano, é um "top trader" e deve ter encontrado a actividade certa. Claro que qualquer investidor pode ter anos em que tenha valorizações superiores a 100%, mas de que lhe serve isso se a seguir está sujeito a ter dois anos com desvalorizações na casa dos 50%? Fazer muito dinheiro num ano ocasional é fácil, mas fazer algum dinheiro consistentemente ao longo de vários anos é já muito mais complicado e garantia de sucesso nos mercados.
30% ao ano parece-lhe pouco? Vamos fazer contas: imagine que começa com 10 mil euros e valoriza a sua carteira 30% ao ano, reinvestindo sempre as mais valias, durante 15 anos. No final desse ano, a sua carteira teria o valor de mais de 500 mil euros! Elucidativo...
Em suma, se alguém lhe disser que consegue rentabilizar a sua carteira em 60 ou 70% ao ano, desconfie. Ou tem à sua frente o supra-sumo do mercado ou alguém que negoceia há muito pouco tempo.
Nem Ulisses Pereira, nem os seus clientes, nem a DIF Brokers detêm posição sobre os activos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui
Analista Dif Brokers
ulisses.pereira@difbroker.com
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