Opinião
"Reestruturação - qual a sua importância? Que modelo futuro?"
As fronteiras do modelo tradicional de reestruturação têm sido ao longo das duas últimas décadas desafiadas por constantes alterações no ciclo económico, no perfil dos consumidores e na dinâmica empresarial.
A transição para uma realidade crescentemente volátil, incerta, complexa e ambígua coloca hoje novos desafios à reestruturação empresarial.
Neste contexto, a Roland Berger perspectiva o reforço da importância da reestruturação e o seu alinhamento às melhores práticas de "private equity".
"Business as usual?" - menor continuidade do negócio
A crescente volatilidade dos mercados e a exposição das empresas a riscos geopolíticos têm resultado na destruição do conceito de "business as usual", com impacto sobre:
1. Consistência das decisões de gestão - resultado das decisões é mais imprevisível e potencialmente inconsistente com a estratégia e o posicionamento-alvo das empresas no mercado;
2. Gestão de risco e planeamento - avaliação de interdependências, análise de risco e planeamento contingencial assumem uma importância reforçada;
3. Alinhamento de incentivos - confiança e alinhamento de incentivos entre a empresa e os seus "stakeholders" crescem em importância;
4. Gestão corrente - pressupostos de estabilização do negócio perdem aderência à realidade, reforçando o papel da gestão corrente.
As necessidades de reestruturação assumem por isso um carácter mais estrutural e regular, e exigem um maior enfoque no acompanhamento do negócio e flexibilidade na implementação.
Desafios à reestruturação - maior complexidade dos processos
Os processos de reestruturação estão hoje a ser alvo de alterações profundas, geradas pelo aumento da complexidade dos modelos de gestão empresarial, que são forçados a endereçar problemas com uma natureza pluridimensional.
Em particular, destacam-se cinco macrotendências com impacto sobre o modelo de reestruturação:
1. Importância crescente da estratégia - 65% das necessidades de ajustamento ao negócio incidem hoje sobre questões estratégicas;
2. Complexidade da estrutura de "stakeholders" - número crescente de "stakeholders" reforça a necessidade de uma estrutura de gestão sólida e de um modelo de governo adequado;
3. Complexidade da estrutura de capitais - conceito de "banco principal" está a ser substituído por uma maior dispersão das fontes de financiamento e do risco;
4. "Churn" nas funções de "top management" - duração média dos gestores de topo em funções diminuiu de 8,1 (2002) para 6,8 (2013) anos;
5. Complexidade dos projectos a implementar - âmbito e complexidade crescente dos projectos reforça a importância da implementação e das ferramentas de monitorização.
Evolução do modelode reestruturação
A Roland Berger analisou num estudo recente um número alargado de reestruturações, tendo identificado um conjunto de melhores práticas funcionais. A análise concluiu que o sucesso de processos de reestruturação como os do BNP Paribas, Tata Motors ou Hapag-Lloyd esteve associado ao seu alinhamento com práticas seguidas em "private equity":
1. Empreendedorismo - processos iniciam-se com a revisão do posicionamento-alvo da empresa no mercado e a análise da capacidade do negócio para cumprir os seus requisitos. O alinhamento do conceito estratégico determinará o enfoque do processo de reestruturação, a metodologia a adoptar e a fase de aceleração da implementação;
2. Parceria - processos de reestruturação são geridos num modelo de parceria entre a empresa e o parceiro de reestruturação (consultor ou fundo de "private equity"), assentando num acompanhamento permanente do negócio. A responsabilidade pelos resultados da implementação e pela gestão da mudança é partilhada entre os parceiros;
3. Personalização - metodologias a implementar são adaptadas em função da realidade da empresa a reestruturar, devendo suportar o realinhamento estratégico da empresa, a transição para uma posição financeira sólida (balanço saudável e estrutura de financiamento robusta) e a optimização do modelo operacional.
Na perspectiva da Roland Berger, o contexto actual de mercado coloca às empresas portuguesas, nos diversos sectores de actividade, desafios crescentes (estratégicos, operacionais e financeiros) com impacto sobre o seu negócio.
A Roland Berger acredita que a reestruturação assumirá um papel crucial no crescimento e sustentabilidade das empresas portuguesas.
A menor continuidade do negócio e a maior complexidade dos processos de reestruturação deverão ainda acelerar o alinhamento dos modelos a implementar com as melhores práticas identificadas.
Roland Berger Strategy Consultants