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11 de Agosto de 2016 às 00:01

"Different Levels"

Estar parado horas em fronteiras, para nós, cidadãos da União Europeia, é algo que pertence a outro tempo de memórias já muito distantes.

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Gosto de voltar a falar da União Europeia (UE) quando atravessa uma crise que é conhecida de todos. Sabemos que há razões próprias ligadas com a história dos conflitos nos Balcãs e com a história dos diferentes povos que estão na base de cada um dos Estados para justificar diferenças. Mas, quem circule pela Bósnia-Herzegovina, pela Eslovénia, pela Croácia e pelo Montenegro distingue logo quais são os países que pertencem à União Europeia. Para já, os que pertencem à UE ostentam, por vários lados e logo nas suas fronteiras, a bandeira do seu país e a da própria União. E aquilo que se sente à partida é muito maior segurança, o sentimento de fazer parte de um espaço comum, protegido ao mais alto nível e que se preocupa com os direitos fundamentais. Todo o ambiente que se respira é muito diferente. E é logo diferente nesse pequeno grande pormenor das fronteiras. Estar parado horas em fronteiras, para nós, cidadãos da União Europeia, é algo que pertence a outro tempo de memórias já muito distantes. Repito: é um pequeno grande detalhe, mas é uma sensação muito forte da perda de um direito e de uma liberdade.

 

Mas, além das fronteiras, como aqui existem para a Bósnia-Herzegovina ou para o Montenegro, salta à vista de todos, principalmente, a questão do desenvolvimento. Porque o ponto é muito simples: sítios com interesse turístico há muitos e variados, o Montenegro tem-nos e a Bósnia também os tem, só que a diferença é que não têm dinheiro que chegue para fazer as infraestruturas e os equipamentos que potenciem as caraterísticas naturais de cada região.  

 

Podemos fazer muitas críticas ao que se tem passado nos últimos anos com o projeto político da UE e até às consequências das orientações económicas e financeiras vigentes na Zona Euro. Não falo aqui na questão económica, embora ela seja muito importante, mas pertencer à UE é de facto um luxo face a outras regiões do mundo e até a algumas regiões da própria Europa.

Nestes milhares de quilómetros que tenho feito, nestas semanas, tenho encontrado gente de todo o lado, de todas as idades e principalmente juventude, para saberem exatamente em que mundo vivem. Conhecer estas diferenças, poder comparar, é muito importante para decidir bem.

 

Só um aspeto concreto para exemplificar aquilo que pode ser comparado. A Croácia tem cidades com magníficos centros históricos e com forte apelo turístico, mas o modo como estão organizados esses mesmos centros e o respetivo aproveitamento para os tempos de hoje, comparado com o que se passa nos centros ou bairros históricos das nossas cidades, merece análise e ponderação. É por isso também, só a título de exemplo, que as opções que foram feitas em 2002, 2003 e 2004 de fechar bairros históricos de Lisboa ao trânsito não podem ser afrouxadas como, por vezes, vejo nas minhas caminhadas. Porque só assim esses mesmos centros e bairros podem ser verdadeiramente potenciados ao nível das expetativas de quem nos visita e de todos nós, portugueses. E isto fez-me lembrar um quadro que tenho em minha casa, que comprei precisamente nessa altura durante uma viagem à Estónia. É de um pintor chamado Navitrolla e o quadro chama-se "Different Levels", que retrata girafas de diferentes alturas a comerem as suas refeições nas folhas das árvores. A vida é mesmo assim, porque como o povo costuma dizer, colhe-se aquilo que se semeia.

 

Advogado

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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