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02 de Agosto de 2018 às 22:12

Alheamento incompreensível

Somos países que se dizem irmãos, pertencemos à mesma comunidade, a CPLP, falamos a mesma língua... E as eleições são daqui a dois meses e em Portugal não se fala nada sobre aquilo que lá se passa.

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As eleições presidenciais no Brasil terão a sua primeira volta já no próximo dia 7 de outubro. A segunda será a 28 do mesmo mês.

 

Quando há eleições nos Estados Unidos da América, Portugal segue com toda a atenção e até meses antes. Segue também, com interesse, eleições em França, no Reino Unido, em Espanha e até em Itália. Quanto ao Brasil, até hoje, não ligou nada ao processo eleitoral. Ligou ao tema da detenção de Lula, mas porque é Lula e por estar a contas com a Justiça. De eleições, nada.

 

Quantos portugueses já terão ouvido falar, por exemplo, de Jair Bolsonaro? E de Gerardo Alckmin? Pois - fora o caso de Lula - são os que estão entre os mais bem colocados nas sondagens sobre as presidenciais. Bolsonaro é mesmo o mais bem colocado no caso de Lula da Silva ser impedido de concorrer. Marina da Silva e Ciro Gomes estão entre os dois nomes referidos, em segundo e terceiro com resultados à volta de dez por cento.

 

Ora, o Brasil é um dos maiores países do mundo, com 200 milhões de habitantes. Os EUA têm cerca de 320; a Rússia, 140; o Reino Unido, 65; a Alemanha, 82 milhões. Repito: o Brasil tem cerca de 200 milhões, talvez um pouco mais, quase 210. Muitos milhares de brasileiros vivem em Portugal, muito milhares de portugueses vivem no Brasil. Somos países que se dizem irmãos, pertencemos à mesma comunidade, a CPLP, falamos a mesma língua... E as eleições são daqui a dois meses e em Portugal não se fala nada sobre aquilo que lá se passa.

 

Este mês de agosto é já aquele em que os partidos realizam convenções para oficializarem o apoio aos respetivos candidatos, a Presidente e a vice-presidente. Além disso, nos mesmos dias de outubro, os brasileiros irão eleger os seus deputados e os senadores, em ambos os casos, quer os estaduais quer os federais.

 

A dois meses de eleições nos EUA, todos os dias temos reportagens sobre comícios dos principais candidatos, comentários, análises. E, na devida altura, transmitem os vários debates entre os dois  que são apoiados pelos dois grandes partidos. Sou capaz de acertar se prognosticar que os principais debates nas eleições brasileiras não terão nem pouco mais ou menos a mesma atenção. Está bem que os EUA são muito importantes para o mundo, mas o Brasil é muito importante para nós, Portugal. Este é um tempo fundamental para a democracia e para a economia do Brasil, depois destes anos que arrasaram o sistema político brasileiro, com escândalos atrás de escândalos.

 

Já aqui escrevi que este é um dos maiores défices da vida comunitária nacional: a pouca, muito pouca informação que temos sobre o que se passa para além das nossas fronteiras, nomeadamente nos temas importantes. Podemos saber tudo sobre futebol, alguma coisa sobre outros desportos, muito sobre crimes e outras desgraças mas, infelizmente, pouco mais.

 

Para podermos decidir com fundamento sobre o que se passa em Portugal, devemos conhecer o que acontece com os outros. É uma questão de civilização, de formação, de educação.

Advogado

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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