Opinião
Será a Weduc o próximo Facebook?
Quando temos uma ideia, não devemos pensar que ela é extraordinária só porque nos lembrámos dela.
Aqueles que acompanham regularmente os meus artigos sabem que ser empreendedor implica muitos sacrifícios e, acima de tudo, muita resistência. Foi isso que fui saber junto de Paulo Mateus e Pedro Barros, os fundadores da Weduc, para vos dar a conhecer mais um caso real no mundo do empreendedorismo.
A Weduc é uma rede social que liga escolas a pais e professores a alunos, partilhando mensagens, fotos, vídeos, avaliações, boas práticas e ligações. É uma espécie de Facebook, mas dedicado à educação.
Na era das redes sociais e da informação digital, Paulo e Pedro apostam forte nesta nova rede e deixam para traz três quartos do seu ordenado na conquista do seu sonho. Foi em 2009 que tudo começou com a primeira linha de código. Ambos acharam que era uma necessidade que tinham e que queriam ver colmatada. Foi desta ideia a dois que o projecto ganhou estrutura, em 2010, com o lançamento do "site" www.weduc.com onde se pode registar como encargado de educação, responsável de escola curricular, responsável de escola de actividades ou outra entidade, ou ainda membro associativo.
Porque a rede é segura, a Weduc valida as escolas, antes de estas terem acesso a todas as funcionalidades do "site", e a escola valida os pais. É uma diferença valiosa perante as outras redes sociais, que hoje preocupa pais em todo o mundo pela falta de segurança e invasão de privacidade.
Como também tenho referido nos meus artigos, quando temos uma ideia não devemos pensar que ela é extraordinária só porque nos lembrámos dela. Há que validá-la primeiro, no mercado, com os meios que temos ao nosso alcance. Foi isso que Paulo e Pedro fizeram. Correram o país e visitaram cerca de 600 escolas em dois anos. Um estudo próprio e vivido pelos promotores que são, agora, empreendedores pela primeira vez.
Foi com a mesma garra que investiram no projecto, através de capitais próprios e investimento de amigos e família que, numa fase inicial, ascendeu aos 200 mil euros. Continuando a lutar por aquilo em que acreditavam, mais tarde conseguiram cativar outros investidores, alcançando mais do que o dobro alcançado na primeira angariação de capital. Mas foi em Dezembro passado que, com trabalho árduo e o sucesso que obtiveram na angariação de capital anterior (uma boa garantia para investidores institucionais), que conseguiram iniciar o processo de angariação de capital com a Espirito Santo Ventures (ESV) e a Busy Angels (BA) que, juntas, apostaram um milhão de euros na Weduc ao fim de um ano de negociações.
A entrada da ESV e da BA no capital da Weduc foi crucial para dar o grande salto, permitindo assim disponibilizar o projecto sem custos aos utilizadores finais. Esse é o principal factor transformador que irá catalizar a expansão e internacionalização da empresa. Como devem recordar, outro dos pontos críticos nas novas ideias é o modelo de negócio. Nesta, não foi excepção, sofrendo alterações ao longo do tempo. A rede social iniciou-se com o modelo pago através de um valor por aluno (necessidade típica de receita nas "start-ups" que às vezes leva a modelos de negócio insustentáveis).
Com a entrada da ESV e BA, foi possível rectificar o modelo passando a Weduc a ser de uso gratuito, como todas as outras redes sociais, alcançando as suas receitas na publicidade de prestadores de serviços nos ambientes escolares como podem ser os transportes escolares, campos de férias ou festas para crianças. No entanto, ainda existe um modelo "premium" para os utilizadores mais exigentes, com um custo anual por aluno.
A capacidade de investir em comunicação e de abordar estruturadamente outros mercados, com presença própria e/ou parceiros locais, também só será possível com este "round" de investimento da ESV e BA, afirmam os empreendedores.
Mas, sendo este um sonho destes jovens empreendedores, seria possível abdicarem da maioria do capital da empresa para conseguirem ir mais longe? Esta é sempre a questão que mais resistência oferece aos empreendedores, pois querem viver o seu sonho na sua plenitude e dificilmente querem perder a maioria da empresa. No entanto, não foi o caso destes empreendedores, que decidiram ceder a sua participação maioritária aos novos investidores em troca de um futuro melhor para a empresa e para eles próprios.
Resta-me desejar ao Paulo e ao Pedro felicidades pela ideia, esperando que a Weduc e que seja um próximo Facebook, mas desta vez com origem em Portugal.
2. Passar da ideia à prática e tomar decisões tão radicais como prescindir de três quartos do vencimento são, muitas vezes, opções necessárias para se iniciar no mundo do empreendedorismo. Esteja preparado para o pior.
Envie para o "e-mail" jng@negocios.pt as suas questões, dúvidas ou experiências sobre "Será a Weduc o próximo Facebook?"
*Fundador e líder executivo da Zonadvanced - Grupo First