Opinião
Um bicho de costas largas
O investimento público não cria riqueza. Pode alimentar muita gente durante as obras e depois, nada, ficam os televisores e os carros. Quando é bem dirigido, infraestruturas necessárias, portos, comboios, etc. aumenta a competitividade das empresas.
A FRASE...
"Marcelo admite que pandemia afetou prevenção dos incêndios."
Negócios, 26 de julho de 2020
A ANÁLISE...
Bem-vindos ao "novo normal". O nosso sempre simpático PR já deu o mote, numa União Nacional para o "vai ficar tudo bem" que não lhe custe a reeleição. Se algo não correr bem, a culpa é da pandemia. Deduz-se que se correr bem, devemos agradecer ao nosso competente Governo. Nos fogos, funcionários fechados em casa, sem lay-off, não tiveram tempo de planear, e ir para o campo é apenas para os destemidos agricultores. Ou seja, é bem de ver que o covid-19 será um bicho com as costas muito largas. Sem grandes conversas de embalar, onde poderemos aferir a competência do Governo na gestão pós-crise é através da comparação com outros países, com a nossa dimensão e que passaram por crises semelhantes, como por exemplo a Grécia. Esperemos, para o bem de todos, que o nosso Governo seja melhor que o grego e que consiga aproveitar tanto dinheiro europeu para desenvolver o país. Maus exemplos houve muitos. D. Manuel usou os proveitos da pimenta para aumentar a corte de 40 para 600 avençados, faliu. D. João V criou monumentos e importou sedas e veludos. Foi-se o ouro, a miséria continuou. Nos últimos 20 anos recebemos 3,4 mil milhões de euros/anos, 1,8% do PIB. Foi bonita a festa, pá. A pobreza continua.
O investimento público não cria riqueza. Pode alimentar muita gente durante as obras e depois, nada, ficam os televisores e os carros. Quando é bem dirigido, infraestruturas necessárias, portos, comboios, etc. aumenta a competitividade das empresas. Só que depois é necessário capital e vontade para o investimento produtivo tirar partido dessa disponibilidade pública.
Em conclusão, para existir investimento produtivo é necessário capital, que não temos, e confiança no país e nas instituições. Ora não é com um Governo minoritário a convidar a extrema esquerda para um maior envolvimento na governação, apesar do disponível e sempre solícito Rui Rio, que vamos lá. Ainda têm a agenda na luta de classes, nos direitos dos trabalhadores e na sanha contra os "malandros" dos privados, e contra o lucro, a base financeira para o investimento.
Podemos investir em portos, se não organizarmos a estiva e tivermos empresas a exportar, serve para quê? Falta confiança e um Governo que assuma a sua fé na economia social de mercado, sem dirigismos inconsequentes a prazo. E mais respeito pela liberdade individual.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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