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13 de Maio de 2020 às 20:02

Medo

Temos de ter medo. Não do vírus que conseguimos prevenir, mas do que possa vir aí. Durante cinco anos a culpa de qualquer coisa era de Passos Coelho. Agora a culpa passará a ser da covid-19.

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A FRASE... 

 

"Estamos a fazer o contrário da austeridade"

 

Mário Centeno, ECO, 12 de maio

 

A ANÁLISE...

 

Fará amanhã 10 anos que Portugal está oficialmente em austeridade ou, enfaticamente, num "processo de ajustamento orçamental de eliminação do défice" por aumento dos impostos sobre os portugueses, e diminuição de despesas do Estado, correntes, investimento e cativações cegas. Foi no dia 15 de maio de 2010 que o ministro Teixeira dos Santos apresentou o seu plano de austeridade à Comissão Europeia, com cortes de despesa e aumento dos impostos de IRS, IRC e 1% no IVA. https://expresso.pt/economia/teixeira-dos-santos-apresenta-linhas-gerais-do-orcamento-e-pec-em-bruxelas=f571013. No dia 28 de maio de 2010 foi a vez de ir à Assembleia https://tvi24.iol.pt/economia/teixeira-dos-santos/ministro-das-financas-explica-austeridade-no-parlamento. Durante os próximos 10 anos esses aumentos continuariam.

 

Para comemorar, o ministro Mário Centeno mostra algum humor quando afirma que está a fazer o contrário da austeridade, ou seja, este ano irá aumentar o défice, generosamente.

 

Primeiro, não tem alternativa. A paragem da atividade económica diminui as receitas e aumenta as prestações sociais como o subsídio de desemprego ou o RSI. Apesar de o Governo se mostrar bastante avarento no apoio à economia, a pagar lay-off ou apoios o mais tarde possível, quando poderia aproveitar para pagar aos seus fornecedores a horas, injetando liquidez na economia... Só que tal como os gauleses tinham medo que o céu lhes caísse em cima da cabeça, este Governo tem medo da derrapagem das contas e ter de chamar a troika, o fantasma de Sócrates. Fará tudo para se fazer de morto e gastar o mínimo possível de dinheiro. Antes a economia do que arruinarem a carreira política… e até pode ser que não corra mal.

 

Segundo, se aumentar o défice é o contrário de austeridade, então diminuir o défice, o que tem feito, é austeridade, certo? Bem ajudado pelo primeiro-ministro, que rejeita austeridade em 2021 como se as contas, de receber sem trabalhar, fossem pagas por milagre e não pelos mesmos de sempre. Bem dizia Marx, primeiro o drama, depois a farsa…

 

E enquanto o Governo diz o que calha e lhe serve, a comunicação social embevecida e acrítica falta ao escrutínio e deita no lixo a objetividade, primeiro dever do jornalismo. Enquanto isso, comentadores de direita complexados, não conseguem fazer uma crítica ao Governo sem procurar defeitos numa direita-zombie.

 

Temos de ter medo. Não do vírus que conseguimos prevenir, mas do que possa vir aí. Durante cinco anos a culpa de qualquer coisa era de Passos Coelho. Agora a culpa passará a ser da covid-19. Umas costas largas para a incompetência, atropelos à liberdade dos portugueses, à contratação pública no combate à corrupção e ao controlo da economia por um Estado neototalitário com fome de poder e muitas redes de interesses…

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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