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15 de Janeiro de 2018 às 20:35

Ambição para lá do défice

Este governo e o anterior viveram obcecados e fizeram um bom trabalho, mas agora devia haver vida e ambição para além do défice…

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A FRASE...

 

"Portugueses valorizam mais a segurança laboral do que o salário."

 

Jornal de Negócios, 14 de Janeiro de 2018

A ANÁLISE...

 

Numa das cenas finais do filme Titanic, vêem-se os corpos dos náufragos, com os coletes devidamente vestidos a boiar no Oceano mortos de frio. Os ingleses chamam a essa morte, the sweet death, sente-se um torpor, uma vontade de dormir e morre-se.

 

O Governo tem sido para os portugueses o que o Atlântico Norte foi para os náufragos do Titanic. Após o desastre da troika tem sido competente em anestesiar e entorpecer os portugueses, resignados. Para onde foi a nossa ambição?

 

Depois da euforia da adesão à Europa e ao euro, um novo país feliz e próspero estava no horizonte. Tínhamos tudo para ser felizes exceto crescimento e produtividade. Depois veio o choque da realidade, do pântano e dos défices. Em frente ao abismo, Sócrates resolveu dar um passo em frente para um país tecnológico, moderno e hi-tech que nos faria levitar. Era largar os setores tradicionais e lançar novas Qimondas. Viu-se no que deu. Intervenção externa, Qimonda falida e salvos pelos setores tradicionais na exportação…

 

Hoje, finalmente já com as contas públicas equilibradas, tendo o nosso Ministro das Finanças sido premiado e promovido a um dos chefes da troika, qual é o nosso desígnio, a nossa ambição? Qual o propósito mobilizador que poderia motivar os portugueses? Reorganizar o Estado e as politicas públicas? Preparar Portugal para o futuro e para a globalização? E como e quais seriam os incentivos dados para os portugueses buscarem a formação necessária? Crescer mais que os países de Leste que produziam metade da riqueza e hoje nos estão a ultrapassar? Atingir os níveis de rendimento e salários espanhóis, que nos deveriam envergonhar e embaraçar?

 

Nada disso. Continuamos com as mesmas conversas, os mesmos lugares comuns, as promessas de boas intenções, mas o país não se move, nada é feito, um torpor… O mundo está em mudança acelerada, de conceitos, rendimentos e regras. Por cá temos uma das legislaturas menos ativas e reformistas que há memória, dominado por forças retrógradas e conservadoras que nada querem mudar de essencial, nem nunca se entenderiam como e o que seria essa mudança…

 

Este governo e o anterior viveram obcecados e fizeram um bom trabalho, mas agora devia haver vida e ambição para além do défice…

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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