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Opinião
06 de Junho de 2016 às 19:53

Não muda quem quer, muda quem sabe

Num exemplo de coerência e de responsabilidade, o PS desvinculou-se do documento que tinha pedido, negociado e assinado. E fê-lo em nome da sua oposição a uma maioria absoluta porque esta tinha uma estratégia de empobrecimento.

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A FRASE...

 

"Os portugueses não nos deram a maioria que pedimos. Mas não tínhamos o direito de negar aos portugueses  a clara maioria de mudança expressada nas urnas."

 

António Costa, XXI Congresso do PS,  3 de Junho de 2016 

 

A ANÁLISE...

 

Quando António Costa interpreta os resultados das eleições de 4 de Outubro, sabe que para integrar 18% no novo arco da governação (sem compromisso europeu) está a excluir 38% (com compromisso europeu). A "clara maioria de mudança" de 52% só tem 32% vinculados ao compromisso europeu, o que implica que a mudança que "não tem o direito de negar" é uma mudança de orientação nacionalista, de proteccionismo de mercado interno e de distribuição de rendas financiadas pelo Orçamento do Estado. Não poderá ser uma mudança orientada pela integração europeia e com uma estratégia de convergência no espaço europeu, porque não tem votos para isso. Como a escala do mercado português, se não tiver a amplificação e os apoios da integração europeia, não permite sustentar o nível de rendimentos já atingido pela sociedade portuguesa, o que António Costa e a sua clara maioria de mudança propõem é um empobrecimento sem precedente e irreversível.

 

António Costa sabe que em 2011, quando um ministro das Finanças, vários banqueiros e a força das coisas obrigaram a um pedido de auxílio financeiro externo por parte do Governo socialista em funções, vários quadros socialistas trabalharam com os técnicos das instituições externas o que veio a ser o "memorando de entendimento", onde se estabeleceram as políticas e as metas do ajustamento. Num exemplo de coerência e de responsabilidade, o PS desvinculou-se do documento que tinha pedido, negociado e assinado. E fê-lo em nome da sua oposição a uma maioria absoluta porque esta tinha uma estratégia de empobrecimento.

 

António Costa sabe, em 2016, que o destino do regime português se vai decidir na comparação entre estas duas estratégias de empobrecimento. Se souber isto, também sabe que não vai saber como mudar.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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