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Joaquim Aguiar 01 de Maio de 2019 às 18:45

Ilusões há muitas

A ordem mundial construída e regulada pelos Estados Unidos desmembra-se com a difusão das novas ilusões do nacional-populismo, que são o refúgio dos que perdem na competição na escala mundial.

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A FRASE...

 

"A classe política que governa e a inteligência que hegemoniza a opinião pública são mais amigas da ilusão do que da realidade."

 

Daniel Bessa, Expresso, 27 de Abril de 2019

 

A ANÁLISE...

 

Há a ilusão do poder: o exercício do poder conduz a situações em que as consequências das decisões geram resultados muito diferentes dos esperados. A pluralidade das intenções e dos objectivos condena ao fracasso os que acreditam que o exercício do poder é a imposição da sua vontade unilateral e descobrem, demasiado tarde, que o exercício do poder é a coordenação e mobilização das vontades dos outros para a concretização dos objectivos possíveis, nessas circunstâncias e com esses recursos. Há as ilusões do fim: antecedem o colapso de um regime político que pretende estender a sua continuidade para além do seu campo de possibilidades, desencadeando uma ruptura que destrói o que acumulou no passado e reduz o horizonte de construção do futuro. E há o fim das ilusões: é o que se vê no nosso presente.

 

A ordem mundial construída e regulada pelos Estados Unidos desmembra-se com a difusão das novas ilusões do nacional-populismo, que são o refúgio dos que perdem na competição na escala mundial. As sociedades dividem-se entre estratos sociais vencedores e estratos sociais perdedores - e sociedades polarizadas em campos inconciliáveis nem podem aspirar a ser poderes hegemónicos na escala mundial, nem podem construir o futuro, porque sempre que avançam começam a recuar. Os sistemas partidários são fragmentados pelas correntes do nacional-populismo, na esquerda (com o refúgio para os monopólios do Estado) e na direita (com o refúgio para os monopólios da nação e da raça ou da religião). A evolução demográfica obriga a reformular todos os dispositivos das políticas sociais, mas a polarização entre beneficiados e prejudicados impede que se reconheça a ilusão dos contratos sociais estabelecidos nas condições do passado que deixaram de existir, desaparecendo as garantias desses contratos. Os movimentos das populações, com as correntes migratórias em escala mundial, alimentam a ilusão das fronteiras e das muralhas, esquecendo que ou a modernização se desloca para onde estão as populações, ou as populações se deslocam para onde há modernização.

 

Ilusões há muitas, mas a realidade efectiva das coisas é sempre só uma.

 

Artigo está em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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