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Opinião
07 de Agosto de 2017 às 19:14

"Fake news, no news"

As notícias falsas e as provas de que não se prova fazem uma democracia falsa, a ditadura do culpado incógnito. 

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A FRASE...

 

"Não se prova que houve pressão dos governos sobre a administração da Caixa para concessão de créditos, mas também não se prova o contrário. Em suma, prova-se que não se prova, ou seja, coisa nenhuma."

 

João Duque, Expresso, 22 de Julho de 2017

 

A ANÁLISE...

 

Houve tempos em que não haver notícias era uma boa notícia, sinal de que se podia viver normalmente. Hoje, as notícias falsas são as piores notícias, porque não são notícias, são sombras criadas para impedir a identificação dos culpados. Perante uma acusação, pode-se acumular tantas versões diferentes sobre o que foi feito que se perde a esperança de esclarecer o que foi feito. Sabe-se que a culpa morre solteira, mas não se dá a devida importância ao facto de os filhos da culpa não poderem saber quem é o pai: instala-se a ideia de que o responsável poderá sempre fugir através das sombras que outros produzem para que continue incógnito.

 

Se não houver notícias porque todas as notícias são falsas - e se alguma for verdadeira é como se fosse falsa -, pode-se continuar a viver normalmente, como quando a boa notícia era não haver notícias. Organizar uma comissão parlamentar de inquérito para analisar acontecimentos ocorridos na Caixa Geral de Depósitos, com a participação de 17 deputados, com 32 reuniões e 850 horas de trabalho, com 19 audições a participantes ou observadores desses acontecimentos, pode ser um modo eficiente de produzir sombras para que tudo desapareça nas brumas da memória. Se todas as notícias forem falsas, prova-se que não se prova.

 

Este é o sinal de uma crise fatal na democracia. Quando o detentor do poder mente deliberada e ostensivamente, é porque quer produzir uma sombra onde a verdade fique para sempre escondida. Quando os procedimentos da democracia, como um inquérito parlamentar, são usados para provar que não se prova, entra-se no domínio do transcendente, que é onde os factos existem sem causa. Deixa de se poder cumprir o preceito democrático essencial de usar as eleições livres para afastar os que falham sem ter de recorrer à violência. As notícias falsas e as provas de que não se prova fazem uma democracia falsa, a ditadura do culpado incógnito. 

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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