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Opinião
18 de Abril de 2018 às 19:40

Cópias e coincidências

Nenhum dos três episódios de bancarrota iminente que Portugal viveu nas últimas quatro décadas foi uma surpresa ou apresentou dificuldades para a sua interpretação, tanto na sua formação como na sua resolução.

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A FRASE...

 

"Centeno quer matar a 'geringonça'? Quer. (…) Centeno já está noutra, os resultados portugueses que vier a obter dentro da ortodoxia do Eurogrupo destinam-se essencialmente a reforçá-lo nas suas novas funções."

 

José Pacheco Pereira, Público, 14 de Abril de 2018

 

A ANÁLISE...

 

Não será necessário recuar muito na memória para recordar os tempos em que as ideias políticas eram debatidas em função dos seus méritos e das suas condições de possibilidade, e não em função das hipotéticas intenções, expressas ou ocultas, dos seus autores. As intenções podem ser tão variadas quantos os protagonistas, mas o que conta para a avaliação das suas propostas não são os seus desejos, são os recursos que têm, os modelos que utilizam e as oposições e resistências que as suas propostas vão encontrar. Em tempos não muito distantes, debatiam-se ideias, programas e recursos. Hoje, pretende-se discutir protagonistas, como se estes pudessem existir na fantasia das redes sociais sem nunca terem de se confrontar com a realidade efectiva das coisas.

 

Nenhum dos três episódios de bancarrota iminente que Portugal viveu nas últimas quatro décadas foi uma surpresa ou apresentou dificuldades para a sua interpretação, tanto na sua formação como na sua resolução. Apesar disso, debateu-se com insistência o que seriam as motivações dos seus protagonistas. Discutiram-se pessoas, apenas para não se discutirem os factos. Mas quando se consideram o que são as posições actuais dos últimos ministros das Finanças, de Luís Campos e Cunha a Mário Centeno, passando por Fernando Teixeira dos Santos, Vítor Gaspar, Maria Luís Albuquerque, o que se verifica é que têm hoje posições semelhantes. Não se copiam uns aos outros, nem a sua convergência é um efeito de coincidências. São os factos que produzem as aproximações, porque quando os factos são evidentes, as ideias têm de se ajustar ao que as determina - a menos que se queira continuar nos imaginários das intenções.

 

Mário Centeno quer ser reconhecido na União Europeia? É óbvio e é necessário. É na União Europeia que estão os recursos de que Portugal necessita para financiar as suas dificuldades, seja na bancarrota, seja na selecção dos sectores para investimento que correspondam às nossas vantagens competitivas, seja para ganhar escala de mercado ou para dispor de um sistema de defesa com credibilidade. A União Europeia é o novo espaço nacional de referência e só nessa dimensão as ideias políticas têm relevância estratégica.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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