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Opinião
11 de Fevereiro de 2016 às 00:01

A democracia mágica

Portugal tem, agora, um problema com a democracia mágica, em que se formula um desejo e espera-se que a realidade se conforme ao desejado, sem precisar de escala e sem precisar de regulação.

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A FRASE...

 

"A Europa tem um conjunto de regras que aceitámos (bem ou mal), pelo que há negociações para estabelecer até que ponto o que apresentamos se coaduna com tais regras."

 

Henrique Monteiro, Expresso, 6 de Fevereiro de 2016

 

A ANÁLISE...

 

Portugal tem, historicamente, um problema de escala. Para preservar a sua independência na Península Ibérica, era preciso que aliados exteriores apoiassem essa vontade nacionalista. Para sustentar a sua população num mercado de pequena dimensão, era preciso concretizar uma estratégia de expansão que criasse uma escala imperial. Amputado da sua escala imperial com a descolonização em 1975, Portugal procurou na integração na Europa a compensação para essa perda de escala. Se falhar o objectivo de reconstituição de escala pela via da integração europeia, Portugal voltará ao seu ponto de origem histórico: sem escala para resistir aos diferenciais de potências na região ibérica e sem poder manter o nível de rendimentos que foi atingido quando ainda tinha escala e depois teve de ser financiado com recurso ao endividamento.

 

Portugal tem, historicamente, um problema de regulação. Estruturou um regime senhorial de poderes fracos que precisavam do apoio real para ganharem dimensão, e o poder real precisava da convergência desses poderes fracos para ganhar potência, recorrendo à coordenação de valores através da Igreja e à coordenação de forças através da instituição militar. A extinção dos grupos patrimoniais com as nacionalizações de 1975 fez do Estado o único centro patrimonial em Portugal. A concorrência entre grupos empresariais em função de estratégias de modernização foi substituída pela luta entre grupos de interesses corporativos que procuram apropriar os recursos do Estado para sustentar políticas públicas distributivas que os favoreçam. 

 

Portugal tem, agora, um problema com a democracia mágica, em que se formula um desejo e espera-se que a realidade se conforme ao desejado, sem precisar de escala e sem precisar de regulação.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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