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11 de Novembro de 2020 às 19:49

A democracia dividida

Ele [Trump] identifica os eleitores que podem ser mobilizados em função das suas inseguranças e angústias e oferece-lhes o programa político que promete realizar as suas expectativas. É o método da demagogia que produz fanáticos.

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A FRASE...

 

"Apesar das nossas diferenças políticas, Joe Biden é um bom homem que ganhou a oportunidade de liderar e unificar o nosso país."

George Bush, Jornal de Negócios, 9 de Novembro de 2020

 

A ANÁLISE...

 

Uma democracia dividida, como ficou a política americana depois das eleições presidenciais, revela a realidade de uma sociedade dividida que a política não soube liderar e unificar, antes agravou para satisfazer ambições pessoais e conveniências partidárias. Donald Trump não é um populista ou um nacionalista, ele apenas procurou identificar a fractura social onde teria a oportunidade de acentuar divisões e conflitos, para assim criar a base de apoio que fosse mobilizável para consolidar estes confrontos.

 

Trump inverteu a relação democrática normal, ele não é um representante, é um condutor. Ele não apresenta um programa político para mobilizar e orientar o eleitorado nas respostas aos problemas. Ele identifica os eleitores que podem ser mobilizados em função das suas inseguranças e angústias e oferece-lhes o programa político que promete realizar as suas expectativas. É o método da demagogia que produz fanáticos - agrava os problemas que promete resolver, mas assim mantém aberta a oportunidade de continuar a demagogia que reforça o fanatismo. A nova expressão do racismo na sociedade americana fundamenta-se na previsão de que, na próxima década, os brancos passarão a ser uma minoria étnica. O nacionalismo protecionista tem a sua origem na evidência da perda de competitividade da economia americana nas condições da globalização dos mercados. A rejeição das indicações da ciência em contexto de epidemia mundial é também uma propriedade da demagogia política: não pode haver uma autoridade acima da vontade política do líder.

 

Nada disto é novo (a demagogia e o poder pessoal são tão velhos como a política) ou inovador (o racismo e o nacionalismo populista são naturais sempre que um poder se sente ameaçado). Mas deve-se sublinhar a novidade constituída pelo talento dos analistas do KGB que recomendaram a Vladimir Putin o apoio à eleição de Trump: foi o melhor investimento em capacidade militar que alguma vez fizeram, melhor do que a Guerra das Estrelas de Reagan e do que o apoio americano à demolição da União Soviética por Gorbachev. 

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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