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Joaquim Aguiar 08 de Julho de 2019 às 19:25

A conjuntura na estrutura

Quem não vê, ou não se interessa por ver, o que acontece na profundidade da estrutura e apenas observa a conjuntura da actualidade vai ser surpreendido quando tiver de enfrentar uma nova crise financeira, porque desta vez será diferente.

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A FRASE...

 

"Um bom resultado (a continuação da redução do défice público) vê-se menorizado pelo regresso do défice externo, agravando o risco de exposição do nosso país a uma nova crise financeira." 

 

Daniel Bessa, Expresso, 6 de Julho de 2019

 

A ANÁLISE...

 

Os assuntos da actualidade, os incidentes conjunturais, têm uma visibilidade e, muitas vezes, uma novidade, que esconde o que ocorre em profundidade, nos alicerces estruturais.

O que se passa na União Europeia, com eleições para o Parlamento que mostraram a fragmentação dos sistemas partidários é um incidente conjuntural mas sinaliza uma instabilidade estrutural. É o efeito das intenções deliberadas de desmantelar o que tem estado a ser a construção de uma convergência de interesses estratégicos e de políticas comuns na Europa. O que se passa na relação dos Estados Unidos com a Europa, quando um presidente americano manifesta a sua hostilidade em relação a Estados europeus e em relação às instituições da União Europeia, ao mesmo tempo que se prepara para deixar de investir na NATO como primeiro passo para a desactivar e para a abandonar, satisfazendo assim o desejo de simetria de Vladimir Putin (se já não há Pacto de Varsóvia para que é que ainda há NATO?) pode ser apresentado como uma acumulação de incidentes conjunturais, mas anuncia uma ruptura estrutural.

 

Quem não vê, ou não se interessa por ver, o que acontece na profundidade da estrutura e apenas observa a conjuntura da actualidade vai ser surpreendido quando tiver de enfrentar uma nova crise financeira, porque desta vez será diferente. Desta vez não haverá redes de cooperação entre Estados, nem instituições europeias que possam coordenar as respostas à crise quando ela surgir. Desta vez não haverá relações multilaterais a orientar respostas conjuntas e recursos partilhados. Desta vez, volta-se ao estado de natureza nas relações internacionais, que é o que existe quando se desmantelam as instituições de cooperação e segurança: a guerra de todos contra todos porque todos vão querer ser grandes outras vez - e nenhum o conseguirá.

 

O que se passa na profundidade da estrutura indica que a conjuntura da redução do défice público é irrelevante quando a balança de transacções correntes se tornou negativa em 2018 e a balança comercial de bens e serviços deverá tornar-se negativa em 2019. Desta vez será diferente e Portugal não cuidou da estrutura.

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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