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06 de Fevereiro de 2020 às 09:20

Democracia pluralista

A democracia só pode ter um adjectivo: pluralista. Diversidade de partidos (para que os eleitores possam escolher entre diferentes políticas) e independência de eleitores (para que estes sejam livres nas suas escolhas e não autómatos de religiões, seitas ou tribos).

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A FRASE...

 

"Mais do que sectarismo há tribalismo, uma das patologias da sociedade e da política com mais efeitos nefastos na democracia."

José Pacheco Pereira, Público, 1 de Fevereiro de 2020

 

A ANÁLISE...

 

Quando tem de se adjectivar a democracia está-se perante um sinal seguro de crise política (porque os dirigentes partidários perderam a capacidade de fixar o seu eleitorado sem recorrerem a processos de segmentação e de radicalização como condição de mobilização e de disciplina) e de crise da sociedade (porque os grupos sociais perderam a percepção do modo como podem realizar e defender os seus interesses e precisam de recorrer a diferenciações e a discriminações que lhes digam como devem votar).

 

Há adjectivações da democracia que se conhecem há muito: democracia popular, democracia socialista, democracia liberal são modos de qualificar a democracia que estabelecem o que é a legitimidade dos resultados eleitorais. Uma democracia popular tem por finalidade (e condição de legitimidade) a protecção dos mais desfavorecidos, uma democracia socialista tem por fundamento a defesa das classes trabalhadoras e a garantia de que serão privilegiadas as políticas públicas concebidas e oferecidas pelo Estado e a democracia liberal terá como critério de identidade a afirmação das liberdades individuais com a redução dos privilégios (e dos custos) atribuídos às políticas públicas conduzidas pelos organismos do Estado. E já houve a democracia censitária: só podiam ser eleitores os que sabiam ler e escrever e tinham propriedades, pois só estes teriam o entendimento e a prudência indispensáveis para saber quem melhor defenderia o interesse público.

 

Há agora (nos Estados Unidos, em Inglaterra, na Itália, na Hungria e na Polónia) a democracia iliberal e o eleitorado tribalizado, que são formas de condução da guerra civil pela via da radicalização bipolarizada: não há racionalidade nem debate de alternativas nem, por isso mesmo, eleições livres em que as tribos se evangelizam em função do livro (e do pastor) constituinte de cada uma.

 

A democracia só pode ter um adjectivo: pluralista. Diversidade de partidos (para que os eleitores possam escolher entre diferentes políticas) e independência de eleitores (para que estes sejam livres nas suas escolhas e não autómatos de religiões, seitas ou tribos).

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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